Coluna Econômica
Períodos eleitorais deixam nervos à flor da pele e o comportamento do
STF (Supremo Tribunal Federal) não tem ajudado a trazer bom senso para o
debate político.
O que se passa é apenas mais um capítulo de um penoso processo de
aprendizado democrático. Especialmente em um momento em que as urnas
tornam mais distantes os sonhos de uma rotatividade no poder.
Do lado de parte da mídia, há uma tentativa insistente de envolver
Lula no julgamento e, se possível, de processá-lo e fazê-lo perder seus
direitos civis. Do lado de parte do PT, um chamado à resistência capaz
de elevar ainda mais a temperatura política.
No meio, botando lenha na fogueira, os doutos Ministros.
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Mentes mais conspiratórias à esquerda podem suspeitar da preparação
de um novo golpe. Mentes conspiradoras à direita podem mesmo acreditar
que poderão fomentar o golpe.
No fundo, o que ocorre com o Supremo é apenas uma manifestação
eloquente de humanidade. Não da grande humanidade, dos princípios que
consagram homens e civilizações. Mas das fraquezas e vaidades que tornam
- do mais solene magistrado ao mais simples cidadão - os homens iguais
entre si.
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O capítulo atual do aprendizado é o da exposição do STF à luz dos
holofotes, com transmissão ao vivo e, pela primeira vez, analisando um
processo penal. Vaidosos por natureza, como o são todos os intelectuais
dotados de conhecimento especializado – e, no caso do STF, com esse
conhecimento sendo manifestação de poder – os Ministros foram expostos
ao desafio de se tornarem celebridades e não perderem a linha.
Alguns não conseguiram.
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Foi o que levou um Celso de Mello a colocar gasolina na fogueira, e
esforçar-se tanto pelo grande momento de oratória, insistir tanto na
ênfase definitiva, a ponto de comparar partidos políticos ao PCC.
O mesmo fez Marco Aurélio de Mello, com sua defesa do golpe de 64. O
Ministro que sempre se jactou de chocar os pares – inclusive com alguns
posicionamentos históricos – com a concorrência inédita dos demais
ministros precisou avançar alguns tons na competição. E pode haver prato
melhor do que um Ministro da mais alta corte defendendo uma
transgressão à Constituição?
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Essa mesma sensação de poder acometeu Joaquim Barbosa, a ponto de
avançar sobre colegas que ousassem discordar da voz de Deus. Contra os
advogados dos réus, não a explosão de trovões – que só são utilizados
contra iguais – mas o riso irônico de quem trata com personagens
insignificantes, perto da grandeza do Olimpo.
Todos trovejam e Ayres Britto passarinha, com sua voz de pastor das
almas, tentando alcançar o tom grave dos colegas mais eloquentes.
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No plano real, fechadas as cortinas do espetáculo, não há
possibilidade de se alcançar Lula. A teoria do “domínio do fato”,
encampada pelo Procurador Geral da República, subiu na escala
hierárquica e pegou José Dirceu e José Genoíno. Mas mesmo o PGR
considerou exagero alçar voo para mais um degrau e alcançar Lula.
Definitivamente, Lula está fora do processo.
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Assim, as investidas dos Ministros do STF explicam-se muito mais
pelas fraquezas humanas, pelo estrelismo que acomete espíritos menos
sábios, do que pelo maquiavelismo político. Eles são humanos. Apenas não
foram informados disso.
Blog do Luis Nassif
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