segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Observatório Global da Mídia é refundado em São Paulo

Najla Passos

Arquivo











São Paulo - Jornalistas, intelectuais e ativistas políticos de 15 países de quatro continentes, reunidos em São Paulo (SP) para o lançamento do novo portal Carta Maior, refundaram na quarta (9) o Observatório Global da Mídia (Media Watch Global – MWG), uma ferramenta de monitoramento, análise e denúncia do comportamento política da imprensa, que havia sido lançada durante a edição de 2002 do Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre. O diretor da edição espanhola do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, foi eleito presidente do MWG, que terá sua sede em Paris, na França.

Ramonet, um dos fundadores do Observatório em 2003, lembrou que a ferramenta surgiu da necessidade de se refletir sobre quem detinha o poder no marco da globalização. “Nós entendíamos que o poder financeiro, sozinho, não exercia a mesma influencia do que com o apoio do poder ideológico decorrente do midiático. Portanto, nós dizíamos que combater a globalização era combater o poder financeiro e o poder midiático, que andam juntos”, afirmou.

Ele explicou que, na época, a luta contra o poder midiático ganhou contornos de urgência porque, em abril de 2002, a esquerda mundial havia assistido, atônita, um golpe midiático contra a República Bolivariana do ex-presidente Chaves. Conforme Ramonet, um golpe diferente dos que marcaram as ditaduras latino-americanas, porque foi elaborado diretamente pelos donos dos veículos de comunicação.

No âmbito do FSM, ele divulgou um texto teórico chamado “O Quinto Poder”, em que propunha a criação do observatório, além da organização de jornalistas, intelectuais, professores e também os consumidores para se defender do poder midiático. A iniciativa ganhou apoio em vários países e resultou na criação de dezenas de observatórios locais mundo afora. “Da qualidade dos meios de comunicação, depende a qualidade da democracia”, ressaltou.

Hoje, o editor do Le Monde Diplomatique avalia que a conjuntura mudou muito. “Podemos sacar as lições do que ocorreu com as 40 ou 50 propostas de observatório da mídia que surgiram no mundo, dos quais, hoje, apenas dois ou três estão ativos. Ou seja, há uma dificuldade concreta de levar a cabo esse trabalho. O mais fácil é criar o observatório. O mais difícil é que este observatório produza uma leitura crítica sobre o funcionamento da mídia”, observou.

Ramonet avaliou também que, de lá para cá, os meios alternativos explodiram: rádios, TV, impressos e internet. “A necessidade concreta de organização desses meios é o mais importante, em especial na América Latina onde o debate sobre a comunicação é central. Os meios atacam os governos com toda a classe de argumentos ou falsidades. E os governos respondem com leis, mídia governamental, mídia pública, enquanto a direita também usa os observatórios para precisamente fiscalizar os meios públicos e tentar demonstrar que os governos estão levando a cabo uma política de controle ideológico”, contextualizou.

Para o intelectual, é mais importante do que nunca retomar este observatório. “A dificuldade política é muito mais elevada do que há dez anos. Mas esta não é uma razão para dar marcha ré, é sim uma razão para seguir adiante, com a consciência de que vencer essas dificuldades é avançar para um desenvolvimento democrático indiscutível”, concluiu. 

Propostas concretas
O diretor da Carta Maior, Joaquim Palhares, que era o vice-presidente do MWG, foi o responsável pela rearticulação do grupo, que recebeu a adesão imediata de jornalistas e intelectuais do Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Equador, México, Chile, Estados Unidos, Portugal, Espanha, França e Índia.

Segundo ele, o convite para participação no Observatório será estendido a intelectuais de outros países que não puderam participar do ato de refundação. O objetivo, segundo ele, é aprofundar a construção de um ambiente crítico de reflexão sobre a mídia, que não pode mais ser apenas um espaço de defesa do capital.

Palhares se comprometeu a apresentar, em até 30 dias, proposta de carta de princípios e estatuto do observatório, para ser aprovado pelos novos membros. A inspiração, conforme Palhares, virá das experiências concretas de outros observatórios que lograram êxito, como o criado pela Universidade Central da Venezuela, que ainda está em funcionamento, com trabalhos prestados não só à democracia do país, mas de toda a América Latina.

A coordenadora do Observatório de Mídia da Venezuela, a socióloga Maryclén Stelling Macareno, saudou a iniciativa e colocou toda a tecnologia já desenvolvida pelo seu grupo à disposição da MWG. “Nós já desenvolvemos uma metodologia para acompanhamento das eleições”, disse ela, acrescentando que coordenou o acompanhamento dos últimos seis pleitos na Venezuela, além de eleições em outros países latino-americanos, como na Bolívia e Equador.

Palhares também solicitou o apoio dos jornalistas e intelectuais que, ao lado dele, participaram da criação do Observatório Brasileiro de Mídia, também na década passada. Entre eles, o pesquisador da Escola de Comunicação e Artes da USP, Laurindo Leal Filho, o jornalista e assessor especial da presidência Carlos Tibúrcio e o sociólogo Emir Sader, dentre outros. 

O diretor elogiou o trabalho desenvolvido pelo grupo à época, que denunciou a manipulação da imprensa durante as eleições municipais de São Paulo em 2006, mostrou como a mídia sufocava o debate sobre questões sindicais e desvelou o preconceito reiterado nas matérias sobre questões de gênero, entre outros importantes trabalhos.

“A combinação de interesses econômicos e políticos dos grupos regionais e nacionais de mídia brasileira reflete diretamente na qualidade da informação oferecida ao público. As manipulações, as mentiras e a banalização dos fatos passaram a fazer parte da rotina da grande imprensa brasileira. Precisamos estar atentos, denunciar esses fatos e prestar ao público uma informação crítica de qualidade”, afirmou.







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