quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Miguel Díaz-Canel, o herdeiro político de Cuba

Por Carlos Batista
Miguel Diaz-Canel é parabenizado no domingo 24 após evento no Palácio de Convenções de Havana. O plano do regime é que ele assuma o poder a partir de 2018. Foto: Adalberto Roque / AFP
Miguel Diaz-Canel é parabenizado no domingo 24 após evento no Palácio de Convenções de Havana. O plano do regime é que ele assuma o poder a partir de 2018. Foto: Adalberto Roque / AFP

HAVANA (AFP) – Miguel Díaz-Canel Bermúdez, um engenheiro elétrico de 52 anos, subiu os escalões do poder em Cuba durante três décadas, até estar na linha de frente da sucessão do presidente Raúl Castro. Alto e de cabelos grisalhos, agrada por ser um “bom ouvinte” e “extremamente simples”, de acordo com aqueles que o conhecem, e por parecer com o ator Richard Gere, segundo as mulheres que se declaram admiradoras.
Nascido em 20 de abril de 1960, na província central de Villa Clara, é o primeiro líder nascido depois do triunfo da Revolução de 1959 a alcançar o cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, o órgão executivo da ilha, presidido por Raúl Castro.
Outros líderes de sua geração, como Carlos Lage, Roberto Robaina e Felipe Perez Roque, foram excluídos apesar de seguirem o mesmo caminho, acusados por Fidel Castro de serem tentados pelo “mel do poder”, mas Díaz-Canel sempre se manteve distante dos holofotes, transitando inalterado por caminhos mais longos e mais complexos, mas mais seguros. “Não é um novo rico ou um candidato improvisado”, declarou Raúl Castro no domingo ao apresentá-lo publicamente ao novo cargo.
“Ele veio várias vezes à Casa da ALBA (em Havana) e senta-se no chão da varanda, conversa com as pessoas como qualquer um, porque não segue protocolo e gosta de ouvir as pessoas”, contou à AFP um funcionário dessa instituição cultural. Esta receita o tornou o novo número dois de Cuba: “ouvir as pessoas e ser sensível aos seus problemas”, de acordo com uma reportagem na televisão.
Ele teve sua única experiência no serviço militar, quando cumpriu o período obrigatório de três anos em unidades de mísseis antiaéreos, depois de se formar na faculdade, em 1982.
Professor universitário em Villa Clara, líder da União de Jovens Comunistas naquela província, chegou à liderança da juventude nacional do Partido Comunista de Cuba (PCC) em 1993. Na década de 1980, cumpriu uma “missão internacional” na Nicarágua, sob o primeiro governo sandinista.
Em julho de 1994 retornou a Villa Clara como primeiro secretário do PCC, a maior autoridade na província, no momento em que a crise econômica provocada pelo fim da ajuda soviética afundava a ilha. Era normal vê-lo passar de bicicleta pelas ruas, tentando incentivar não só a economia, mas também a cultura. Naquele tempo, fez reviver o “Mejunje”, um centro cultural “multifacetado e antidogmático”, que também era frequentado por homossexuais num momento em que ainda havia preconceitos oficiais contra eles.
Também promoveu neste período festivais de rock, estilo que ainda não era politicamente bem visto na ilha. Dez anos depois, foi enviado como chefe do Partido para Holguin (sudeste) para integrar o seleto gabinete político do PCC. Com uma grande população, recursos naturais e locais turísticos, Holguin também é uma das províncias mais complexas da ilha, por isso seu trabalho foi opaco, segundo os moradores locais.
Em maio de 2009, Raúl Castro, que substituiu no poder a seu irmão enfermo Fidel três anos antes, o chamou a Havana e foi nomeado ministro do Ensino Superior, cargo que ocupou por três anos. Tem dois filhos de seu primeiro casamento com Martha, e atualmente está casado com Lis Cuesta, uma professora universitária de cultura cubana.
Em março de 2012, foi nomeado vice-presidente do Conselho de Ministros para a Ciência, Educação, Esportes e Cultura, dando início a uma atividade frenética nacional e internacional, muitas vezes na companhia ou em nome de Raúl Castro. “Participa semanalmente na Comissão Econômico Financeira e da Comissão do Birô Político para o controle da implementação das resoluções do VI Congresso” do PCC, disse Raul Castro, que o enviou como seu representante na posse presidencial no México e a um importante ato em favor de Chávez, em Caracas.


Carta Capital

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