Para colunista do Globo, "o pior dos mundos para a
democracia seria ficar provado o que os petistas chapas-brancas já dão
como certo nos blogs e noticiários oficiais: que o esquema seria uma
espécie de irrigação permanente de dinheiro ilegal para as campanhas
eleitorais dos tucanos desde o governo Covas"
247 – O colunista da Globo Merval Pereira
analisa o cenário das eleições de 2014 diante do escândalo do
propinoduto tucano e do processo do chamado mensalão que envolve
caciques do PT. Para ele, Marina Silva leva a melhor. Leia:
Agenda eleitoral
A denúncia de formação de um cartel nas licitações de obras do metrô
em São Paulo desde a gestão do governador Mario Covas colocou na agenda
eleitoral um obstáculo importante para o PSDB. Os principais caciques do
partido estão sendo atingidos pelas denúncias, que cobririam os
governos Covas, Alckmin e José Serra.
As duas principais seções regionais do partido terão que enfrentar
acusações de corrupção no decorrer da campanha, com o provável
julgamento da atuação do lobista Marcos Valério na eleição para
governador de Minas Gerais em 1998, que atinge diretamente o então
presidente do partido, hoje deputado federal Eduardo Azeredo, no que
ficou conhecido como o mensalão tucano .
A denúncia de cartel partiu da multinacional alemã Siemens, que teria
apresentado provas às autoridades do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), num acordo de leniência que preservaria a empresa de
punições. Por enquanto, a investigação se limita a manobras ilegais de
diversas empresas para evitar concorrências nas licitações, sem que o
aspecto criminal esteja em pauta, pois essa não é a função do Cade.
Mas o Ministério Público de São Paulo estaria oferecendo o benefício
da delação premiada para que funcionários da empresa alemã denunciem as
autoridades que teriam recebido propinas nesse período. É muito provável
que não tenha havido apenas combinações entre as empresas, como o
governador Geraldo Alckmin trata o assunto, mas corrupção envolvendo
secretários de Estado, presidentes e diretores de estatais.
O secretário de Transportes do governo Covas, Cláudio de Senna
Frederico, diz que não soube do cartel, mas fez um adendo preocupante:
Não me lembro de ter acontecido uma licitação, de fato, competitiva. Ele
tentou explicar que essas licitações envolvendo grandes obras e
empresas multinacionais geralmente são combinadas no mundo inteiro, mas
essa não é uma desculpa aceitável de uma autoridade pública.
O pior dos mundos para a democracia seria ficar provado o que os
petistas chapas-brancas já dão como certo nos blogs e noticiários
oficiais: que o esquema seria uma espécie de irrigação permanente de
dinheiro ilegal para as campanhas eleitorais dos tucanos desde o governo
Covas.
A reação do PSDB paulista, de acusar o Cade de estar atuando como
polícia política do governo petista, fazendo vazamentos seletivos do
processo para prejudicá-lo, é comum a todos os partidos denunciados, que
costumam posar de vítimas para acusar adversários de perseguição
política.
É evidente que as investigações contra os governos do PSDB são
prejudiciais ao partido, assim como o processo do mensalão prejudica o
PT. Não há dúvidas de que os vazamentos são ataques perversos, pois não
dão a ideia de um quadro geral e jogam a suspeita sem que seja possível
uma defesa coerente. Mas fazem parte do jogo democrático da livre
informação.
Os dois partidos disputarão as eleições de 2014 tendo que se defender
de acusações de corrupção, restando ao eleitor relativizar a
importância de cada um dos escândalos ou escolher uma alternativa. A
ex-ministra Marina Silva é quem mais uma vez se sairá melhor nesse
quesito, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem contra si
apenas escândalos regionais.
Nosferatu A respeito da coluna de domingo, O Estado-babá , o diretor
da Anvisa José Agenor Álvares da Silva esclarece que não se referiu com a
designação de Nosferatu a nenhum dos presentes à reunião da Diretoria
Colegiada realizada no dia 30 de julho passado , mas sim à indústria do
tabaco, que é o vetor da maior causa de mortes evitáveis no mundo e
responsável por mais de seis milhões de mortes por ano . O texto de seu
voto, na parte em questão, é o seguinte: Como enfrentar esse ´Nosferatu´
que sobrevive cada vez mais forte e viaja através dos tempos para
aportar no século XXI mais resoluto, mais pujante e com os caninos
afiados para enterrar na garganta da sociedade mundial e sugar a vida de
pessoas jovens e cheias de esperança por um futuro melhor?
Brasil 247
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