Postado em 22 set 2013
Data vênia, eu gostaria de saber por que só agora, tanto tempo
depois, o jurista Ives Gandra disse publicamente que Zé Dirceu foi
condenado sem provas.
A afirmação de Gandra foi o ponto alto de uma entrevista que ele
concedeu à jornalista Mônica Bérgamo, da Folha. A entrevista é um dos
assuntos mais discutidos neste final de semana na internet.
Gandra teve todas as oportunidades possíveis para dar sua opinião –
influente, vistas suas credenciais de jurista e, mais ainda, sua
conhecida falta de simpatia pelo PT.
Poderia ser num artigo, poderia ser numa entrevista – chances não faltaram.
Por que agora e não antes? Lembremos: no final do ano, Dirceu estava
com as malas prontas para ir para a cadeia. Se as coisas seguissem o
rumo que parecia que seria tomado, a declaração de Gandra seria um
insulto a mais a Dirceu, dada a sua extemporaneidade.
Minha impressão é que Gandra, de alguma forma, sabia que as portas da
mídia sempre tão abertas se fechariam para ele caso defendesse Dirceu e
acusasse o STF de má conduta.
Se ele pensou isso, estava mais que certo. A mídia tradicional –
excetuada, aqui e ali, a Folha – só dá espaço a quem escreve o que os
donos querem que seja dito.
Gandra seria posto na geladeira, como provavelmente acontecerá agora.
Ou alguém imagina que a Veja vá dar Amarelas com ele para expor seus
pontos, entre os quais, aliás, figura um elogio tórrido à “coragem” de
Lewandowski em ficar sozinho contra a manada? Alguém concebe Gandra em qualquer programa de entrevistas da Globonews ou da CBN?
Gandra provavelmente não quis se opor à, bem, à manada comandada pela mídia.
Mas.
Mas há uma questão de consciência que deveria se sobrepor. Foi o que
fez Celso de Mello ao acolher – sob massacrante pressão da mídia e de
pares como Marco Aurélio de Mello e Gilmar Mendes – os chamados embargos
infringentes.
É possível que, de alguma forma, Celso de Mello tenha inspirado Gandra.
Por isso, ainda que esta seja uma hipótese, seguem aqui os aplausos ao decano do STF.
Clap, clap, clap.
De pé.
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