FRANTHIESCO BALLERINI
Um terço da comida do mundo vai para o lixo. Embalagens e carros velhos não são vilões. Energia solar e biodiesel são vilões. Reciclar polui e alimentos orgânicos matam o planeta. Verdades que incomodam a mídia, o governo e a consciência
No final do século 20, o sinal amarelo foi aceso quando o
Planeta Terra deu seus primeiros sinais sérios de falência. Embora
os danos tivessem sido feitos ao longo de séculos pelo homem, houve quem
duvidasse que o tal aquecimento global, derretimento das geleiras e
outros males fossem consequências da ação humana. Tão danoso ainda foram
governos e empresas privadas que de pronto anunciaram ações de combate à
degradação ambiental, dando a impressão de que o homem já está
agindo para proteger a natureza. Essa sensação se deu graças a
dois agentes: a imprensa e o mercado publicitário. A imprensa
se habituou a divulgar ações "sustentáveis" de governos e empresas
privadas ao redor do mundo, diminuindo a sensação de catastrofismo
ambiental. Já o mercado publicitário foi vítima de um aquecimento global
de seus lucros, com grandes multinacionais bradando como produzem
sustentavelmente, reciclam e protegem a fauna e flora.
Tudo não passa de mitos da sustentabilidade. Sim, o homem está cada
vez mais preocupado com o planeta, mas tem feito muito pouco comparado à
dimensão dada pela mídia e pela publicidade. E para entender isso, é
preciso quebrar alguns mitos, com a ajuda de pesquisas sérias publicadas
em revistas como Nature e, no Brasil, Superinteressante, fontes dos
dados aqui reverberados. Vamos aos mitos:
Desperdício – Embora a indústria alegue que tem
poupado cada vez mais a natureza, oferecendo produtos ecológicos, nunca
se desperdiçou tantos recursos naturais como hoje. No Brasil, 64% do que
se planta é perdido ao longo da cadeia produtiva (10 milhões
de toneladas de grãos se perdem entre o produtor e o consumidor por ano). Segundo a FAO, 33% de todo alimento produzido no mundo é desperdiçado e 42% de toda água potável usada no Brasil é desperdiçada antes de chegar ao consumidor. O governo também é autor de bons números: mais de 80% das cidades brasileiras não têm coleta seletiva. No mundo, em 15 anos, 315 milhões de computadores foram para o lixo, embora 95% deles possam ser reaproveitados.
de toneladas de grãos se perdem entre o produtor e o consumidor por ano). Segundo a FAO, 33% de todo alimento produzido no mundo é desperdiçado e 42% de toda água potável usada no Brasil é desperdiçada antes de chegar ao consumidor. O governo também é autor de bons números: mais de 80% das cidades brasileiras não têm coleta seletiva. No mundo, em 15 anos, 315 milhões de computadores foram para o lixo, embora 95% deles possam ser reaproveitados.
Falsos algozes – A indústria do papel e de
embalagens não são os grandes inimigos da natureza. Uma floresta
intocável absorve apenas um terço do CO2 da atmosfera do que uma
floresta replantada para produção de papel. Já as embalagens, embora vão
parar nos lixões, ajudam a diminuir o desperdício de alimentos, pois
estragam menos rapidamente. Outro falso vilão são os carros velhos, em
geral alvo de campanhas a favor de sua aposentadoria. No entanto, embora
consuma (em tese) menos combustível, um carro novo requer muita energia
e recursos naturais para ser feito. Mas isso a indústria
automobilística não conta, claro.
Falsos bonzinhos – A energia solar costuma reinar
entre os elogios, mas sua ficha nem sempre é limpa. Além de gerar
energia em apenas metade do dia, ela é uma tecnologia ainda cara e,
pior, em países como China e Índia, são associadas a baterias de chumbo,
que podem poluir o meio ambiente. Sem falar em todos os recursos
naturais utilizados para produzir uma plaquinha. Já o biodiesel, tão
amado pelos governos, é na verdade um vilão, pois ocupa área agrícola
para plantio de alimentos e consome uma quantidade danada de água para
produzi-lo. E tem também a "adorável" sacola biodegradável, que no lixão
libera tanto metano na sua decomposição que seu benefício é anulado.
Campanhas ineficientes – Sabe aquelas campanhas
mundiais para desligar a luz por um dia, não usar carro etc.? São
ineficientes, pois economizam tão pouco – em geral apenas o que um
norte-americano emite de CO2 por ano, mas gastam muitos recursos
financeiros para serem feitos. Melhor seria parar de comprar garrafas de
água e renovar menos vezes o guarda-roupa e os acessórios de
informática, que utilizam energia e água aos montes para serem feitos.
Mas aí a economia, que já não está boa, vai piorar ainda mais. É o
preço.
Reciclar polui – Reciclar vidro é 15% mais caro do
que produzir de materiais virgens. Já derivados de petróleo, como o
plástico, também gastam muita energia para reciclar e encareceria o
produto, já que os derivados ainda são baratos no mercado – enquanto
houver petróleo, claro. Sem falar que há sete categorias diferentes de
plástico e seus polímeros. Misturou, estragou tudo.
Vilão orgânico – Alimentar a economia dos produtos
orgânicos é um mal. Primeiro porque, por não usarem defensivos
agrícolas, estragam muito mais rápido e são desperdiçados mais
facilmente. Segundo porque são mais caros – portanto, requer maior gasto
de recursos humanos. O leite orgânico, por exemplo, precisa de 80% mais
área que o normal e suas vacas, soltas no pasto, liberam muito mais
metano do que presas comendo ração. A produtividade de alimentos
orgânicos – que necessitam de áreas imensas – pode ser até 50% menor
do que dos alimentos que usam defensivos agrícolas, cujo sabor é o mesmo
e, se bem lavado, não fazem mal à saúde.
É claro que muito tem sido tentado a favor da preservação ambiental.
Mas é preciso distinguir o que é uma boa ação do que é mera hipocrisia
midiática e publicitária. Celebridades abastadas – como algumas estrelas
de Hollywood que advogam campanhas a favor do ambiente – são as mais
hipócritas, pois suas mansões e hábitos de consumo torram os recursos do
planeta. Até os governos, que às vezes tem boas intenções com algumas
ações de preservação ambiental, caem em contradição quando querem
aquecer a economia – diminuindo impostos para comprar carros, por
exemplo.
Mas veja o lado bom da coisa: ao ler este texto na internet, você
evitou lê-lo no papel, que usa água e energia para ser feito e ainda vai
ser jogado num lixão. Bobagem, mais uma hipocrisia: seu computador,
enquanto você leu, gastou muita energia elétrica. Soluções honestas não
são fáceis. Mas já é um bom começo desmistificar falsos milagres.
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