Postado em 29 set 2013
Não é fácil ser Zé Dirceu. E nem ter qualquer tipo de relação com ele. Namoradas, então, são um alvo constante.
Recebi logo pela manhã, pelo Facebook, o link de um artigo de Josias
de Souza, blogueiro do UOL. Ele espalhava uma (suposta) informação que
saíra na Veja: a (alegada) namorada de
Dirceu conseguira um emprego no
Senado.
Você pode imaginar os detalhes dados, do salário à carga horária: em
suma, segundo a Veja e Josias, ela ganha muito e trabalha pouco.
Não vou discutir aqui a credibilidade da Veja. Mas não posso deixar
de lembrar que, em sua louca cavalgada rumo à direita, a revista
apresentou Maycon Freitas como “a voz que emergiu das ruas”, nos
protestos de junho.
A credencial de Maycon, logo se veria, era falar exatamente o que a
Veja queria que ele falasse. Sozinho, ele não mobilizava pessoas capazes
de lotar uma padaria no domingo.
Mas volto ao caso em questão.
A funcionária do Senado apedrejada, Simone Patrícia Tristão Pereira,
tem vida profissional anterior, como uma simples pesquisa no Google
mostra.
Em 2011, o governador do Estado de Tocantins, Siqueira Campos, a
nomeou assessora especial da Secretaria da Cultura. Aqui, você pode ver o Diário Oficial com a nomeação.
O governador, apenas para registro, é do PSDB. Isto quer dizer o
seguinte: a informação que você está lendo aqui, no DCM, não vai
aparecer em nenhum lugar que quer atacar Simone e, por ela, Dirceu.
Também é bom lembrar que o “moralismo” impregnado na “denúncia” não
se manifestou, jamais, quando Serra arrumou empregos para Soninha e
familiares no governo paulista.
A mídia também jamais colocou em dúvida a competência do então genro
de FHC, David Zylbersztajn, quando ele foi colocado à frente da Agência
Nacional do Petróleo no governo do sogro.
Antes da ANP, e já genro do FHC, o então governador Mário Covas deu a
ele a Secretaria da Energia. Mas claro: aí era, para a mídia, talento,
mérito, e não nepotismo.
Zylbersztajn deixou a ANP pouco depois de se separar da filha de FHC.
Hoje, ele tem negócios da área de energia, e ninguém questiona a ética
disso. Assim como ninguém cobra de Malan, ou de Gustavo Franco, posições
pós-governo lucrativas.
Dirceu, em compensação, é constantemente massacrado por qualquer
coisa que faça. Lembro de um Roda Viva em que ele fez a pergunta vital:
“Não posso trabalhar?”
A Veja simplesmente ignorou a notícia do emprego que a Globo deu ao
filho de Joaquim Barbosa. Cinicamente, alguém poderia dizer: mas é uma
empresa.
Ora, quem acredita nessa desculpa acredita em tudo. É o chamado
“nepotismo cruzado”.
Emprego seu filho, mas você sabe que me deve um
favor.
A Globo está no meio de um escândalo – não coberto pela mídia – de
sonegação e trapaça fiscal. Neste caso apenas (há outros), deve em
dinheiro de hoje 1 bilhão de reais.
O presidente do STF deve empregar o filho numa empresa em tal situação?
O Brasil tem que ser reformado, é verdade. Mas a reforma que a mídia propõe se centra na manutenção de todos os seus privilégios, acrescidos de mais alguns, se possível.
Para isso, vale tudo – a começar por dar ares de escândalo a qualquer
coisa que possa atingir quem ela julga ser seus inimigos, como Dirceu.
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