Três livros sobre o Mensalão chegam às bancas. Dois não merecem ser
lidos, o de Merval e o de Villa. O terceiro, sim. O jornalista Paulo
Moreira Leite produziu, ao longo do julgamento, excelentes artigos —
ainda mais admiráveis por terem sido publicado no solo hostil e árido
das Organizações Globo. PML, agora na IstoÉ, tinha um blog na Época nos
dias do Mensalão. Seu livro se apoia exatamente em seus textos no blog.
PML fez um livro superior aos outros dois por duas razões: primeiro, pensa melhor que Merval e Villa. Depois, escreve melhor.
O Mensalão é um mau momento na histórica política e jurídica nacional.
Danton, no tribunal em que foi condenado à guilhotina, disse que se
tratava de um “julgamento político”, e portanto com escasso interesse
por coisas como provas.
O julgamento do Mensalão teve exatamente este pecado: foi muito mais
político que técnico. A rigor, você nem precisaria de tanto tempo de
discussões no STF. Cada juiz já parecia desde antes saber exatamente
como seria seu voto.
Houve, desde o início, uma intenção de dar ao caso uma dimensão
espetacularmente inflada. Lula, de certa forma, provou o próprio veneno.
Ele, que tantas vezes usara a expressão “nunca antes na história deste
país”, viu-a ser empregada repetidamente pelos juízes, e depois pelos
suspeitos de sempre nas colunas de jornais e revistas.
A opinião pública, expressa nas urnas, não concordou com a gravidade
que se quis dar ao caso. O mais notório exemplo disso foi a vitória de
Haddad em São Paulo, tirado do nada por Lula em pleno julgamento. É como
se o eleitor tivesse dito o seguinte: “Houve erro no PT no episódio?
Sim. Mas não deste jeito. Estão transformando um riacho num oceano. Por
quê? Alguma vantagem eles estão extraindo disso.”
Do ponto de vista anedotico, outra prova do pouco caso popular com o
julgamento veio no Carnaval: onde, afinal, as máscaras de Joaquim
Barbosa que estariam sendo vendidas em grande quantidade?
As pretensões presidenciais de JB faleceram com o fracasso espetacular de sua máscara carnavalesca.
Paradoxalmente, o Brasil aprendeu com o julgamento – e pode se tornar melhor, se corrigir absurdos que ficaram expostos.
Todos soubemos como se chega ao STF, a mais importante corte do
Brasil. O ministro Luiz Fux descreveu, à jornalista Mônica Bérgamo, sua
louca cavalgada. Foi atrás de Zé Dirceu, na busca de apoio para seu
nome, mesmo sabendo que teria que julgá-lo depois.
Como uma criança, rezou e se agoniou enquanto esperava a confirmação
de seu nome para uma vaga no STF. E então chorou. “As lágrimas dos
fracos secam as minhas”, escreveu Sêneca. Lembrei imediatamente dessa
grande frase ao ler sobre o choro de Fux.
Um fraco.
Os brasileiros souberam também como Joaquim Barbosa chegou ao
Supremo: porque Lula queria um ministro negro. Não foi por talento, não
foi por notório saber. Foi por uma ação de Lula que pode ter sido
demagógica, simplesmente, ou nobre. E foi também porque Barbosa teve a
cara suficientemente dura para se apresentar a Frei Betto quando o acaso
os reuniu numa loja da Varig em Brasília.
Por tudo isso, o STF é um problema, e não uma solução. Se havia
dúvidas sobre a precariedade do judiciário, elas desapareceram. Para o
Brasil progredir, o judiciário terá que ser reformado. Isso ficou
patente quando o STF ficou sob os holofotes nestes últimos meses, e eis
um benefício para o país. Você pode debelar um incêndio apenas se tiver
ciência dele, e o fato é que o Supremo arde.
Em dois dos três livros sobre o Mensalão o leitor será induzido a uma
fantasia na qual JB é um gigante. No de PML, você poderá constatar a
realidade — não é.
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