segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Não é fácil ser Zé Dirceu

Postado em 29 set 2013
Marcação cerrada
Marcação cerrada

Não é fácil ser Zé Dirceu. E nem ter qualquer tipo de relação com ele. Namoradas, então, são um alvo constante.

Recebi logo pela manhã, pelo Facebook, o link de um artigo de Josias de Souza, blogueiro do UOL. Ele espalhava uma (suposta) informação que saíra na Veja: a (alegada) namorada de 
Dirceu conseguira um emprego no Senado.

Você pode imaginar os detalhes dados, do salário à carga horária: em suma, segundo a Veja e Josias, ela ganha muito e trabalha pouco.

Não vou discutir aqui a credibilidade da Veja. Mas não posso deixar de lembrar que, em sua louca cavalgada rumo à direita, a revista apresentou Maycon Freitas como “a voz que emergiu das ruas”, nos protestos de junho.

A credencial de Maycon, logo se veria, era falar exatamente o que a Veja queria que ele falasse. Sozinho, ele não mobilizava pessoas capazes de lotar uma padaria no domingo.

Mas volto ao caso em questão.

A funcionária do Senado apedrejada, Simone Patrícia Tristão Pereira, tem vida profissional anterior, como uma simples pesquisa no Google mostra.

Em 2011, o governador do Estado de Tocantins, Siqueira Campos, a nomeou assessora especial da Secretaria da Cultura. Aqui, você pode ver o Diário Oficial com a nomeação.

O governador, apenas para registro, é do PSDB. Isto quer dizer o seguinte: a informação que você está lendo aqui, no DCM, não vai aparecer em nenhum lugar que quer atacar Simone e, por ela, Dirceu.

Também é bom lembrar que o “moralismo” impregnado na “denúncia” não se manifestou, jamais, quando Serra arrumou empregos para Soninha e familiares no governo paulista.

A mídia também jamais colocou em dúvida a competência do então genro de FHC, David Zylbersztajn, quando ele foi colocado à frente da Agência Nacional do Petróleo no governo do sogro.
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Ninguém questionou sua competência para o cargo

Antes da ANP, e já genro do FHC, o então governador Mário Covas deu a ele a Secretaria da Energia. Mas claro: aí era, para a mídia, talento, mérito, e não nepotismo.

Zylbersztajn deixou a ANP pouco depois de se separar da filha de FHC. Hoje, ele tem negócios da área de energia, e ninguém questiona a ética disso. Assim como ninguém cobra de Malan, ou de Gustavo Franco, posições pós-governo lucrativas.

Dirceu, em compensação, é constantemente massacrado por qualquer coisa que faça. Lembro de um Roda Viva em que ele fez a pergunta vital: “Não posso trabalhar?”

A Veja simplesmente ignorou a notícia do emprego que a Globo deu ao filho de Joaquim Barbosa. Cinicamente, alguém poderia dizer: mas é uma empresa.

Ora, quem acredita nessa desculpa acredita em tudo. É o chamado “nepotismo cruzado”. 

Emprego seu filho, mas você sabe que me deve um favor.

A Globo está no meio de um escândalo – não coberto pela mídia – de sonegação e trapaça fiscal. Neste caso apenas (há outros), deve em dinheiro de hoje 1 bilhão de reais.

O presidente do STF deve empregar o filho numa empresa em tal situação?

O Brasil tem que ser reformado, é verdade. Mas a reforma que a mídia propõe se centra na manutenção de todos os seus privilégios, acrescidos de mais alguns, se possível.

Para isso, vale tudo – a começar por dar ares de escândalo a qualquer coisa que possa atingir quem ela julga ser seus inimigos, como Dirceu.

Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo

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