Quando um determinado fiscal afirma, num grampo,
que "o prefeito sabia de tudo", referindo-se a Gilberto Kassab, o
personagem se transforma em apenas "prefeito" na manchete do maior
jornal do País; quando um outro fiscal afirma que o ex-secretário
Antonio Donato recebia mesada, ele passa a ser "secretário de Haddad"; é
por essas e outras que um escândalo que ocorreu nas administrações de
José Serra e Gilberto Kassab passa a ser retratado com uma crise da
gestão petista; além disso, ninguém mais se lembra da Brookfield, que
confessou ter pago R$ 4,1 milhões em propinas
247 -
Jornalismo comparado. No primeiro caso, o chefe da máfia dos fiscais,
Ronilson Bezerra, é flagrado num grampo em que fala que o prefeito com
quem trabalhou "tinha ciência de tudo". Bezerra referia-se, claramente, a
Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD.
Na manchete da Folha do último sábado, no entanto, Kassab se
transformou em "prefeito", induzindo seu leitor a erro, como notou a
ombudsman Suzana Singer (leia mais aqui).
Agora, um segundo caso: as declarações de outro fiscal, Eduardo Horle
Barcellos, sobre uma "mesada" de R$ 20 mil derrubam o secretário Antonio
Donato, do PT. Na manchete de hoje da Folha, o tratamento é outro:
Donato passa a ser "secretário de Haddad".
Ainda que a manchete de hoje esteja
correta, ela serve para reforçar o erro da que foi aplicada quando o
alvo de um grampo era o ex-prefeito Kassab. Atitudes desse tipo
confundem mais do que esclarecem. Transmitem para a opinião pública uma
imagem falsa. E a crise que pertence, sobretudo, a dois governos
anteriores – de José Serra, que nomeou o secretário Mauro Ricardo, e de
Gilberto Kassab – passa a ser vendida como uma escândalo da breve gestão
de Fernando Haddad.
Por isso mesmo, numa tensa reunião
ocorrida ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, tentou
convencer Donato a não renunciar. Ao deixar o cargo, ele permitiu que a
crise dos fiscais de Serra e Kassab colasse na imagem do próprio PT. E
ninguém mais se lembra da Brookfield, incorporadora que já confessou ter
pago R$ 4,1 milhões em propinas.
Brasil 247
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