sab, 21/09/2013
Já tinha alguns anos de jornalismo, o país começava a lutar pela
redemocratização, fui entrevistar Abraham Lowenthal, um dos pensadores
do Partido Democrata norte-americano e estudioso da América Latina.
Na época, nós, jornalistas econômicos, estávamos empenhadíssimos em
convencer o meio empresarial de que a democracia era um "bom negócio".
Fiz uma série de perguntas sobre a importância da democracia para a
economia.
A resposta de Lowenthall me derrubou. "A democracia é importante porque é importante. Não precisa de justificativas econômicas".
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Saindo de Macapá, depois de uma palestra para coordenadores do Sebrae de todo o país, me vali do ensinamento de Lowenthal.
Um dos temas debatidos foi o Bolsa Família.
Um dos coordenadores apontou os benefícios que o BF trouxe a inúmeras regiões estagnadas do seu estado.
Primeiro veio o novo consumo, por meio do BF e da Previdência
Social. Em seguida, vieram os novos empreendimentos. Com eles, novos
empregos. E a região ganhou vida própria. No país todo, a melhoria de
renda gerou um mercado de consumo fantástico.
Outro coordenador tinha visão diferente. Sua percepção era a de que
as mães pobres passaram a ter mais filhos, para aumentar a Bolsa; as
famílias fugiram para as cidades, sobrecarregando os serviços públicos; e
diminuiu a propensão de todos para o trabalho.
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Com o BF houve redução da natalidade e da mortalidade infantil.
Mesmo reduzindo a mortalidade infantil, houve redução dos filhos. Ou
seja, o BF exerceu um papel civilizador, ao permitir às mães planejar, e
impedindo as crianças de morrer.
As estatísticas mostram, também, número crescente de beneficiários
do BF pedindo desligamento, depois de conseguir renda suficiente. Mas é
óbvio que, com o BF e a Previdência, os jovens passaram a entrar mais
tarde no mercado de trabalho e houve uma queda na oferta de mão de obra
para empregos de baixíssima remuneração.
Os dois fatos se refletiram em toda estrutura de emprego, provocando um efeito cascata de aumento do salário real.
Já as cidades mais pobres, especialmente no Nordeste, receberam
mais famílias pela relevante razão de que os caraminguás do BF deram
condições a elas de permanecer na sua região, mesmo enfrentando uma das
maiores secas da história. Obviamente, com a seca, procuraram as
cidades.
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Aí se entram em desdobramentos que nada têm a ver com o BF.
Um deles é o aumento do salário real, bom para o consumo, ruim para
a estrutura de custos das empresas. O caminho são reformas e melhorias
de gestão que signifiquem um choque de produtividade.
O segundo problema é que, nas regiões mais pobres, aumentou a renda
das pessoas mas não a receita dos municípios - contribuiu para isso a
imprudente política de desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados).
Mais uma vez, nada tem a ver com o BF.
No final do encontro, sugeri aos ouvintes que criticassem a
Fazenda, o Tesouro, a Receita, o Ministério das Cidades, mas não o Bolsa
Família. Se houver um céu no serviço público, seus criadores ganharam o
assento eterno.
Lembrando Lowenthall: o Bolsa Família é importante porque acabou com a fome de milhões de brasileiros. E basta.
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