A eleição no Senado e as lições da conjuntura
por Antônio David, especial para o Viomundo
Eleição para presidente do Senado em si mesmo é algo que pouco
interfere na conjuntura, muito menos na luta de classes. Apesar disso,
as movimentações e opções que os partidos fazem é sintomática de
posições que, essas sim, têm importância na conjuntura.
A eleição de Renan mostra o óbvio: a força que a direita
fisiológica tem no Brasil. (Vale lembrar que provavelmente o presidente
da Câmara será também do PMDB). O que não é obvio é: como o PT
conseguirá avançar nas mudanças dependente que o governo é do parlamento
e estando o governo preso a partidos como o PMDB?
Para refletir sobre isso, vale destacar um trecho da entrevista de André Singer ao Brasil de Fato:
“Veja o que foi o papel do PMDB na campanha eleitoral de 2010: foi de
brecar as medidas mais radicais que o PT tinha proposto em seu IV
Congresso, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho e a
taxação das grandes fortunas. O PMDB brecou essas duas coisas, que no
final não entraram no programa da presidente Dilma”.
Qual é o problema? O problema é que criticar a política de alianças
do PT é fácil, sobretudo quando a crítica é no varejo. É fácil criticar o
apoio a Renan na eleição. Qualquer um critica. O problema é que crítica
séria tem de ser no atacado, ou seja, o problema não é apoio, eleição,
mas a estratégia do PT. E aí a coisa complica. Porque a estratégia que
prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a
imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o
emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade,
viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc.
É possível jogar fora alianças com a direita, e seguir avançando? É
possível jogar fora a “governabilidade”, e seguir avançando? É possível
corrigir os erros, mudar tudo o que tem de atraso na política do
governo, e seguir avançando no que tem de bom, sem “governabilidade”,
sem maioria no Congresso?
Para a esquerda, essa é a questão central, ou uma das questões
centrais. Não tenho resposta pronta no bolso. O que eu sei é que não dá
para se acomodar, como se a estratégia de conciliação e de composição
fosse boa, como também não dá para dar uma resposta simplista, como uma
parte da esquerda faz.
A oposição (PSDB, DEM, PPS) não tem discurso. O governo FHC foi um
fiasco e onde eles governam as coisas vão mal. Mas eles precisam fazer
oposição, pois esses partidos representam o capital financeiro, que não
apenas está insatisfeito com o governo, mas sabe que o
desenvolvimentismo do governo fere seus interesses de classe. E como
esses partidos não têm o que falar, qual é o discurso? Ética na
política, moralidade, corrupção. Já vimos esse filme antes: UDN, Jânio,
vassourinha…
Renan é sujo igual a todos os outros – inclusive o outro candidato –
mas a diferença é que todo mundo (inclusive a classe média) sabe que
Renan é sujo.
Como o candidato do governo foi um candidato descaradamente sujo, a
oposição aproveitou a oportunidade para posar de preocupada com a Ética e
a moralidade pública. A imprensa ajudou, e eles de certa forma
conseguiram o que queriam. O que eles queriam não era ganhar a eleição. O
objetivo era alimentar, na classe média, a ideia de que eles são
éticos, preocupados com a moralidade. E de fato saíram com pontos
positivos junto à classe média. Graças a Deus, o povo não se preocupa
com eleição de presidente do Senado.
O que falar do PSOL? Não surpreende a posição do PSOL, de apoiar a
candidatura de Pedro Taques. Afinal, para quem o PSOL fala? Para a
classe média. O povo nem liga para o PSOL, exceto em Belém e no Rio.
Que ideias o PSOL alimenta? De que o grande problema do Brasil é a corrupção e de que o PT é corrupto. Portanto, não surpreende.
Mas… ao embarcar na candidatura alternativa organizada pelo PSDB
(sim, para os ingênuos que não sabem, a candidatura de Pedro Taques foi
organizada pelo PSDB), o PSOL não fez outra coisa senão ajudar o PSDB a
posar de arauto da Ética e da moralidade. Posição coerente nessa eleição
teria sido votar nulo.
Em tempo: o grande problema do Brasil não é a corrupção, mas a desigualdade.
Antônio David é mestrando em filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Viomundo
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