terça-feira, 8 de outubro de 2013

"Pibinho" X "Pnadona" é o novo debate econômico

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Enquanto economistas tucanos, como Edmar Bacha, batem duro no baixo crescimento econômico, o presidente do Ipea, Marcelo Néri, destaca que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios foi a melhor dos últimos vinte anos, mostrando um grande aumento do bem-estar econômico; em seu Facebook, Lula destacou os pontos elencados por Néri e, hoje, no Globo, Bacha afirma que, "se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde, toda a população sofrerá"; enquanto isso, o cientista político Antônio Lavareda afirma que, mais importante do que as alianças políticas, o que definirá as eleições de 2014 é a velha senhora de sempre: a economia
8 de Outubro de 2013 

247 - Enquanto analistas políticos debatem os efeitos da aliança entre Eduardo Campos, o ex-presidente Lula e um dos principais gurus do PSDB, Edmar Bacha, parecem mais preocupados com a economia. Em seu Facebook, Lula postou um artigo sobre a análise feita pelo economista Marcelo Neri, presidente do Ipea, a respeito dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, que seria a melhor dos últimos vinte anos no que diz respeito ao aumento do bem-estar econômico, a despeito do baixo crescimento.
Em resposta à análise de Neri, destacada por Lula, o economista Edmar Bacha publica nesta terça o artigo sobre as contradições entre o "pibinho" e a "pnadona". Segundo ele, se o crescimento se mantiver baixo, mais cedo ou mais tarde, a população sofrerá.
Enquanto isso, o cientista político Antônio Lavareda, um dos mais experientes do País, afirma que o fator decisivo nas eleições de 2014 será a "velha senhora" que decidiu os últimos pleitos: a economia. Por isso mesmo, esse debate ganha relevância.

Abaixo, o artigo de Bacha:

O Pibinho e a Pnadona - EDMAR BACHA
Consta que o general Médici, então ocupando a Presidência do país, teria dito, no auge do chamado milagre econômico do regime militar, que a economia vai bem, mas o povo vai mal . A frase me inspirou a criar, em 1974, a fábula sobre o reino da Belíndia, uma ilha em que poucos belgas eram cercados de muitos indianos. Recentemente, economistas do governo, preocupados com a sequência de pibinhos acompanhados de elevada inflação, resolveram partir para a luta e proclamar que a economia vai mal, mas o povo vai bem . Marcelo Neri tem dado entrevistas dizendo que Belíndia agora tem novo significado: a renda de nossos belgas cresce pouco como a dos europeus, mas a renda de nossos indianos cresce igual à dos chineses. Será que o Brasil mudou tanto assim, e deixou de ser uma Belíndia para se tornar uma Indiabela?

Antes fosse. A realidade é que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta.

Marcelo Neri, em artigo no GLOBO (4 de outubro), se entusiasma com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, segundo a qual o crescimento da renda por brasileiro teria sido de 8% de 2011 a 2012, um número maior do que o da China. O contraste com o PIB per capita não poderia ser maior, pois este aumentou apenas 0,1% de 2011 a 2012. Como pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter crescido tanto assim?

Neri não explica. Apenas assevera que entender o Brasil não é tarefa para amadores e mantém seu otimismo de que em 2013 haverá uma alta na felicidade geral da nação. Euforia ministerial à parte, parece melhor adotar uma atitude mais cautelosa.

Caberia, antes de tudo, entender por que os dados da Pnad destoam tanto daqueles do PIB. Tarefa para profissionais, diria o Neri! Infelizmente, os profissionais andam batendo cabeça a respeito desse assunto. Alguns acham que o PIB está subestimado. Outros acham que se trata de conceitos distintos de renda real, pois a renda da Pnad é corrigida pela inflação (INPC) e o PIB é corrigido pelo chamado deflator implícito. Outros notam que o PIB é um conceito muito mais amplo que a renda das famílias na Pnad e que a comparação deveria ser feita, não com o PIB, mas com o consumo das famílias nas contas nacionais. Outros salientam que a Pnad apenas pergunta às pessoas qual foi sua renda em setembro de cada ano, enquanto que o PIB engloba uma massa muito maior de informações e cobre o ano inteiro.

Há, finalmente, a questão do salário mínimo, cujo valor real vem sendo reajustado bem acima da inflação há alguns anos. É possível que a renda reportada pelas pessoas à Pnad seja muito influenciada pelo valor do mínimo legal e supere os ganhos financeiros que elas de fato auferem, especialmente quando transitam da informalidade para a formalidade. A evidência de o consumo das famílias nas contas nacionais não acompanhar o crescimento da renda da Pnad seria um indício dessa superestimação.

Enquanto os economistas debatem as respostas para o dilema PIB x Pnad, é bom lembrar que o PIB retrata o potencial de produção do país. Se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde toda a população sofrerá. Durante algum tempo, especialmente num país tão desigual quanto o nosso, é possível elevar a renda dos mais pobres através de taxação e transferências, por exemplo. Isso é válido, mas não é sustentável. O Brasil precisa encontrar um caminho em que a distribuição de renda se alie ao crescimento, algo que ainda não conseguimos.

Leia, ainda, reportagem postada por Lula em seu Facebook sobre a análise de Marcelo Néri a respeito da Pnad:

Pnad foi a melhor dos últimos 20 anos, diz presidente do Ipea
Outros fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo. Para economista, "no conjunto das transformações, foi a melhor Pnad dos últimos 20 anos" 

De PT no Senado

O Brasil dos brasileiros vai muito melhor que o Brasil dos economistas. A conclusão é do presidente Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e secretário de Assuntos Estratégicos, ministro Marcelo Neri, que na manhã desta terça-feira (1º) fez uma análise dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), no lançamento da primeira análise social da pesquisa 2012

Divulgados na última sexta-feira (27), os números da Pnad mostram que existem dois Brasis: um que gerou Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9%, apelidado de “pibinho”, e outro, revelado pela pesquisa, que revelou crescimento de 8% na renda média dos trabalhadores, “um desempenho de nível chinês”, como definiu Néri.

“A Pnad 2012 surpreende muito, porque foi o ano do ‘pibinho’ – o PIB cresceu 0,9%, mas a renda média dos brasileiros cresceu 8,9%. Ou seja, uma diferença de 8 pontos percentuais. O Brasil dos economistas está indo muito pior que o Brasil dos brasileiros. A desigualdade deu uma estabilizada [descendente] em 2012, mas, com certeza, a pobreza teve uma queda espetacular por conta do crescimento”, afirmou Neri. Entre 2011 e 2012, 1 milhão de brasileiros deixaram a pobreza extrema e 3,5 milhões deixaram a pobreza.

Segundo o ministro, em todos os extratos da população, a renda aumentou bastante, “em ritmo chinês”, e “isso está em completa dissonância com os dados das contas nacionais do PIB”. Para Neri, o avanço registrado pela Pnad deve ser atribuído ao forte crescimento do mercado de trabalho, principalmente pelo aumento do salário e não tanto pelo crescimento na ocupação, pois o país está vivendo quase um momento de pleno emprego. “Houve uma melhora em termos de formalidade e mais acesso a direitos trabalhistas. Fundamentalmente, é uma economia em que o mercado de trabalho está descolado do crescimento do PIB. São dois Brasis completamente diferentes.”

Outros fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira demonstrado na Pnad foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo, destacou o ministro, que apontou nova queda na desigualdade: “de 2003 até 2011, tivemos um crescimento da renda na Pnad de 40,5% no acumulado. E o PIB per capita cresceu 27,7% nesse período.”

Outra avaliação da Pnad, realizada pelos pesquisadores Andrezza Rosalém e Samuel Franco, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) mostra que quatro milhões de pessoas deixaram a condição de pobreza (renda mensal de até R$ 233) e outros 1,8 milhão saiu da linha da extrema pobreza, faixa que considera quem vive com até R$ 116,50 por mês. Em entrevista ao jornal O Globo, eles apontaram que o percentual de pobres do País baixou de 20,6% em 2011 para 18% no ano passado. Já a parcela da população em situação de extrema pobreza passou de 6,9% para 5,8%.

Tanto os pesquisadores do Iets quanto Marcelo Neri chamaram atenção para a desaceleração na queda da desigualdade, cuja taxa permaneceu estagnada entre 2011 e 2012. Nery destacou um dado curioso: os segmentos que tiveram o mais significativo crescimento de renda neste período foram os 5% mais pobres (cuja renda cresceu próximo dos 20%) e os 5% mais ricos, que tiveram um incremento de renda em torno dos 9%.

Na leitura feita por Rosalém e Franco dos números da Pnad, eles destacam que apenas os 20% mais pobres da população tiveram ganho nos rendimentos acima da média nacional. As demais parcelas com renda também baixa ganharam igual ou inferior à média nacional. “Nos últimos dez anos, a pobreza caiu 1,5 ponto percentual por ano e, no ano passado, baixou 2,6 pontos. A extrema pobreza vem encolhendo em média um ponto por ano e recuou 1,1 ponto em 2012”, explicou Andrezza Rosalém.

Marcelo Neri também destacou a redução no total de pobres do País. Com critérios diferentes para classificar extrema pobreza, Neri afirma que o percentual de brasileiros nessa condição baixou de 4,2% em 2011 para 3,6% em 2012, o que indica que 1,1 milhão de pessoas deixaram essa condição no ano passado.

Bens duráveis
 
O período de 2011 a 2012 também registrou o maior aumento do acesso dos brasileiros aos bens duráveis desde 2008, segundo a Pnad. Naquele ano, o governo lançou o incentivo fiscal para combater a crise, mas acabou por renová-lo em várias ocasiões para estimular o consumo. Segundo Maria Lúcia Vieira, gerente do IBGE, o benefício do IPI menor “deu um empurrão” no acesso a eletrodomésticos da linha branca e veículos. Analistas citam ainda a expansão do crédito a custo menor – os juros só começaram a subir neste ano– como motor das vendas dos dois setores.

A grande vedete foi a máquina de lavar, bem de maior valor que se popularizou no país. Desde 2008, cerca de 10 milhões de lares passaram a ter o utensílio, presente em 55,1% dos domicílios em 2010. Em 1992, eram só 24,1%. Também cresceu o acesso a fogão e refrigerador, mas ambos já estavam na grande maioria dos domicílios.
O crédito fácil e mais barato até o ano passado fez ainda as famílias sofisticarem as compras. 

Os lares com geladeira de duas portas (com freezer separado) subiram 15% de 2011 para 2012, enquanto os que têm a de uma porta só caíram 2,5%. Ainda sob efeito do desconto do IPI e do financiamento, 5,7 milhões de famílias compraram carros desde 2008. A penetração do automóvel foi de 36,4% a 42,4%. “Além do IPI e do crédito mais barato, o emprego e a renda cresceram, o que ajudou as famílias a satisfazerem uma necessidade de consumo ou trocarem o carro ou a geladeira por um novo”, diz o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

Educação
 
Os dados relativos à Educação foram analisados pelo professor de Economia da Unicamp, Eduardo Fagnani, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Para ele, os índices revelados pela Pnad mostram que o Brasil está “no caminho certo”, ainda que a pesquisa não apure a qualidade do ensino. “Mas a universalização já existe” e isso, segundo o professor, é o que irá garantir a diminuição das taxas de analfabetismo.

Em sua análise, a educação infantil vem sendo ampliada e isso é fato importante, “a chave para acabar com o analfabetismo”.
Para Fagnani, os resultados no setor da Educação não podem ser lidos sem se levar em consideração uma trajetória histórica e o passado recente, “quando os governos neoliberais transferiram as responsabilidades e os problemas para os indivíduos”, refreando a ação do Estado, mas defendeu que os números sejam usados para planejar o futuro. Ele lembra que o País criou mais de 18 milhões de empregos, na última década, mas esses são postos em geral em torno de um e meio salário mínimo. “Grande parte foi criado no setor de serviços, construção civil. Acredito que é importante na nossa reflexão pensar no crescimento industrial, que é capaz de aumentar a inserção dos trabalhadores de maneira menos precária”.



Brasil 247

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