Presidente chega com 24 horas de antecedência à
68ª Assembleia Geral das Nações Unidas; quer preparar com cuidado seu
pronunciamento de abertura; mais que manter tradição, Dilma Rousseff vai
denunciar espionagem dos EUA do presidente Barack Obama sobre o Brasil e
outros países; pode deixá-lo humilhado ou manter porta entreaberta para
um pedido sério de desculpas e a construção de "uma nova governança
contra a invasão de privacidade"; Dilma está com o moral alto; nos
últimos dois anos, ela usou o palanque mais importante do mundo para
defender reforço do poder multilateral e dizer que só estímulos ao
crescimento poderiam tirar o mundo da crise: em ambos os tiros, acertou
na mosca
247 – A presidente Dilma Rousseff chegou a Nova
York na manhã desta segunda-feira 23 com uma confortável antecedência de
24 horas sobre seu pronunciamento de abertura da 68º Assembleia Geral
da ONU, na terça 24. Promete ser histórico. Não do ponto de vista
ornamental, como simples sequência da tradição inaugurada em 1947, pela
qual é o Brasil que abre os trabalhos, mas das verdades e consequências
que esse pronunciamento pode exibir e provocar diante do chamado
concerto das Nações. Dilma e o Brasil ficaram indignados com o episódio
de espionagem americana cujo início, meio e fim ainda não se conhecem de
todo. O Brasil quer agora a construção "de uma nova governança contra a
invasão de privacidade".
A denúncia do mau comportamento dos EUA de Barack Obama no principal
palanque o mundo será, necessariamente, feita por Dilma. Isso já foi
adiantado pelo Palácio do Planalto. Como tem acontecido, a presidente
não irá tergiversar, como gostam de fazer muitos políticos, sobre o
assunto principal. O que não se sabe, porém, é até que ponto ela
pretende levar o seu discurso.
Dilma pode, se quiser, aplicar um verdadeiro sabão em Obama, o
comandante em chefe da maior máquina de guerra e espionagem do mundo.
Sob ordens dele, apesar de ter dito a Dilma que não sabia de nada mas
que iria saber, os Estados Unidos violaram classicamente a privacidade
da presidente do Brasil, do governo, da maior estatal do País e de
milhões de cidadãos. Também se descobriu que outros países amigos, como o
México, também havia sofrido o mesmo tipo de bisbilhotagem à própria
revelia. Um feito ao contrário sem precedentes. Uma c... internacional.
Mais uma.
A presidente está no direito de exigir, com toda a veemência, que os
americanos limpem a sujeira que fizeram. Diplomaticamente, isso já vai
sendo feito, por meio dos movimentos anunciados, discretos e
silenciosos, como convém, do chanceler Luís Alberto Figueiredo. Ele se
reuniu longamente com autoridades americanas antes de a presidente
cancelar a viagem de Estado que faria aos Estados Unidos, no próximo
mês. Figueiredo será o principal conselheiro da presidente no tom do
discurso que será pronunciado diante da ONU.
No ano passado, Dilma ocupou o mesmo palanque para dar continuidade
ao que falara na assembleia anterior. O ponto central de Dilma, nas duas
ocasiões, foi mostrar o exemplo de combate à crise que vinha sendo
praticado ao Brasil – de estímulo à economia em lugar de patrocínio à
retração – e a importância do avanço e consolidação da multilateralidade
para os destinos do mundo. Em ambos os tiros acertou na mosca.
A eleição, em maio, do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo para a
chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC) já representou uma
compreensão, na prática, do posicionamento disseminado por Dilma. No
campo econômico mais amplo, praticamente todos os bancos centrais do
mundo, inclusive o americano, trocaram, desde o ano passado, as muitas
regras de contenção da atividade econômica para diferentes pacotes de
estímulo ao crescimento – a exemplo do que fizera, antes, o BC do
Brasil.
Dilma, portanto, mesmo tendo feito discursos na ONU que, a princípio,
despertam oposição entre os países ricos e ceticismo da mídia
internacional, está com o moral alto. Ela tem apontado rumos certos para
o mundo.
A presidente sabe que a espionagem americana é um reflexo sinistro do
poderia exacerbado que os EUA querem exercer sobre o mundo. Com seus
interesses econômicos à frente, a diplomacia americana tornou-se um
centro de administração de guerras em curso e, infelizmente, provocação
de novos conflitos. Tudo isso deverá ser dito por Dilma à ONU, mas o
estilo escolhido vai fazer toda a diferença. A presidente não costuma
usar meias palavras. Barack Obama poderá iniciar a assembleia geral da
ONU por baixo.
Abaixo, notícia da Agência Brasil a respeito:
Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A presidenta Dilma Rousseff chegou hoje (23) às 6h55 (5h55
no horário local) a Nova York, onde fará o discurso de abertura da 68ª
Assembleia Geral das Nações Unidas na manhã desta terça-feira (24).
Dilma não tem compromissos oficiais durante o dia. Uma das principais
mensagens que ela pretende passar em sua fala na ONU é propor o que ela
chamou de "nova governança contra a invasão de privacidade". O tema é
consequência das denúncias da espionagem feita pela Agência Nacional de
Segurança dos Estados Unidos (nas, na sigla em inglês) e que levaram a
presidenta brasileira a adiar a visita de Estado que faria a Washington
em outubro.
As denúncias foram publicadas nos últimos meses a partir de dados
divulgados pelo norte-americano Edward Snowden, ex-funcionário de uma
empresa que prestava serviço para o governo norte-americano. Há
denúncias de que cidadãos comuns de vários países e, inclusive, a
presidenta Dilma Rousseff, seus assessores e a Petrobras tenham sido
espionados. A presidenta Dilma adiantou que esse será também o principal
tema a ser tratado em seu discurso durante a Cúpula do G20, realizada
início do mês em São Petersburgo, na Rússia.
Antes do discurso, previsto para as 9h, ela se encontra com o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Dilma será a primeira chefe de
Estado a falar, sendo seguida pelo presidente norte-americano Barack
Obama, com quem conversou na semana passada sobre as denúncias de
espionagem e cobrou explicações.
Os dois presidentes também falarão sobre o conflito na Síria. Tanto
Dilma quanto Obama condenarão o uso de armas de destruição em massa. A
presidenta brasileira, no entanto, deve explicitar mais uma vez a
posição do governo do país de não uso de força militar contra o governo
sírio. Obama, por outro lado, busca apoio para uma intervenção caso o
governo de Bashar Al Assad não entregue as armas químicas imediatamente.
Amanhã (24) Dilma deve retornar à ONU às 15h para a primeira reunião
do Fórum de Alto Nível de Desenvolvimento Sustentável, que reúne
ministros de Meio Ambiente anualmente e chefes de Estado a cada quatro. A
meta é implementar as metas estabelecidas no documento final da
Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, intitulado
O Futuro que Queremos. Os países se comprometeram, durante a
conferência do Rio de janeiro, em 2012, a definir objetivos para o
desenvolvimento e a eliminação da pobreza no mundo.
Terça-feira, Dilma também se encontra com o presidente mundial da
companhia Telefônica, Cesar Alierta. Ainda não há previsão de encontro
com outros chefes de Estado. Na quarta-feira (25), Dilma fará o
encerramento de um seminário sobre oportunidades em infraestrutura no
Brasil e embarca de volta para Brasília.
Brasil 247
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