Reportagem discreta da revista dos Civita aborda o
enriquecimento inexplicável de servidores do governo de São Paulo, que
teriam recebido propinas de empresas como Alstom e Siemens; ao
governador Geraldo Alckmin, interessa tratar o caso como desvio isolado
de alguns servidores, e não como um esquema de corrupção, vinculado ao
financiamento de campanhas políticas; alguns anos atrás, a própria Veja
apontava que a cúpula do PSDB montava seu caixa dois a partir de
empresas como a Alstom
247 - Aos
poucos, de forma cautelosa e extremamente discreta, a revista Veja, da
família Civita, começa a embarcar no chamado "trensalão" tucano.
Neste fim de semana, a reportagem
"Trilha de Dinheiro", assinada pela jornalista Alana Rizzo, aborda o
escândalo das propinas pagas por empresas como Alstom e Siemens a
governos do PSDB em São Paulo.
O discurso é bem mais cuidadoso do
que o de alguns anos atrás, quando a própria Veja investigava esquemas
de caixa de dois para a segunda campanha presidencial de Fernando
Henrique Cardoso, em 1998. Naquele ano, a revista afirmava, com todas as
letras, que Andrea Matarazzo, hoje vereador, arrecadou parte do caixa
dois (leia mais aqui), num esquema que passou pela multinacional Alstom. Ou
seja: era um esquema de corrupção sistêmica, que passava pela alta
cúpula do partido, com o propósito de perpetuá-lo no poder.
Agora, o discurso é diferente – e
está alinhado com a estratégia do governador Geraldo Alckmin de se
colocar como vítima do cartel, disposto a combatê-lo. Tudo não passaria
de desvios cometidos por servidores graduados, mas não pela cúpula
partidária.
"Nunca saiu da fase genérica a
acusação de formação de cartel de companhias estrangeiras fornecedoras
de equipamentos para governos de São Paulo comandados desde 1995 pelo
PSDB", diz a reportagem, em sua primeira frase. "Mas, até a semana
passada, faltava ao caso um elemento crucial: para que a cartelização
funcionasse, muito provavelmente teria sido necessária a colaboração de
altos funcionários do governo".
Veja cita os nomes de João Roberto
Zaniboni, ex-diretor de operações da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos, de Jorge Fagali Neto, ex-secretário de Transportes
Metropolitanos, de Eduardo Bernini, ex-presidente da Eletropaulo e de
Henrique Fingermann, ex-presidente da Empresa Paulista de Transmissão de
Energia. O atual governador, Geraldo Alckmin, e seus dois antecessores,
José Serra e Mário Covas, entram "en passant" pela reportagem.
A Alckmin, interessa consolidar o
discurso de que os desvios teriam sido falhas isoladas de servidores – e
não um esquema de corrupção sistêmica, destinado ao financiamento de
campanhas. Veja, desta vez, parece disposta a ajudar.
Brasil 247
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