HAVANA (AFP) – Miguel Díaz-Canel Bermúdez, um engenheiro elétrico de
52 anos, subiu os escalões do poder em Cuba durante três décadas, até
estar na linha de frente da sucessão do presidente Raúl Castro. Alto e
de cabelos grisalhos, agrada por ser um “bom ouvinte” e “extremamente
simples”, de acordo com aqueles que o conhecem, e por parecer com o ator
Richard Gere, segundo as mulheres que se declaram admiradoras.
Nascido em 20 de abril de 1960, na província central de Villa Clara, é
o primeiro líder nascido depois do triunfo da Revolução de 1959 a
alcançar o cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, o
órgão executivo da ilha, presidido por Raúl Castro.
Outros líderes de sua geração, como Carlos Lage, Roberto Robaina e
Felipe Perez Roque, foram excluídos apesar de seguirem o mesmo caminho,
acusados por Fidel Castro de serem tentados pelo “mel do poder”, mas
Díaz-Canel sempre se manteve distante dos holofotes, transitando
inalterado por caminhos mais longos e mais complexos, mas mais seguros.
“Não é um novo rico ou um candidato improvisado”, declarou Raúl Castro
no domingo ao apresentá-lo publicamente ao novo cargo.
“Ele veio várias vezes à Casa da ALBA (em Havana) e senta-se no chão
da varanda, conversa com as pessoas como qualquer um, porque não segue
protocolo e gosta de ouvir as pessoas”, contou à AFP um
funcionário dessa instituição cultural. Esta receita o tornou o novo
número dois de Cuba: “ouvir as pessoas e ser sensível aos seus
problemas”, de acordo com uma reportagem na televisão.
Ele teve sua única experiência no serviço militar, quando cumpriu o
período obrigatório de três anos em unidades de mísseis antiaéreos,
depois de se formar na faculdade, em 1982.
Professor universitário em Villa Clara, líder da União de Jovens
Comunistas naquela província, chegou à liderança da juventude nacional
do Partido Comunista de Cuba (PCC) em 1993. Na década de 1980, cumpriu
uma “missão internacional” na Nicarágua, sob o primeiro governo
sandinista.
Em julho de 1994 retornou a Villa Clara como primeiro secretário do
PCC, a maior autoridade na província, no momento em que a crise
econômica provocada pelo fim da ajuda soviética afundava a ilha. Era
normal vê-lo passar de bicicleta pelas ruas, tentando incentivar não só a
economia, mas também a cultura. Naquele tempo, fez reviver o “Mejunje”,
um centro cultural “multifacetado e antidogmático”, que também era
frequentado por homossexuais num momento em que ainda havia preconceitos
oficiais contra eles.
Também promoveu neste período festivais de rock, estilo que ainda não
era politicamente bem visto na ilha. Dez anos depois, foi enviado como
chefe do Partido para Holguin (sudeste) para integrar o seleto gabinete
político do PCC. Com uma grande população, recursos naturais e locais
turísticos, Holguin também é uma das províncias mais complexas da ilha,
por isso seu trabalho foi opaco, segundo os moradores locais.
Em maio de 2009, Raúl Castro, que substituiu no poder a seu irmão
enfermo Fidel três anos antes, o chamou a Havana e foi nomeado ministro
do Ensino Superior, cargo que ocupou por três anos. Tem dois filhos de
seu primeiro casamento com Martha, e atualmente está casado com Lis
Cuesta, uma professora universitária de cultura cubana.
Em março de 2012, foi nomeado vice-presidente do Conselho de
Ministros para a Ciência, Educação, Esportes e Cultura, dando início a
uma atividade frenética nacional e internacional, muitas vezes na
companhia ou em nome de Raúl Castro. “Participa semanalmente na Comissão
Econômico Financeira e da Comissão do Birô Político para o controle da
implementação das resoluções do VI Congresso” do PCC, disse Raul Castro,
que o enviou como seu representante na posse presidencial no México e a
um importante ato em favor de Chávez, em Caracas.
Carta Capital
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