Em Nova York, no hotel Waldorf Astoria, banco de
investimento de André Esteves, que se associou à Caixa e comprou ativos
da Petrobras, abre nesta terça-feira 8 conferência para investidores com
Aécio Neves; banqueiro migra do governismo para a oposição e diz que a
política econômica atual dificulta a 'venda' do País a investidores;
interesses contrariados motivam mudança de lado do banqueiro, que sonha
com a privatização dos bancos estatais
247 – O banqueiro André Esteves está mudando de
lado. CEO do BTG Pactual, ele se aproximou do bloco político do governo
desde a gestão de Lula, quando afirmou que o País vivia seu melhor
período econômico em 500 anos, ou seja, desde o descobrimento. Foi uma
coincidência com a fase de abertura e crescimento da instituição que ele
preside. Mas agora, o flerte acabou.
Depois de ter se tornado sócio da Caixa Econômica Federal no banco
Panamericano, o Pan, no qual detém 51% das ações, e consolidar seus
interesses junto à Petrobras, Esteves liberou seus sócios para criticar o
governo. Na semana passada, Roger Agnelli, ex-presidente da Vale que
pilota o braço de mineração do BTG, saiu em campo atacando o marco
regulatório proposto pelo governo ao setor. De acordo com Agnelli, o
modelo oficial vai inibir os investidores. Na verdade, o que ele quer
são parâmetros de exploração do solo que entregam, praticamente de
graça, as riquezas minerais do País para os grandes grupos de interesse,
a começar pelo dele e de Esteves.
Para consolidar sua ida para a oposição, o BTG resolveu abrir sua
conferência anual para investidores, em Nova York, fazendo do
presidenciável Aécio Neves, do PSDB, o orador de abertura. O presidente
tucano está na dele. Dará seu recado, nesta terça 8, no salão principal
do hotel Waldorf Astoria, e certamente suas palavras terão repercussão
no Brasil, onde o clima de campanha eleitoral já toma conta da mídia.
O que intriga é porque o BTG resolveu, tão rapidamente, mudar de
camisa. O mercado vinha considerando Esteves um dos mais frequentes
interlocutores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na iniciativa
privada. Uma das pistas é seu interesse em ter mais um banco de varejo.
As perdas do BTG com uma desastrada parceria com o grupo EBX, de Eike
Batista, os problemas de mercado do Pan e a insistência, pelo governo,
de resistir ao apetite do próprio Esteves por regras, em diferentes
setores, que o beneficiem, também estão findando por afastar a
instituição que tem o tucano Persio Arida como um dos sócios mais
destacados da área de apoio à política econômica.
Numa demarcação de ida para o campo oposicionista, Arida passou a
defender, nos últimos tempos, o estabelecimento de desemprego no mercado
de trabalho como forma de controlar a inflação. Para ele, o Brasil
estaria crescendo num ritmo superior ao de suas próprias capacidades.
Em Nova York, não será de espantar se Esteves e os seus repetirem a
ladainha de que o governo está afugentando investimentos. Pelo desenho
da conferência com os CEOs, o que se quer, ao que parece, é mostrar um
Brasil fechado e inseguro, onde Aécio será o grande palestrante falando
num palanque com a marca do BTG Pactual.
Dias atrás, Esteves tentou adquirir a participação dos Ermírio de
Moraes no Banco Votorantim, onde o Banco do Brasil é sócio. Nos quadros
do BTG Pactual, um dos quadros proeminentes é Sergio Cutolo, que foi
presidente da Caixa no governo FHC. Esteves não esconde dos seus mais
próximos interlocutores que um de seus sonhos é comprar algum dos bancos
estatais, caso um dia algum governo decida privatizá-los.
Brasil 247
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