terça-feira, 10 de setembro de 2013

“Fui transformado no principal alvo do ódio da elite”

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Ex-ministro José Dirceu diz que recebe críticas contra ele "com muita serenidade" e que se sente "muito forte" neste momento da sua vida, em que é julgado pelo STF na Ação Penal 470; "Eu acabei sendo escolhido um pouco o símbolo de todo esse ressentimento [pelo avanço do Brasil e do PT], uma mágoa, uma inveja", disse; segundo Dirceu, que concedeu entrevista ao economista Marcio Pochmann, na Fundação Perseu Abramo, o julgamento ainda está longe de acabar, uma vez que há os recursos nas cortes internacionais; petista declarou seu amor pelo País e garantiu que não pedirá asilo político: "Fico indignado quando dizem que vou sair do Brasil"
10 de Setembro de 2013 

247 – Às vésperas do que pode ser o último dia do julgamento da Ação Penal 470 no STF, e que pode definir de uma vez por todas se os réus terão direito a um novo julgamento ou se serão condenados à prisão imediatamente, o ex-ministro José Dirceu declarou que chega ao final desta primeira fase "com a consciência tranquila" e se sentindo "muito forte" diante da série de críticas contra ele nos últimos anos, as quais diz receber com "muita serenidade".

As declarações foram feitas na manhã desta terça-feira 10, em entrevista concedida ao economista e ex-presidente do Ipea Marcio Pochmann, transmitida ao vivo, pela internet, pelo site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Ao responder perguntas feitas pelos internautas sobre essa fase do julgamento do chamado 'mensalão', Dirceu afirmou que isso não irá acabar agora, pois ainda há uma "luta a ser travada nas cortes internacionais".

"Eu recebo os ataques com muita serenidade. Dediquei 50 anos da minha vida ao Brasil, e os últimos 30 anos ao PT. E me sinto realizado pelos avanços, pelo progresso do Brasil nos últimos 11 anos. Infelizmente eu fui transformado no principal alvo do ódio, da inveja de setores da elite do Brasil com a ascensão do ex-presidente Lula, do PT, com a vitória da presidente Dilma. Eu acabei sendo escolhido um pouco o símbolo de todo esse ressentimento, uma mágoa, uma inveja. Porque não é natural", declarou Dirceu.

A cassação de seu mandato, disse o petista, foi feita "sem nenhuma prova" e mostra hoje ser "um nó" na história da Câmara dos Deputados. "Sou réu no Supremo Tribunal Federal, aceitaram uma denúncia contra mim que é inepta e vazia. Eu que tenho que provar minha inocência porque eu não tive a presunção da inocência", defendeu-se. Agradecendo ao apoio dos amigos e do PT, o ex-ministro acredita ter chegado "quase no final desta primeira etapa – já que isso não vai acabar, temos uma luta para travar ainda, nas cortes internacionais – com a consciência tranquila".
"Fiz o que eu tinha que fazer, continuei fazendo o que eu sempre fiz. A campanha que fizeram contra mim nesses últimos oito anos, eu não sei se alguém sofreu uma campanha tão intensa e caluniosa e sem direito de resposta [como essa]", continuou. Dirceu se disse "muito seguro e confiante" em relação a seu futuro. "Me sinto muito forte, com humildade, porque evidentemente cometi muitos erros, sou responsável por muitos desses erros, mas não dos que me acusam, esses jamais".

José Dirceu concluiu a entrevista declarando o amor que tem pelo País, numa negação à hipótese de que pedirá asilo político. "Fico indignado quando dizem que vou sair do Brasil", afirmou, lembrando que quis voltar para o Brasil (depois de ter ficado exilado) porque acredita no futuro do País. Condenado a dez anos e dez meses de prisão, o ex-presidente do PT pode ter seu destino definido na sessão desta quarta-feira 11 na corte suprema. O plenário decidirá se os embargos infringentes, que dão aos réus o direito a um novo julgamento, serão ou não aceitos pelo tribunal.

Outros temas
No primeiro bloco, o ex-presidente do PT falou sobre democracia, os avanços do Brasil no combate à pobreza e a necessidade de uma reforma política eleitoral e institucional no Brasil. 

"O sistema político brasileiro é dominado pelo dinheiro, pelo poder econômico. Por causa das doações das empresas privadas, ausência de investimento público e por conta do voto nominal – o Brasil é o único país que tem esse sistema, cada deputado tem sua própria campanha", disse Dirceu.

Além da reforma política, Dirceu defendeu também a reforma tributária e uma reforma urbana, que traria uma melhora no sistema de trânsito das grandes cidades, por exemplo. Segundo ele, a cobrança de impostos no Brasil é injusta, pois eles são regressivos, e não progressivos, uma vez que os ricos pagam menos e os pobres pagam mais. "Os impostos no Brasil são socialmente injustos", declarou. Ele disse que, apesar disso, o País avançou muito nas gestões públicas, ao citar a reforma feita no sistema judiciário.

Para Dirceu, as manifestações de junho devem ser vistas pelo PT como um "novo desafio". Ele avalia que a lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira 9, que destina 75% dos recursos do petróleo para a Educação e 25% para a Saúde, é uma resposta de Dilma às reivindicações das ruas. "Conseguimos uma fonte de financiamento, foi uma grande vitória. Ela [Dilma] se comprometeu com a nação brasileira depois das manifestações".

José Dirceu fez duras críticas à política de privatizações sugerida pela direita no Brasil. "Quem vai financiar os programas sociais?", questionou o ex-ministro, lembrando que boa parcela da população ainda depende do Sistema Único de Saúde (SUS). "O que a direita apresenta para o País?", perguntou, por fim. Quanto à pauta da esquerda, o político afirma que "existe, sim, um complexo de vira-latas" e que a esquerda está "sem discurso neste momento".

O baixo crescimento econômico não é motivado apenas por "causas externas", na avaliação de Dirceu. "Afirmar isso seria falso", disse ele. Mas em sua opinião, o País está "repensando a indústria brasileira" e enfrentando esse problema do crescimento. Um grande desafio do Brasil e que, segundo ele, "depende do poder do Estado", é como disputar no mercado tecnológico com o atraso que temos hoje. O País, disse ele,  também "está mantendo a renda e a criação de empregos".



Brasil 247

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