Coluna Econômica
O Seminário Brasilianas “Energias Alternativas” trouxe duas visões sobre o setor elétrico.
A visão atual foi o sucesso dos leilões de energia e dos programas de
energia alternativa. Ao longo dos últimos anos, além do etanol
sucessivos programas e os leilões viabilizaram a energia eólica, deram o
tiro de partida para a fotovoltaica.
Mas problemas ambientais provocaram uma mudança perigosa na matriz
energética, com a perda gradativa da importância relativa da
hidroeletricidade e, mais que isso, dos reservatórios das usinas,
trazendo um aumento de risco complicado.
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Esse alerta foi feito por Hermes Chipp, presidente do Operador
Nacional do Sistema Elétrico e pelo professor Nivalde de Castro, do
Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O reservatório é como um armazenador de energia. No período chuvoso,
parte da água é armazenada e serve para gerar eletricidade no período de
seca.
Com essa segurança, a energia alternativa era utilizada em curtos
períodos, quando o nível dos reservatórios baixava além de determinado
limite.
Alguns anos atrás, o nível dos reservatórios garantia até dois anos
de seca. Foi caindo. Com as novas hidrelétricas sendo construídas todas a
fio d’água (sem reservatório), em 2013 os reservatórios garantirão 5,4
meses; em 2017, 4,3; em 2020, 3,5 meses.
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Essa involução cria fatores complicados de segurança. Há que se
proceder a mudanças substanciais no modelo elétrico e na compra de
energia.
O primeiro fator relevante é a questão da segurança energética – ou
seja, garantir que não faltará energia. Por exemplo, hoje em dia em nome
da sustentabilidade, montou-se um modelo que impede a formação de
reservatórios. Como lembra Chipp, o modelo peca pela base. Sem os
reservatórios, quando falta energia são despachadas as térmicas, movidas
a óleo ou carvão.
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A existência de reservatórios é fundamental inclusive para viabilizar
a alternativa. Por exemplo, prevê-se uma expansão substantiva da
energia eólica – energia limpa, sustentável. Só que a energia eólica não
é perene. Há períodos de pouco vento. Portanto, quanto maior a produção
de eólica, maior a necessidade da energia de reserva. Sem essa reserva,
se terá que recorrer a energias garantidas. E aí se cai nas
termoelétricas a carvão e diesel.
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Outro ponto relevante é mudar o critério de análise de preço. Hoje em
dia, os leilões de energia levam em conta apenas o custo da geração –
leva quem apresentar o preço mais baixo.
Ora, o custo final de uma determinada energia é a soma do custo de
geração, mais o de transmissão e o de distribuição. Se uma usina é
levantada em local distante, o custo de transmissão acaba fazendo com
que chegue mais cara no consumidor final do que o de outra usina
levantada em local mais próximo. Ou então ocorre de usinas construídas e
desligadas do sistema por problemas de transmissão – que enfrentam
problemas com diversas instâncias ambientais, com Ministério Público
etc.
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Diz Chipp que os leilões precisam definir previamente a quantidade de
cada tipo de energia que se pretende, a região a ser implantada, o
custo final para o consumidor.
Mais que isso: é necessário rediscutir a questão dos reservatórios.
Blog do Luis Nassif
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