sábado, 9 de fevereiro de 2013

Pesquisas avaliam eficácia do benzonidazol em pacientes crônicos de doença de Chagas

Solange Argenta

No Brasil, desde o início da década de 1970, a droga benzonidazol tem sido a mais indicada para o tratamento de pacientes com a doença de Chagas. Estudos apontam que, na fase aguda da doença - que dura em média dois meses - o índice de cura dos pacientes que fazem uso do medicamento tem sido de 70%. No entanto, não há evidências científicas de que o mesmo traz benefícios na fase crônica, que pode durar o resto da vida da pessoa infectada pelo protozoário causador da doença, o Trypanosoma cruzi. Para suprir esta lacuna, a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Virgínia Lorena está coordenando dois estudos que buscam um marcador biológico que sinalize a eficácia da terapia com o benzonidazol em pacientes crônicos. A pesquisa, iniciada em setembro de 2012, vai realizar pela primeira vez um cruzamento de dados sobre diversos aspectos da resposta imune dos doentes, antes e depois de serem submetidos ao tratamento com o medicamento, durante dez anos de acompanhamento.


 Ao longo dos anos, os marcadores biológicos serão comparados com os títulos de uma classe de anticorpos (que indicam a presença de doença ativa) e com a carga parasitária. O objetivo é medir o impacto do benzonidazol na resposta imune do paciente
Ao longo dos anos, os marcadores biológicos serão comparados com os títulos de uma classe de anticorpos (que indicam a presença de doença ativa) e com a carga parasitária. O objetivo é medir o impacto do benzonidazol na resposta imune do paciente

Serão comparadas informações obtidas na avaliação clínica, laboratorial e da resposta imunológica de usuários atendidos no Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco Prof. Luiz Tavares (Procape), da Universidade de Pernambuco (UPE). O projeto acompanha até o momento quatro pacientes, mas a meta é chegar a 50 pessoas. Estão sendo selecionados indivíduos com idade até 55 anos, com sorologia confirmada para a doença de Chagas, que tenham alterações leves nos exames cardíacos. “Os pacientes com forma moderada a grave não podem fazer o tratamento”, explica a pesquisadora, “devido aos efeitos colaterais intensos e que acontecem com a maioria das pessoas tratadas tais como manifestações de hipersensibilidade, como dermatite com erupção cutânea, edema periorbital ou generalizado, febre, dores musculares e articulares; depressão da medula óssea; e polineuropatia periférica (lesões que acometem os nervos periféricos e que se estendem da medula ou do tronco encefálico até as extremidades do corpo. Produzem sintomas motores como a perda de força, alterações da destreza, movimentos mais elaborados, alteração da marcha e até desequilíbrio)". Suellen Braz, aluna do doutorado em saúde pública da Fiocruz Pernambuco, sob a orientação da também pesquisadora da instituição Yara Gomes, está responsável por recolher os dados clínicos dos pacientes junto aos médicos colaboradores do estudo, fazendo o acompanhamento antes, durante e depois do tratamento. “Como o projeto é focado na resposta imune, ela vai analisar diversos parâmetros de fenotipagem celular e de produção de proteínas solúveis relacionadas à resposta imune das células”, diz Virgínia. “Ao longo dos anos, esses marcadores biológicos serão comparados com os títulos de uma classe de anticorpos (que indicam a presença de doença ativa) e com a carga parasitária. O objetivo é medir o impacto do benzonidazol na resposta imune do paciente comparando com os aspectos laboratoriais utilizados para a avaliação de cura ou falha terapêutica atuais, explicou.
Em 2013, outra pesquisa mostrará o que está acontecendo com esses mesmos pacientes a nível celular. As células serão infectadas com Trypanosoma cruzi e tratadas com o medicamento in vitro, o que vai permitir saber o que realmente acontece quando o benzonidazol entra em contato com uma célula infectada. “Os estudos se complementam e auxiliarão a responder a mesma pergunta: o tratamento com benzonidazol vale a pena em pacientes crônicos? Essa questão ainda é feita mesmo depois de mais de 100 anos de descoberta da doença de Chagas e 40 anos do uso da droga no Brasil”, diz Virgínia.
Publicado em 8/2/2013.


Agência Fiocruz de Notícias

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