Marcos Coimbra
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também é colunista do Correio Braziliense
Quando, na noite do domingo 28, conhecermos o resultado final das
eleições municipais deste ano, o PT e o governo terão muito que
celebrar. E algumas razões para olhar com preocupação o futuro próximo.
A se considerar o que aconteceu no primeiro turno e os prognósticos
disponíveis para as disputas de segundo turno, o PT termina as eleições
de 2012 como o principal vitorioso. De qualquer ângulo que se olhe, são
as melhores eleições municipais da história do partido.
Os indicadores são muitos. Entre os cinco partidos que melhor se
saíram nas eleições anteriores, foi o único que cresceu. Enquanto PMDB,
PSDB, DEM e PP reduziram, o PT ampliou o número de municípios governados
por prefeitos filiados à legenda. Com isso, manteve sua tendência de
crescimento, sem interrupção, desde a fundação. Quando se levam em conta
apenas as três últimas eleições, foi de 410 prefeituras em 2004 a 628
neste ano (sem incluir as 10 ou mais que deve ganhar no segundo turno).
Do lado das oposições, o panorama, ao contrário, se complicou, o que
significa outra vitória para Lula e o PT. O total de prefeitos eleitos
pelo PSDB, o DEM e o PPS caiu, nos últimos oito anos, de 1.973 para
1.088 (sem considerar o resultado do segundo turno, que não deve, no
entanto, alterar muito o quadro). Em outras palavras, os três partidos
ficaram com pouco mais da metade das prefeituras que tinham.
Quanto ao número de vereadores eleitos, o cenário é
parecido. De novo, o PT foi o único dos grandes que cresceu de 2008 para
cá: ganhou cerca de mil novos vereadores, ao passar de 4.168 para
5.182. Enquanto isso, os três principais partidos oposicionistas
elegeram 2.473 a menos. Entre 2004 e 2012, os representantes petistas
nas câmaras municipais aumentaram em quase 40%.
Para o que efetivamente contam, portanto, foram eleições favoráveis
ao PT. Nelas, o partido reforçou suas bases municipais, com isso se
preparando para melhorar o desempenho nas próximas eleições
legislativas.
Sair-se bem ou mal nas disputas locais tem impacto pequeno na eleição
presidencial, como ilustra bem o caso do PMDB, o eterno campeão em
termos de prefeitos e vereadores eleitos, e que não consegue sequer ter
candidato ao Planalto desde 1998. Mas elas são relevantes na definição
do tamanho das bancadas na Câmara, fundamentais para governar. Há, além
disso, o aspecto simbólico.
Dessa perspectiva, o resultado das eleições municipais é mais
significativo onde elas são menos decisivas objetivamente. É nas
capitais que se travam as “grandes batalhas”, as que despertam mais
atenção e definem os “grandes vencedores”, ainda que nelas seja menor a
influência dos prefeitos nas eleições seguintes.
Como algumas ainda estão indefinidas, é difícil dizer com segurança,
mas parece possível que o partido se aproxime, neste ano, da melhor
performance de sua história, que alcançou em 2004, quando elegeu nove
prefeitos de capital. É claro que a maior de todas as batalhas, pelas
condições em que foi montado o quadro eleitoral na cidade, acontece em
São Paulo. E com a provável vitória de Fernando Haddad, a eleição de
2012 será fechada com chave de ouro para o PT.
Difícil imaginar um quadro de opinião tão
desfavorável como o que foi montado para o partido nestas eleições.
Apesar dele, sai como principal vitorioso. No plano objetivo e no plano
simbólico. Sem que houvesse qualquer razão técnica para que o julgamento
do “mensalão” fosse marcado para o período eleitoral, o Supremo
Tribunal Federal estabeleceu seu calendário de tal maneira que parecia
desejar que ele afetasse a tomada de decisão dos leitores. Como, aliás,
deixou claro o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quando
afirmou que achava “salutar” uma interferência do julgamento na eleição.
Nossa “grande imprensa” resolveu fazer do assunto o carro-chefe do
noticiário. Desde agosto, quando começaram as campanhas na televisão e
no rádio, trouxeram o julgamento para o cotidiano da população. Quem for
ingênuo que acredite ter sido movida por “preocupações morais”. Com seu
currículo, a última coisa que se espera dela é zelo pela ética.
Tudo o que as oposições, nos partidos, na mídia, no Judiciário, na
sociedade, puderam fazer para que as eleições de 2012 se transformassem
em derrota para Lula e o PT foi feito.
Mas não funcionou.
Mas não funcionou.
Mais que bom, isso é ótimo para o partido. Mostra a força de sua
imagem, de suas lideranças e candidatos. Mostra por que é o grande
favorito a vencer as próximas eleições presidenciais.
O problema é a frustração de quem apostou que o PT perderia.
O problema é a frustração de quem apostou que o PT perderia.
E se esses setores, percebendo que não conseguem vencer com o povo,
resolverem prescindir dele? Se chegarem à conclusão que só têm caminhos
sem povo para atingir o poder? Se acharem que novas intervenções
“salutares” serão necessárias, pois a recente foi inócua?
Carta Capital
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