20 de setembro de 2013 | 02:16
Desculpem os amigos se corro o risco de me repetir, mas é tanto,
tanto dinheiro envolvido – e dinheiro tão importante para o Brasil – que
acho importante esclarecer o quanto possa, e a quantos possa, sobre
tudo o que está acontecendo nesta preparação do leilão de Libra.
Em primeiro lugar, um acréscimo que só confirma o que disse antes: a
Chevron, outra gigante americana, juntou-se à Exxon, a British Petroleum
e a British Gás na sua retirada. Americanos e ingleses agiram
coordenadamente, numa atitude claramente política.
Governo americano e petroleiras vivem em tamanho mutualismo que é
impensável que esta ação em bloco não tenha o beneplácito – senão a
inspiração – dos dirigentes dos EUA.
Segundo, que todo mundo sabe que há um esqueleto de acordo firmado
entre a Petrobras e os chineses para entrarem juntas no leilão como
força virtualmente imbatível. Porque os chineses querem “remuneração” em
vendas firmes de petróleo bruto ao seu país.
Então isso seria ruim para o Brasil? Não seria muito melhor refinar o
petróleo e vender derivados refinados? Em alguns momentos – e essa é
uma tendência mundial pela insuficiência global de parques de refino –
sim.
Mas a questão é que, pelo investimento e prazo de implantação de
refinarias, se tudo correr bem,chegaremos a 2020 com uma capacidade de
refino de cerca de 3,6 milhoes de barris/dia, apenas o suficiente para
suprir o mercado interno de derivados. Mas a produção de petróleo já
terá chegado perto de 6 milhões de barris diários, o que produz um
excedente de perto de 2 milhões diários de petróleo bruto, que terá de
ser exportado em cru.
Mas não deveríamos, então, investir mais em refinarias? Sim, mas de
volta o problema: é caro e demorado fisicamente e o retorno econômico do
investimento é lentíssimo, de uma década ou mais. Justamente por isso,
no mundo, há um déficit de refinarias e, não por acaso, fazer refinaria
não está sequer nos planos das petroleiras estrangeiras para o Brasil.
Além disso, um refinaria não opera com qualquer tipo de petróleo, ela
só pode utilizar óleo com determinada densidade. Antes do pré-sal, 85%
do petróleo que hoje produzimos é pesado. O do pré-sal, que vai
corresponder ao aumento de produção, é leve.
A inconveniência do leilão de Libra está no valor do bonus iniciial –
de R$ 15 bilhões – que vai obrigar a uma descapitalização lesiva à
Petrobras, que só pelos seus 30% obrigatórios na nova lei, terá um
desembolso de R$ 4,5 bilhões. Se, como tudo indica, a participação da
brasileira for de 60% ou pouco mais que isso, o desembolso será em torno
de R$ 9 a 11 bilhões. Dinheiro que sai da sua capacidade de investir
para formarmos o tal – e mau – superavit fiscal.
Mas, frente à conjunção política que se formou, isso acaba sendo
aceitável, se nos garante o controle majoritário do maior campo de
petróleo do mundo, hoje.
Escrevo no início da madrugada, ainda sem ver as manchetes desta sexta.
Mas já deu para ver com que espanto e indignação a nossa mídia trata a
saída de americanos e ingleses do leilão, falando em “fracasso” e
“esvaziamento”.
E pergunto aos setores nacionalistas que ainda advogam o adiamento do
leilão: não era isso o que o país desejava, sobretudo depois da
revelação da espionagem americana sobre a Petrobras?
Vamos perder, por puerilidade, a oportunidade histórica de controlar
hegemonicamente o maior campo de petróleo deste país e, hoje, do mundo?
Tudo dentro da lei, das regras por ela lixada, com tal solidez que
balizará o desenvolvimento exploratório do enorme tesouro do pré-sal
ainda por ser descoberto ou delimitado?
A resposta a isso só pode ser um não!
Por: Fernando Brito
Tijolaço
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