terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os clichês de polemistas como Reinaldo Azevedo

Postado em 21 out 2013
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Há uma cena antológica em Pânico, filme de terror de Wes Craven. Um personagem cita as regras básicas para você escapar com vida num filme de terror. “Jamais saia para comprar cerveja” é uma delas.

Regras básicas. Pensei nisso ao deparar hoje com um texto em que Reinaldo Azevedo ataca Marcelo Rubens Paiva. O motivo era frívolo, tanto que nem lembro dele algumas horas depois.
Polemistas inescrupulosos, como Reinaldo Azevedo, seguem regras básicas em suas polêmicas, como se estivessem num filme de terror.

A primeira delas é: desqualifique seu opositor não no campo das ideias, mas com argumentos como o de que você não o conhece e, assim, ele é ninguém, portanto.

Reinaldo Azevedo, por exemplo, fez questão de dizer que não leu nada de Marcelo Rubens, e não sabia se ele tinha ainda um blog ou não.

É o que eu chamaria de “clichê da ignorância”. Rodrigo Constantino é igual. Ficou bravo quando eu escrevi que ele, por ser de direita, apenas reforçava a má imagem da Veja, “o Serra das revistas”.

A resposta dele foi dizer que não sabia quem eu era. Se fosse menos preguiçoso e menos auto-referente, poderia ter perguntado de mim a quem me conhece bem na Veja.

O “clichê da ignorância” foi usado contra mim, algum tempo atrás, também por Diogo Mainardi. Ele era colunista da revista, e eu escrevi que a Veja se mainardizara. O texto foi publicado na Época, quando eu era diretor das revistas da Globo.

Na semana seguinte, Mainardi dedicou uma coluna a mim. Gabava-se de ser colunista da Veja, e dizia desconhecer minha passagem pela Veja e pela Abril.

Mais uma vez, bastaria perguntar a quem me conhece. Mas a preguiça mal-intencionada triunfou, como no caso de Constantino.

Para resumir: trabalhei na Veja nos anos 1980, primeiro como repórter e por último como editor. Depois, fui ser redator-chefe da Exame e mais tarde seu diretor de redação.

Na Abril, a Exame era admirada, e a Veja passava por uma aguda crise criativa e de caráter depois da saída de Guzzo e Elio Gaspari da direção, no final da década de 1980. Roberto Civita decidiu tirar Mario Sergio Conti da Veja, e montou um grupo para escolher o novo diretor: ele e dois grandes jornalistas da casa, Guzzo e Thomas Souto Correa.

Finalmente o grupo optou por mim. Mas, por circunstâncias que não cabe discutir aqui, RC acabou ficando, na última hora, com o então diretor adjunto da Veja Tales Alvarenga. Ouvi em algum momento de Roberto Civita que eu era “jovem demais”, e respondi que com minha idade de então – uns 36 – Alexandre já ganhara e perdera o mundo.

Hoje, visto o rumo que as coisas tomaram, entendo que tudo que Roberto Civita não queria na Veja de meados da década de 1990 era um editor como eu.

Outro truque comum entre polemistas marotos é jogar você contra o patrão. Reinaldo Azevedo, quando tomou a defesa de Mainardi contra mim, disse que eu estava favorecendo a Record em prejuízo da Globo. Isso porque – sendo diretor das revistas da Globo — eu tinha posto Edir Macedo na lista dos homens de mídia mais influentes do Brasil.

Outro truque frequente é inflar a si próprio descaradamente. Ao atacar Marcelo Paiva, Azevedo falou de si próprio continuamente, não raro, como Pelé, na terceira pessoa. Disse, orgulhoso, que seu “petralha” está dicionarizado, como se houvesse criado Guerra e Paz ou Irmãos Karamazov. Alegou ter recebido mais de 300 000 visitas num dia da semana passada.

Tenho sérias dúvidas em relação à “grande audiência” de Azevedo. Nunca, repito, nunca vi um texto seu entre os mais lidos do site da Veja. Presumo que as mesmas pessoas entrem o tempo todo em seu blog para dizer coisas incrivelmente rasas e tolas como “Viva meu Rei!” e “Ninguém pode com você!” É o triunfo da estupidez exclamativa e laudatória a seção de comentários de seu blog. A questão é: quantos visitantes únicos visitam mensalmente seu blog? A resposta, presumo, seria desoladora para quem acha que Azevedo é um campeão de audiência.
Se você descontrói as polêmicas dos reacionários, vão sobrar clichês que os tornam extremamente parecidos entre si – a começar pela desonestidade intelectual.


Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo

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