E então alguma coisa nova parece ganhar estatura na política
brasileira: Eduardo Campos, governador de Pernambuco pelo PSB. Não
surpreende que ele tenha anunciado a decisão de concorrer à presidência
em 2014.
FHC falou em troca de gerações, numa alusão à longa permanência de
Serra no topo do PSDB. Curiosamente, FHC se refere ao PSDB como se fosse
o porteiro da sede do partido, numa impotência miserável. Ou melhor:
como se fosse um acadêmico, trancado no ar refrigerado de uma sala numa
universidade.
O fato novo não veio do PSDB, a não ser que se considere Aécio um fato novo. Veio do PSB.
Neto de Miguel Arraes, lendário homem da esquerda brasileira, Campos,
47 anos, nasceu na política. Tem uma qualidade essencial para um líder
político moderno: parece compreender o zeitgeist.o espírito do tempo. Projeta a imagem de um homem com visão social.
Quanto há de conteúdo ou de marketing nisso, o tempo haverá de dizer.
Contra Eduardo Campos pesa o fato de ser, pelo menos até aqui, uma
figura regional. Campos é pernambucano como Lula, mas Lula virou
personagem nacional em São Paulo, 30 anos atrás, como líder metalúrgico
de São Bernardo. É verdade que seu PSB teve um desempenho brilhante nas
eleições municipais de 2012: elegeu 440 prefeitos, 42% mais que em 2008.
Isso quer dizer alguma coisa, mas ninguém sabe exatamente ainda o quê,
em termos de 2014.
Tempo ele tem para se tornar nacionalmente conhecido. Anunciou uma
caravana pelo Brasil, e é presumível que a mídia lhe dará ampla
cobertura caso fique claro que repousam nele as maiores chances de
derrotar o PT. Nesta hipótese, Aécio tende a ficar à deriva, abandonado
pela mídia e sem eleitores que lhe permitam ser mais que governador de
Minas.
Campos em algum momento vai ter que fazer uma escolha de Sofia,
provavelmente. O apoio das grandes empresas jornalísticas se
consolidará se e apenas se ele for considerado “gente de confiança”,
como Serra. Mas os eleitores, como temos visto, desconfiam barbaramente
de “gente de confiança” da mídia.
Caiu na simpatia de Merval, Noblat, Azevedo etc? É inevitável que
caia na antipatia de quem, afinal, faz um presidente, o eleitor. O que
eles defendem são bandeiras de uma minoria eleitoralmente
insignificante.
Não dá para você ter as duas coisas, votos e mídia generosa, como o
PSDB duramente percebeu nos últimos dez anos. A opção tucana foi pelo
afago da mídia, e deu no que deu. A “plataforma” da mídia é tão
ultrapassada, tão contrárias aos tempos, que mata qualquer candidatura.
Veremos como se comportará Eduardo Campos.
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