Um dos empresários mais poderosos do País,
Benjamin Steinbruch (dir.), da CSN, dá uma bronca em Persio Arida
(esq.), número dois do BTG Pactual, de André Esteves (esq. abaixo);
recentemente, num encontro de economistas, em Campos do Jordão (SP),
Arida deu a "brilhante" sugestão de que o governo elevasse o desemprego
de 5% para 7% para combater a inflação; "Nada é mais dramático para uma
sociedade do que a falta de postos de trabalho, que traz desesperança
aos chefes de família e desestrutura a sociedade", lembra Steinbruch; no
mesmo encontro, Jim O´Neill (dir. abaixo), criador da expressão BRICs,
afirmou que em lugar nenhum do mundo economistas reclamam do desemprego
baixo demais; detalhe: o BTG é um dos grupos financeiros que mais
assediam lideranças do PT
247 - O grito, aparentemente, estava entalado na
garganta do empresário Benjamin Steinbruch, dono da Companhia
Siderúrgica Nacional. Recentemente, num encontro de economistas em
Campos do Jordão, Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e do
BNDES no governo FHC, propôs uma ideia "brilhante". Segundo ele, para
combater a inflação, o governo deveria elevar o desemprego de 5% para 7%
(leia mais aqui).
No mesmo encontro, Arida foi ironizado pelo economista Jim O´Neill,
que criou a expressão BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), que disse
que em nenhum outro lugar do mundo economistas reclamam do desemprego
demais.
Atentdo a esse debate, Steinbruch dá hoje sua "bronca" no economista
Arida, sócio do BTG Pactual, uma instituição financeira que faz de tudo
para se manter próxima a lideranças do PT, e número dois da instituição
financeira comandada por André Esteves.
Segundo Steinbruch, o Brasil estaria muito pior se conselhos como os
de Arida estivessem sendo ouvidos. "O país certamente precisa de muitas
reformas e mudanças de rota. Mas propor aumento do desemprego é um
contrassenso. A "bronca" de O'Neill, sim, faz sentido. Alguém pode
imaginar o que seria do país se esses 7,7 milhões de empregos formais
não tivessem sido criados nos últimos cinco anos?", diz ele.
Leia, abaixo, seu artigo, publicado nesta terça-feira na Folha:
"A bronca"
Benjamin Steinbruch
É estranho que alguns economistas defendam que, para controlar a inflação, o desemprego deva ser maior
Jim O'Neill, o economista britânico sempre festejado por ter sido o
criador, em 2001, do acrônimo Bric, esteve no Brasil há duas semanas e
deu uma bronca em alguns colegas brasileiros. "Em nenhum outro lugar eu
ouviria economistas reclamando de que o desemprego está baixo demais.
Esse é o tipo de problema que qualquer ministro de Finanças europeu reza
para ter", afirmou.
O'Neill, que participou de um congresso sobre mercados financeiros,
em Campos do Jordão, merece aplausos. O Brasil deveria agradecer muito
por ter atravessado os cinco anos de crise global sem aumento de
desemprego. Nada é mais dramático para uma sociedade do que a falta de
postos de trabalho, que traz desesperança aos chefes de família e
desestrutura a sociedade.
É o que se vê hoje em alguns países europeus. Espanha e Grécia, por
exemplo, têm índices de desemprego que atingem 26% a 27% da população
economicamente ativa. Mais de 50% dos jovens desses países estão sem
trabalho e não têm como iniciar sua vida profissional.
Portugal também tem índice alto, de 16,5%. Felizmente, alguns países
europeus, como a Alemanha e a Noruega, ainda mantêm desemprego inferior a
6%.
É sem dúvida estranho que alguns economistas brasileiros venham
defendendo a ideia de que, para controlar a inflação, o país deveria
conviver com uma taxa de desemprego mais alta do que os atuais 5,6%,
além de elevar a taxa de juros.
Uma das constatações mais significativas das megamanifestações de
junho foi a inexistência total de cartazes com referência a emprego ou
desemprego, em gritante contraste com o que se vê nas ruas de grandes
cidades europeias, onde essas questões estão sempre em destaque.
Na discussão desse tema é conveniente lembrar que o país viveu no
passado recente momentos muito difíceis no mercado de trabalho. Além do
desemprego propriamente dito, havia uma rápida expansão do trabalho
informal. Na década de 1990, apenas 1 em cada 10 empregos gerados era
com carteira assinada. Ou seja, 90% dos postos de trabalho estavam sendo
preenchidos por meio de contratos de pessoas jurídicas, as famosas PJ.
Diante dos custos elevadíssimos da contratação de mão de obra formal,
em muitos casos superando 100% do valor do salário, e diante também dos
efeitos da estagnação e do baixo crescimento, empresas de todos os
tamanhos, muitas em desespero de causa, lançavam mão desses contratos
não convencionais, em desacordo com a lei trabalhista.
Esse cenário de relações de trabalho, com crescimento agressivo da
informalidade, era uma dor de cabeça para empregado e empregador.
Naquele momento, havia a certeza de que a solução do problema exigia
duas mudanças: uma na legislação trabalhista, para simplificá-la e
reduzir os custos da contratação de mão de obra formal, e outra no ritmo
de crescimento econômico.
Ambas ocorreram de forma parcial nos últimos dez anos. A primeira
veio apenas recentemente, com as desonerações de folha de pagamento,
medidas que beneficiaram alguns setores e, importante lembrar, são ainda
muito humildes e provisórias. Permanece até hoje, portanto, a elevada
imposição de impostos e encargos sobre os salários, um dos principais
fatores responsáveis pelo custo Brasil.
A segunda mudança também foi parcial. Mesmo longe do ritmo chinês, o
PIB brasileiro avançou nos últimos dez anos o suficiente para mudar
bastante aquela situação de balbúrdia nas relações trabalhistas.
Com a elevação do ritmo de crescimento, foram criados 15,4 milhões de
vagas formais de 2003 até agora. Nos cinco anos da crise global a
criação de postos atingiu 7,7 milhões.
Mesmo assim, em razão do crescimento da força de trabalho nesse
período, ainda havia cerca de 44 milhões de trabalhadores informais em
2011, segundo os dados mais recentes disponíveis.
O índice de
formalização, porém, evoluiu de 45% das pessoas ocupadas com mais de 16
anos em 2001 para 56% em 2011.
O país certamente precisa de muitas reformas e mudanças de rota. Mas
propor aumento do desemprego é um contrassenso. A "bronca" de O'Neill,
sim, faz sentido. Alguém pode imaginar o que seria do país se esses 7,7
milhões de empregos formais não tivessem sido criados nos últimos cinco
anos?
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