Marcos Coimbra
Ao
longo dos últimos 20 anos, a política brasileira, no fundamental, foi
regida pela polarização PT-PSDB. Desde 1994, todos os nossos presidentes
da República saíram de um dos dois partidos.
Seria razoável imaginar que essa polaridade será rompida na próxima
eleição? Parecem significativas as probabilidades de que o futuro
presidente venha de outra legenda? Quem acompanha os comentaristas e
analistas da “grande imprensa” deve acreditar que sim. De tanto ouvir
falar em terceiros ou quartos nomes, talvez suponha que o longo ciclo se
encerrará no próximo ano.
Não há, no entanto, sustentação para a hipótese, salvo especulações
despropositadas. O que quer dizer que teremos mais uma eleição que
culminará com o eleitorado dividido entre os candidatos de um ou outro
partido.
Isso, claro, não implica que não possamos ter várias candidaturas,
vindas de muitos partidos. Em 1994, foram oito. Em 1998, 12. Na primeira
eleição vencida pelo PT, seis candidatos disputaram. Na segunda, oito.
Em 2010, passaram a nove.
Em todas essas eleições, tivemos nomes que saíram “consagrados” das
urnas, saudados como fenômenos por conseguir desempenho considerado
surpreendente. Em 1994, o fato novo foi o pitoresco Enéas Carneiro, com
seus quase 7,5% dos votos válidos. Em 1998, foi Ciro Gomes, que beirou
os 11%. Na seguinte, Garotinho quase obtém 18%. Em 2006, Heloísa Helena
chegou a 8%. Na mais recente, Marina Silva arremeteu no final e
ultrapassou os 19%.
Ou seja, mesmo em uma eleição tão sui generis quanto à
primeira de Fernando Henrique, costuma aparecer alguém para atrapalhar a
bipolaridade. No máximo, porém, como Garotinho ou Marina, se aproximam
dos 20%.
Curioso é especular a respeito dessas “surpresas” no médio prazo. Sem
falar de Enéas, já morto, todos emagreceram: Ciro Gomes, que parece
haver desistido da política nacional, Heloísa Helena, hoje vereadora,
Garotinho, que sobrevive graças a seu feudo no Norte Fluminense.
E Marina?
Hoje, quando escrevem sobre as perspectivas da eleição, os
comentaristas gostam de lembrar sua performance na disputa anterior,
como se significasse uma espécie de piso. Como se tivesse formado base
sólida na sociedade, tão expressiva como o quinto do eleitorado que
sufragou seu nome.
Dá-se o caso que a votação que recebeu foi muito mais determinada por
fatores de rejeição aos outros candidatos que por sua capacidade de
atrair apoios. Se não houvesse um eleitorado incomodado com Dilma e
Serra, que não os queria por motivos diferentes, Marina pouco iria além
dos 7% a 8% registrados em pesquisas desde o início de 2010 e que eram
genuinamente seus, motivados por sua biografia, agenda e imagem.
E Eduardo Campos?
Desde o fim da eleição do ano passado, e agora depois da escolha dos
novos presidentes do Senado e da Câmara, nossa mídia anda cheia de
especulações sobre o “crescimento” de sua candidatura ao Planalto. Como
se não apenas fosse candidato, mas tivesse elevada possibilidade de
vencer.
A tese do crescimento do governador de Pernambuco deriva de um
suposto duvidoso: de que o aumento do número de prefeituras conquistadas
pelo PSB em 2012 expresse um realinhamento relevante de opiniões e
preferências na sociedade. De que uma parcela expressiva do eleitorado
“votou no PSB”.
Nada autoriza acreditar nisso. O PSB entrou na eleição de 2012
pequeno na identificação popular e assim saiu. Aqui e ali, os eleitores
votaram em seus candidatos, sem que esse comportamento possa ser
considerado reflexo de qualquer mudança em suas simpatias. Como partido
de massa, o PSB inexistia antes da eleição e continua a inexistir.
Tampouco faria sentido falar em “crescimento da candidatura” de
Eduardo Campos como se tivesse aumentado sua visibilidade, propiciada
pela exposição da campanha. Ele começou o ano de 2012 quase desconhecido
fora de seu estado e o terminou da mesma maneira.
Ao contrário do PT e outros partidos ideológicos, o PSB nada mais é
que um agregado de quadros políticos e lideranças que se associaram para
perseguir alguns (poucos) objetivos comuns, sem, necessariamente,
compartilhar convicções e projetos. Ou alguém acha que, por exemplo,
Cid Gomes está engajado na candidatura do correligionário?
No fundo, o PSB tem mais semelhanças com o PMDB do que com os
partidos à esquerda. A velha ideia da federação de oligarquias
regionais, que tão bem descreve aquilo em que se tornou o antigo MDB,
aplica-se igualmente a ele. Em cada lugar, dança conforme a música: aqui
situacionista, ali de oposição.
Fantasie-se o quanto se queira, o mais provável é que tenhamos a
sexta eleição polarizada por tucanos e petistas. E que, nela, o grande
favorito seja o PT.
Carta Capital
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