Por Roger S
João Goulart foi 'sistematicamente' monitorado pela Operação Condor
Novos documentos mostram que presidente deposto era vigiado por militares até em momentos privados
Por: Ana Graziela Aguiar, da Agência Brasil
Jango em 1962: ainda hoje há controvérsia sobre a morte do ex-presidente, no exílio (Foto: Wikimedia - cc)
Brasília
– Deposto pelo golpe militar em 1964, o ex-presidente João Goulart, o
Jango, exilou-se com a família no Uruguai e, depois, na Argentina. No
entanto, mesmo depois de retirado da Presidência da República, continuou
sendo alvo do regime militar.
Fotos e documentos exclusivos do Arquivo Nacional, obtidos pela TV Brasil,
mostram que João Goulart era vigiado pelos militares, inclusive em
momentos privados, como durante a festa de aniversário em que comemorou
55 anos.
Para
o neto de Jango, Christopher Goulart, o avô sabia que era vigiado,
porém isso não o incomodava. “Ele não se importava muito, não era uma
coisa que o incomodava”.
Um
documento do Serviço Nacional de Informação (SNI) mostra que as
correspondências do ex-presidente eram constantemente lidas e analisadas
pelos militares. No próprio documento, datado de 1966, um agente
militar revelou que as cartas de Jango eram obtidas de forma
clandestina. Em outro documento, o Centro de Informações do Exterior
(Ciex) traz informações sobre uma viagem de Jango para a Argentina. A
partir dos detalhes da viagem, os militares classificaram que Jango
estava se preparando para retornar ao Brasil.
Para
o historiador e coordenador do curso de história da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enrique Padrós, João Goulart foi
vítima da Operação Condor, ação conjunta de seis países sul-americanos,
inclusive o Brasil, para reprimir opositores às ditaduras militares da
região. A operação foi criada oficialmente em 1975, mas começou antes,
como mostra a reportagem da TV Brasil.
“Ele foi sistematicamente vigiado, foi sistematicamente atingido, com
essa coisa de infiltrarem pessoas ou, talvez, infiltrarem mecanismos
para obter informações”, completa.
Em
6 de dezembro de 1976, Jango morreu na cidade argentina de Mercedes,
onde também viveu durante o exílio. A certidão de óbito diz que o
ex-presidente foi vítima de um ataque cardíaco. A família, no entanto,
suspeita das circunstâncias da morte de Jango, pelo fato de que o
ex-presidente estava se organizando para voltar ao Brasil com o intuito
de atuar contra o regime militar. “É claro que é muito suspeita [a morte
de Jango]. É óbvio que é muito suspeita e, enquanto for suspeita, tem
que se investigar”, defende Christopher Goulart.
Depoimentos
do ex-espião do serviço de inteligência da polícia uruguaia Mário Neira
alimentam a teoria de assassinato. Preso em Porto Alegre há mais de dez
anos por crimes como contrabando de armas, Neira disse que uma operação
foi montada para envenenar Jango. A decisão, segundo ele, foi tomada em
uma reunião com representantes do governo uruguaio, do Serviço de
Inteligência Americano (CIA) e o delegado Sérgio Fleury, então chefe do
Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo. “Foi uma
operação muito prolongada e a gente não sabia que teria como objetivo a
morte do presidente João Goulart”, relatou.
Segundo Neira, os remédios de Goulart, que sofria de problemas do coração, foram trocados por comprimidos com uma substância que acelerava os batimentos cardíacos e provocava uma parada cardíaca. “Os remédios vieram da França e foram recebidos na gerência do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os remédios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de segurança. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma ação que provocaria uma parada cardíaca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a pressão sobe, baixa constrição dos vasos.”
Segundo Neira, os remédios de Goulart, que sofria de problemas do coração, foram trocados por comprimidos com uma substância que acelerava os batimentos cardíacos e provocava uma parada cardíaca. “Os remédios vieram da França e foram recebidos na gerência do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os remédios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de segurança. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma ação que provocaria uma parada cardíaca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a pressão sobe, baixa constrição dos vasos.”
Com
base no depoimento de Neira, a família de João Goulart pediu uma
investigação ao Ministério Público Federal (MPF). Mas o processo foi
arquivado pela Justiça sob o argumento de que o crime prescreveu.
Com
a impossibilidade de investigação no Brasil, o procurador federal Ivan
Marx recorreu à Justiça argentina. “Fui até Paso de Los Libres [próxima à
cidade de Mercedes], na Justiça Federal argentina competente, e
solicitei uma investigação sobre a morte do João Goulart. Existe a Lei
de Anistia e todo esse problema que hoje estamos tentando processar no
Brasil, mas, diante de todas as dificuldades, achei importante provocar a
Justiça argentina, pois o fato ocorreu lá. Eles têm uma competência
territorial para investigar os fatos”, explicou.
O
historiador Enrique Padrós defende esclarecimentos sobre a morte de
Jango. “É muito grave um país como o Brasil, até hoje, não ter certeza
de como faleceu o único presidente que morreu fora, exilado.”
A TV Brasil iniciou segunda-feira (15) a exibição da série jornalística, com quatro reportagens, sobre a Operação Condor. Até o dia 19, o Repórter Brasil Noite vai exibir uma reportagem, sempre às 21h, com reprise no Repórter Brasil Manhã, às 8h. Depoimentos completos, fotos e documentos estão disponíveis no portal daEmpresa Brasil de Comunicação (EBC), no endereço www.ebc.com.br/operacaocondor.
Blog do Luis Nassif
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