Enquanto
economistas tucanos, como Edmar Bacha, batem duro no baixo crescimento
econômico, o presidente do Ipea, Marcelo Néri, destaca que a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios foi a melhor dos últimos vinte anos,
mostrando um grande aumento do bem-estar econômico; em seu Facebook,
Lula destacou os pontos elencados por Néri e, hoje, no Globo, Bacha
afirma que, "se o PIB se mantiver estagnado, mais cedo ou mais tarde,
toda a população sofrerá"; enquanto isso, o cientista político Antônio
Lavareda afirma que, mais importante do que as alianças políticas, o que
definirá as eleições de 2014 é a velha senhora de sempre: a economia
247 - Enquanto
analistas políticos debatem os efeitos da aliança entre Eduardo Campos, o
ex-presidente Lula e um dos principais gurus do PSDB, Edmar Bacha,
parecem mais preocupados com a economia. Em seu Facebook, Lula postou um
artigo sobre a análise feita pelo economista Marcelo Neri, presidente
do Ipea, a respeito dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, a Pnad, que seria a melhor dos últimos vinte anos no que diz
respeito ao aumento do bem-estar econômico, a despeito do baixo
crescimento.
Em resposta à análise de Neri,
destacada por Lula, o economista Edmar Bacha publica nesta terça o
artigo sobre as contradições entre o "pibinho" e a "pnadona". Segundo
ele, se o crescimento se mantiver baixo, mais cedo ou mais tarde, a
população sofrerá.
Enquanto isso, o cientista político
Antônio Lavareda, um dos mais experientes do País, afirma que o fator
decisivo nas eleições de 2014 será a "velha senhora" que decidiu os
últimos pleitos: a economia. Por isso mesmo, esse debate ganha
relevância.
Abaixo, o artigo de Bacha:
O Pibinho e a Pnadona - EDMAR BACHA
Consta que o general
Médici, então ocupando a Presidência do país, teria dito, no auge do
chamado milagre econômico do regime militar, que a economia vai bem, mas
o povo vai mal . A frase me inspirou a criar, em 1974, a fábula sobre o
reino da Belíndia, uma ilha em que poucos belgas eram cercados de
muitos indianos. Recentemente, economistas do governo, preocupados com a
sequência de pibinhos acompanhados de elevada inflação, resolveram
partir para a luta e proclamar que a economia vai mal, mas o povo vai
bem . Marcelo Neri tem dado entrevistas dizendo que Belíndia agora tem
novo significado: a renda de nossos belgas cresce pouco como a dos
europeus, mas a renda de nossos indianos cresce igual à dos chineses.
Será que o Brasil mudou tanto assim, e deixou de ser uma Belíndia para
se tornar uma Indiabela?
Antes fosse. A realidade é
que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair
da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda
melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da
bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente
para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do
mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta.
Marcelo Neri, em artigo
no GLOBO (4 de outubro), se entusiasma com o resultado da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, segundo a qual o
crescimento da renda por brasileiro teria sido de 8% de 2011 a 2012, um
número maior do que o da China. O contraste com o PIB per capita não
poderia ser maior, pois este aumentou apenas 0,1% de 2011 a 2012. Como
pode o PIB per capita ter se estagnado e a renda per capita na Pnad ter
crescido tanto assim?
Neri não explica. Apenas
assevera que entender o Brasil não é tarefa para amadores e mantém seu
otimismo de que em 2013 haverá uma alta na felicidade geral da nação.
Euforia ministerial à parte, parece melhor adotar uma atitude mais
cautelosa.
Caberia, antes de tudo,
entender por que os dados da Pnad destoam tanto daqueles do PIB. Tarefa
para profissionais, diria o Neri! Infelizmente, os profissionais andam
batendo cabeça a respeito desse assunto. Alguns acham que o PIB está
subestimado. Outros acham que se trata de conceitos distintos de renda
real, pois a renda da Pnad é corrigida pela inflação (INPC) e o PIB é
corrigido pelo chamado deflator implícito. Outros notam que o PIB é um
conceito muito mais amplo que a renda das famílias na Pnad e que a
comparação deveria ser feita, não com o PIB, mas com o consumo das
famílias nas contas nacionais. Outros salientam que a Pnad apenas
pergunta às pessoas qual foi sua renda em setembro de cada ano, enquanto
que o PIB engloba uma massa muito maior de informações e cobre o ano
inteiro.
Há, finalmente, a questão
do salário mínimo, cujo valor real vem sendo reajustado bem acima da
inflação há alguns anos. É possível que a renda reportada pelas pessoas à
Pnad seja muito influenciada pelo valor do mínimo legal e supere os
ganhos financeiros que elas de fato auferem, especialmente quando
transitam da informalidade para a formalidade. A evidência de o consumo
das famílias nas contas nacionais não acompanhar o crescimento da renda
da Pnad seria um indício dessa superestimação.
Enquanto os economistas
debatem as respostas para o dilema PIB x Pnad, é bom lembrar que o PIB
retrata o potencial de produção do país. Se o PIB se mantiver estagnado,
mais cedo ou mais tarde toda a população sofrerá. Durante algum tempo,
especialmente num país tão desigual quanto o nosso, é possível elevar a
renda dos mais pobres através de taxação e transferências, por exemplo.
Isso é válido, mas não é sustentável. O Brasil precisa encontrar um
caminho em que a distribuição de renda se alie ao crescimento, algo que
ainda não conseguimos.
Leia, ainda, reportagem postada por Lula em seu Facebook sobre a análise de Marcelo Néri a respeito da Pnad:
Pnad foi a melhor dos últimos 20 anos, diz presidente do Ipea
Outros
fatores que contribuíram para o bom momento da economia brasileira foram
a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário mínimo.
Para economista, "no conjunto das transformações, foi a melhor Pnad dos
últimos 20 anos"
De PT no Senado
O Brasil dos brasileiros
vai muito melhor que o Brasil dos economistas. A conclusão é do
presidente Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e secretário
de Assuntos Estratégicos, ministro Marcelo Neri, que na manhã desta
terça-feira (1º) fez uma análise dos resultados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), no lançamento da primeira análise social
da pesquisa 2012
Divulgados na última
sexta-feira (27), os números da Pnad mostram que existem dois Brasis: um
que gerou Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9%, apelidado de “pibinho”, e
outro, revelado pela pesquisa, que revelou crescimento de 8% na renda
média dos trabalhadores, “um desempenho de nível chinês”, como definiu
Néri.
“A Pnad 2012 surpreende
muito, porque foi o ano do ‘pibinho’ – o PIB cresceu 0,9%, mas a renda
média dos brasileiros cresceu 8,9%. Ou seja, uma diferença de 8 pontos
percentuais. O Brasil dos economistas está indo muito pior que o Brasil
dos brasileiros. A desigualdade deu uma estabilizada [descendente] em
2012, mas, com certeza, a pobreza teve uma queda espetacular por conta
do crescimento”, afirmou Neri. Entre 2011 e 2012, 1 milhão de
brasileiros deixaram a pobreza extrema e 3,5 milhões deixaram a pobreza.
Segundo o ministro, em
todos os extratos da população, a renda aumentou bastante, “em ritmo
chinês”, e “isso está em completa dissonância com os dados das contas
nacionais do PIB”. Para Neri, o avanço registrado pela Pnad deve ser
atribuído ao forte crescimento do mercado de trabalho, principalmente
pelo aumento do salário e não tanto pelo crescimento na ocupação, pois o
país está vivendo quase um momento de pleno emprego. “Houve uma melhora
em termos de formalidade e mais acesso a direitos trabalhistas.
Fundamentalmente, é uma economia em que o mercado de trabalho está
descolado do crescimento do PIB. São dois Brasis completamente
diferentes.”
Outros fatores que
contribuíram para o bom momento da economia brasileira demonstrado na
Pnad foram a melhor distribuição de renda e os ganhos reais do salário
mínimo, destacou o ministro, que apontou nova queda na desigualdade: “de
2003 até 2011, tivemos um crescimento da renda na Pnad de 40,5% no
acumulado. E o PIB per capita cresceu 27,7% nesse período.”
Outra avaliação da Pnad,
realizada pelos pesquisadores Andrezza Rosalém e Samuel Franco, do
Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) mostra que quatro
milhões de pessoas deixaram a condição de pobreza (renda mensal de até
R$ 233) e outros 1,8 milhão saiu da linha da extrema pobreza, faixa que
considera quem vive com até R$ 116,50 por mês. Em entrevista ao jornal O
Globo, eles apontaram que o percentual de pobres do País baixou de
20,6% em 2011 para 18% no ano passado. Já a parcela da população em
situação de extrema pobreza passou de 6,9% para 5,8%.
Tanto os pesquisadores
do Iets quanto Marcelo Neri chamaram atenção para a desaceleração na
queda da desigualdade, cuja taxa permaneceu estagnada entre 2011 e 2012.
Nery destacou um dado curioso: os segmentos que tiveram o mais
significativo crescimento de renda neste período foram os 5% mais pobres
(cuja renda cresceu próximo dos 20%) e os 5% mais ricos, que tiveram um
incremento de renda em torno dos 9%.
Na leitura feita por
Rosalém e Franco dos números da Pnad, eles destacam que apenas os 20%
mais pobres da população tiveram ganho nos rendimentos acima da média
nacional. As demais parcelas com renda também baixa ganharam igual ou
inferior à média nacional. “Nos últimos dez anos, a pobreza caiu 1,5
ponto percentual por ano e, no ano passado, baixou 2,6 pontos. A extrema
pobreza vem encolhendo em média um ponto por ano e recuou 1,1 ponto em
2012”, explicou Andrezza Rosalém.
Marcelo Neri também
destacou a redução no total de pobres do País. Com critérios diferentes
para classificar extrema pobreza, Neri afirma que o percentual de
brasileiros nessa condição baixou de 4,2% em 2011 para 3,6% em 2012, o
que indica que 1,1 milhão de pessoas deixaram essa condição no ano
passado.
Bens duráveis
O período de 2011 a 2012 também registrou o maior aumento do acesso dos
brasileiros aos bens duráveis desde 2008, segundo a Pnad. Naquele ano, o
governo lançou o incentivo fiscal para combater a crise, mas acabou por
renová-lo em várias ocasiões para estimular o consumo. Segundo Maria
Lúcia Vieira, gerente do IBGE, o benefício do IPI menor “deu um
empurrão” no acesso a eletrodomésticos da linha branca e veículos.
Analistas citam ainda a expansão do crédito a custo menor – os juros só
começaram a subir neste ano– como motor das vendas dos dois setores.
A grande vedete foi a
máquina de lavar, bem de maior valor que se popularizou no país. Desde
2008, cerca de 10 milhões de lares passaram a ter o utensílio, presente
em 55,1% dos domicílios em 2010. Em 1992, eram só 24,1%. Também cresceu o
acesso a fogão e refrigerador, mas ambos já estavam na grande maioria
dos domicílios.
O crédito fácil e mais
barato até o ano passado fez ainda as famílias sofisticarem as compras.
Os lares com geladeira de duas portas (com freezer separado) subiram 15%
de 2011 para 2012, enquanto os que têm a de uma porta só caíram 2,5%.
Ainda sob efeito do desconto do IPI e do financiamento, 5,7 milhões de
famílias compraram carros desde 2008. A penetração do automóvel foi de
36,4% a 42,4%. “Além do IPI e do crédito mais barato, o emprego e a
renda cresceram, o que ajudou as famílias a satisfazerem uma necessidade
de consumo ou trocarem o carro ou a geladeira por um novo”, diz o
economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.
Educação
Os dados relativos à Educação foram analisados pelo professor de
Economia da Unicamp, Eduardo Fagnani, pesquisador do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Para ele, os índices
revelados pela Pnad mostram que o Brasil está “no caminho certo”, ainda
que a pesquisa não apure a qualidade do ensino. “Mas a universalização
já existe” e isso, segundo o professor, é o que irá garantir a
diminuição das taxas de analfabetismo.
Em sua análise, a educação infantil vem sendo ampliada e isso é fato importante, “a chave para acabar com o analfabetismo”.
Para Fagnani, os
resultados no setor da Educação não podem ser lidos sem se levar em
consideração uma trajetória histórica e o passado recente, “quando os
governos neoliberais transferiram as responsabilidades e os problemas
para os indivíduos”, refreando a ação do Estado, mas defendeu que os
números sejam usados para planejar o futuro. Ele lembra que o País criou
mais de 18 milhões de empregos, na última década, mas esses são postos
em geral em torno de um e meio salário mínimo. “Grande parte foi criado
no setor de serviços, construção civil. Acredito que é importante na
nossa reflexão pensar no crescimento industrial, que é capaz de aumentar
a inserção dos trabalhadores de maneira menos precária”.
Brasil 247
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