Novos dados publicados na imprensa hoje revelam um pouco mais das
entranhas do escândalo do cartel na área de transportes públicos montado
entre 1998 e 2008 pelos governos tucanos que se sucedem no Estado de
são Paulo nos últimos 20 anos. E do empenho do governo Geraldo Alckmin
em abafar o assunto, não passando informações nem para uma comissão que
ele próprio montou.
O cartel foi delatado pela multinacional Siemens ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE). A Folha de S. Paulo traz
reportagem hoje em que informa que o consultor José Fagali Netto, que
está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) como suspeito de ter
intermediado o pagamento de propina da Alstom a políticos e agentes
públicos tucanos paulistas, tinha um parceiro na cúpula da Secretaria de
Transportes Metropolitanos estadual que lhe fornecia dados internos do
metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
A intimidade de José Fagalli Neto com o setor decorre, diz o jornal,
do fato de ser irmão de José Jorge Fagali, gerente financeiro do Metrô
em 2006 e presidente da empresa entre 2007 e 2010. O metrô é vinculado à
Secretaria de Transportes Metropolitanos do governo paulista.
Secretaria entrega e-mails, prova de relação de consultor com cúpula
O acesso privilegiado do consultor José Fagalli Neto à cúpula dos
transportes metropolitanos foi denunciado por sua ex-secretaria Edna
Flores, em depoimento aos Ministérios Públicos Federal e Estadual (MPs).
Edna, inclusive, entregou e-mails que comprovariam a relação.
Já na entrevista publicada hoje pela Folha, Edna cita um 3º nome
dessa história, o do engenheiro Pedro Benvenutto, segundo ela,
frequentador do escritório do consultor Fagalli Netto, entre 2006 e
2007. Benvenutto foi coordenador de gestão e planejamento da Secretaria
de Transportes em parte dos governos tucanos de José Serra e Geraldo
Alckmin e agora é secretario-executivo do conselho gestor de Parcerias
Público-Privadas do governo de São Paulo.
Pelos dados passados aos MPs, conforme registra hoje o jornal, em
julho de 2006, Benvenuto transmitiu a José Fagali Neto cópia de e-mail
com discussões e planilhas sobre o Programa Integrado de Transportes
Urbanos do governo até 2012. A Secretaria de Transportes Metropolitanos
disse à Folha que todos os dados enviados por Benvenutto eram públicos.
Empresas contrataram consultor para ganhar PPP com CPTM
Benvenutto diz ao jornal que nunca divulgou dados sigilosos do Metrô
ou da CPTM. Mas, na ocasião, os dados públicos sobre gastos do Metrô,
reunidos no Plano Plurianual, só iam até 2007. O conjunto de e-mails
entregue pela secretária mostra que empresas como Bombardier e Tejofran
(duas das delatadas pela Siemens como participantes do cartel)
contrataram os serviços de José Fagali Neto para tentar conquistar uma
parceria público-privada com a CPTM para reformar trens da série 5000,
negócio que poderia alcançar R$ 1 bi. O negócio não se concretizou.
Em razão da suspeita de o consultor ter intermediado propinas da
Alstom, o governo da Suíça bloqueou uma conta atribuída a ele, com saldo
de US$ 6,5 milhões. Ex-secretário de Estado, Belisário dos Santos Jr,
advogado de José Fagali Neto, acusa Edna Flores de tentar chantagear seu
cliente com pedido de “elevada soma de dinheiro” para não entregar
dados de agenda e e-mails à polícia e à imprensa.
Segundo o advogado, como seu cliente se recusou a pagar, ela nada
recebeu e ajuizou ação trabalhista contra o consultor. Belisário não
quis falar ao jornal e nas respostas, por escrito, que encaminhou à
Folha, negou-se a responder sobre o conteúdo dos e-mails e o depoimento
de Edna aos MPs.
Governo Alckmin sonega informações à comissão que ele criou
Já o Estadão de hoje traz como principal matéria na política –
“Comissão cobra mais transparência do governo Alckmin no caso da
Siemens” – queixas dos integrantes do “Movimento TranSPparência”, aquela
comissão constituída há semanas pelo governador para dar publicidade à
apuração do cartel no setor metroferroviário.
Eles reclamam de que seu trabalho é “pouco efetivo” e um deles, o
presidente da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, rebatiza o
grupo: “Aquele nome (“Movimento TranSPparência”) foi ideia de
marqueteiro do Palácio (dos Badnirantes)”. Ao O Estado de S.Paulo de
hoje a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes afirma que a
Corregedoria-Geral da Administração do Estado (outro órgão integrante da
comissão) “nunca assumiu” o compromisso de divulgar documentos.
Ainda que mal pergunte: por que a comissão foi constituída, então? E
por que foi anunciada que um seus principais objetivo era dar
publicidade à apuração do cartel no setor metroferroviário?
Blog do Zé Dirceu
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