A semana política teve a sua graça, com o teatrinho mambembe do
senador Aécio Neves e do governador pernambucano Eduardo Campos. O
primeiro pôs a cabeça para fora do armário, pressionado a fazer um
discurso que deveria projetá-lo à liderança da oposição. O outro quis
entrar no armário, para diminuir as atenções postas em sua alegada
pretensão presidencial.
Aécio Neves apoiou sua “denúncia” dos “13 erros” do governo petista
na ideia de que “quem governa o Brasil é a lógica da reeleição”. Muito
bem visto. Com toda a certeza, Dilma Rousseff não governa com a lógica
da derrota eleitoral. No que tem o exemplo deixado por todos os
políticos. E, em particular, por um certo Aécio Neves no governo de
Minas, que chegou até a espalhar no Estado placas de autopromoção em
obras devidas ao governo federal. A queixa federal não deu resultado,
mas a propaganda do então governador deu.
Desde o ano passado Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Guerra,
presidente do PSDB, insistiam com Aécio Neves, inclusive publicamente,
para assumir o encargo de falar ao país pela oposição. Insistência
duplamente justificada, por ser no partido o único possível candidato a
presidente e pela oportuna ausência de liderança na oposição. Mas, se os
erros e deficiências dos dois governos petistas fossem só os que Aécio
Neves encontrou, para afinal lançar a pretendida liderança
oposicionista, não haveria mesmo por que fazer oposição.
A crítica de maior alcance produzida por Aécio Neves, como uma
síntese de todas, ficou na afirmação de que “tivemos um biênio perdido”
(2011-12). Perdido por quem? Não por aqueles milhões que, não tendo
emprego antes e não sendo herdeiros, obtiveram trabalho, salário,
carteira assinada na redução do desemprego a históricos 4,4%. Também não
por aqueles que, dizem os jornais apesar de si mesmos, entraram na
classe média. Muito menos pelos resgatados de carências opressoras por
programas assistenciais, pelas cotas universitárias, as oportunidades de
consumo, e o mais que Aécio Neves sabe.
Eduardo Campos protegeu sua coerência com a criação de um neologismo:
reclamou de “se eleitorizar” tanto e tão cedo a política. E tratou de
se eleitorizar ali mesmo, em discurso para cerca de 200 prefeitos e sob
os brados de “presidente! presidente!”
Seu discurso se eleitorizando tinha que ser crítico ao governo, do
qual Eduardo Campos e o seu PSB são “aliados”: “A população está
preocupada com um Brasil que não cresceu como se esperava”. Só se fosse a
população pernambucana, mas nem ela, ao que se saiba fora de Pernambuco
e conste sobre o governo de Eduardo Campos, no mínimo mediano.
Preocupados aparentam estar uma corrente empresarial e os economistas
do mercado. Mas, se confrontados os seus ganhos e as tais preocupações,
pode-se desconfiar (ou mais do que isso) de uma onda bem arranjada para
extrair do governo sempre mais vantagens. E o fato é que o governo as
tem concedido sem cessar.
Aécio Neves e Eduardo Campos não foram suficientes para evitar a
atribuição a Lula e Dilma do lançamento da disputa sucessória. Para
isso, bastou que Lula brindasse os petistas, na sua festa, com um “vamos
reeleger Dilma!”. Quem precipitou essa historiada de sucessão foi, de
fato, a imprensa, a partir do blablablá de Lula candidato. Na realidade,
Aécio Neves enfraqueceu-se muito; Eduardo Campos alimenta o noticiário
criado em torno do seu nome, mas ainda não criou fatos que substituam a
artificialidade; e Dilma, como sua Minas, está onde sempre esteve. Ou
seja: a rigor, por ora nada de novo.
Viomundo
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