Cerca de 50 mil crianças e adolescentes que vivem nas capitais
brasileiras são usuárias de crack. Constituem, assim, 14% dos
dependentes desta droga em nosso país. O dado alarmante é do estudo da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, divulgado nesta 5ª feira (ontem) pelos ministérios da Justiça e da Saúde.
Ao todo, nosso país conta com 370 mil pessoas – nas 26 capitais e no
Distrito Federal – dependentes de crack ou de drogas com base em cocaína
fumada (pasta-base, merla e oxi). O número representa 35% do total de
consumidores de drogas ilícitas (1.035.000), com exceção da maconha.
E o pior dos mundos: no Nordeste, os menores de idade equivalem a 23%
dos usuários de crack. Nada menos que 28 mil crianças e adolescentes
são dependentes da substância. No Sudeste, os menores representam 13% –
são 13 mil crianças e adolescentes; no Centro-Oeste, 6 mil menores de 18
anos; seguido do Sul e Norte, com 3 mil.
Além disso, revela o estudo, cerca de 10% das mulheres usuárias de
crack estavam grávidas quando deram a entrevista. Mais da metade já
havia engravidado desde que começou a usar crack ou outras drogas. A
pesquisa revela, ainda, que o tempo médio de uso da droga é de oito anos
nas capitais e cinco nos municípios.
“Há uma epidemia de crack no país”
O diagnóstico foi dado pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha após
analisar a pesquisa, em sua opinião, o mais amplo estudo já feito no
Brasil e no mundo sobre as drogas. “A pesquisa mostra que o problema é
grave, que há uma epidemia de crack no nosso país”, afirmou o ministro.
“Precisamos expandir ainda mais os serviços, e a parceria com os
Estados e municípios é fundamental. São R$ 2 bi disponíveis e nós
precisamos muito dessa parceria para que esses serviços cheguem à
ponta”, observou. Ele também frisou que a maior parte dos dependentes de
crack (80%) quer se tratar.
“Nós precisamos aproveitar que eles querem se tratar para oferecer
serviços, sejam públicos, sejam em instituições religiosas ou
comunidades terapêuticas. É fundamental que a gente alivie o sofrimento
desses jovens e de suas famílias”, afirmou reforçando a importância de
Estados e municípios colaborarem na execução de políticas públicas de
combate ao crack.
No último mês, o Ministério da Saúde anunciou o aumento da verba
destinada aos centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) em
R$ 230 milhões. Estes centros atendem a dependentes químicos e pacientes
com transtornos mentais durante 24 horas. Além disso, mais R$ 100
milhões serão investidos na construção de CAPS em todo o país.
“Usuários devem ser considerados dependentes químicos”
Já o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, em um
pronunciamento duro em combate ao narcotráfico, lembrou que 90% dos
usuários afirmaram nesta pesquisa precisar de apoio para conseguir
emprego ou educação para reinserção social.
“Os narcotraficantes, integrantes de organizações criminosas, devem
ser investigados e punidos com o máximo rigor, porém os usuários devem
ser considerados como dependentes químicos e, portanto, passíveis de
tratamento na área da saúde e no âmbito de políticas de reinserção
social”, afirmou o ministro.
Segundo Vitore Maximiano, secretário Nacional de Políticas sobre
Drogas (SENAD), outra frente está no fortalecimento das ações de
prevenção, sobretudo nas escolas. A pesquisa revela que apenas dois em
cada 10 usuários cursaram ou concluíram o ensino médio. Em relação ao
ensino superior, a proporção despenca para 0,3% que cursaram ou
concluíram o 3º grau.
Ele aponta, ainda, a existência de mais de 2 mil pessoas em
comunidades terapêuticas, financiadas com recursos federais e que a meta
é ampliar este número para 10 mil vagas até 2014. “Na medida em que 80%
(dos usuários de crack) desejam se tratar, fica desnecessário o debate
quanto à internação compulsória. Os índices de recuperação neste caso
são baixos.
Vamos cuidar de 80% das pessoas que querem se tratar e
convencer os 20% que ainda não manifestaram esse desejo de buscarem
tratamento”, apontou
Capitais, Estados e União têm de se unir
A pesquisa torna clara a fundamental importância do programa “Crack, É
Possível Vencer”, lançado pelo governo federal em dezembro do ano
passado. Reunindo ações conjuntas dos ministérios da Justiça, Saúde,
Desenvolvimento Social e Educação, entre outros, o programa prevê R$ 4
bi em recursos federais destinados a Estados e municípios em ações de
orientação da população, capacitação de profissionais, aumento da oferta
de tratamento e atenção aos usuários. Além, obviamente, de combate ao
tráfico.
Mas, apenas em agosto deste ano, o programa teve a adesão de todas as
unidades da Federação e o ingresso de mais 28 municípios que se
juntaram aos 90 que já desenvolviam ações contra o crack. Daí toda nossa
atenção para os programas dos governos municipais, estaduais e federal
com relação aos usuários do Crack. Temos de lutar para recuperar essas
50 mil crianças e adolescentes nas mãos do crack.
Clique aqui e confira a íntegra da pesquisa.
(Foto: Antonio Cruz/ABr)
Blog do Zé Dirceu
Nenhum comentário:
Postar um comentário