Ele não tinha que estar lá. Não integra nenhuma comissão, grupo ou
orgão de defesa dos direitos humanos. Pelo contrário, sempre os
combateu. Mas o deputado-capitão Jair Bolsonaro (PP-RJ), um provocador e
agente da extrema direita, um saudosista da ditadura, um reacionário
preconceituoso e racista, foi o primeiro a chegar ontem ao quartel do 1º
Batalhão da Polícia do Exército (1º BPE).
Foi tumultuar a visita para a qual não fora convidado, das comissões
da verdade e de parlamentares às antigas instalações do DOI-CODI-Rio, o
centro de tortura de presos políticos que funcionou no local. O capitão
Bolsonaro chegou antes dos membros da delegação e já começou a provocar
as cerca de 40 pessoas que, com faixas, cartazes e fotos de assassinados
e desaparecidos políticos pela ditadura, concentravam-se para seguir a
visita na frente do quartel.
Na sequência, agiu a seu modo: provocou tumulto, bate-boca, agressões
e até deu um soco no senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), da comitiva
de parlamentares. Os parlamentares eram contra a presença de Bolsonaro.
No portão de entrada do Batalhão, o deputado-capitão discutiu com
Randolfe.
“Ele me deu um soco por baixo”
“Ele me deu um soco por baixo. Deve ter aprendido em algum centro de
tortura. O Bolsonaro é um Brasil que a gente vai virar a página. Aliás,
já virou”, afirmou o senador.”O Bolsonaro não tem nada a ver com essa
pauta. Ele não faz parte da comissão. Hoje é um dia histórico. Pela
primeira vez houve uma visita às masmorras da ditadura”, completou o
presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de janeiro, o advogado
Wadih Damous.
“Ali, naquela confusão, posso ter dado um empurrão, nada além. Houve
apenas troca de elogios. Ele me chamou de vagabundo”, declarou Bolsonaro
ao negar ter agredido. Após o soco em Randolfe, empurrões e agressões,
tumulto generalizado como queria provocar o deputado, a comissão entrou
no quartel acompanhada do parlamentar.
Entrou, mas no interior do quartel os representantes da comitiva e o
procurador federal Jaime Mitropoulos se recusaram a fazer a visita junto
com ele. Enquanto a comissão fazia a visita às instalações do quartel, o
deputado permaneceu em uma sala e depois no pátio da unidade.
Comitiva impediu que o deputado-capitão a acompanhasse
Além de Randolfe, integravam a comitiva o senador João Capiberibe
(PSB-AP), as deputadas Luiza Erundina (PSB-SP) e Jandira Feghali (PC do
B-RJ), os representantes da Comissão Estadual da Verdade do Rio de
Janeitro, seu presidente Wadih Damous e o jornalista Álvaro Caldas e os
da comissão nacional, Marcelo Cerqueira e Nadine Borged.
O grupo permaneceu pouco mais de uma hora visitando as instalações do
batalhão.Enquanto o tumulto era contornado e a visita discutida, os
integrantes da delegação assistiram em um auditório à história da
unidade, apresentada pelos militares. E aí coube à deputada Erundina uma
intervenção necessária e muito oportuna: “Eles falaram da inauguração
da unidade, mas deixaram de lado o período militar. Logo questionei que
faltava um pedaço da história e que não pode ficar para trás”, interveio
Erundina.
O grupo foi guiado pelo jornalista Álvaro Caldas, da comissão
estadual do Rio e que ficou preso no local durante o regime militar.
“Não dormi bem essa noite. Volto 40 anos depois do momento em que estive
aqui. Claro, que muita coisa da estrutura interna foi modificada, mas
consegui reconhecer onde ficavam as celas. Esse é o pior local em que
estive na vida”, recordou.
Bolsonaro, repito, um provocador e agente da extrema direita, um
saudosista da ditadura, um reacionário, preconceituoso e racista, há
muito tempo já devia ter sido processado por seus atos e declarações.
Mas o corporativismo e sua nenhuma importância impedem que ele responda
por seus atos como a agressão ontem ao senador do PSOL do Amapá, aos
demais integrantes das comissões e à consciência nacional democrática e
defensora da liberdade…
Blog do Zé Dirceu
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