Ex-ministro José Dirceu diz que recebe críticas
contra ele "com muita serenidade" e que se sente "muito forte" neste
momento da sua vida, em que é julgado pelo STF na Ação Penal 470; "Eu
acabei sendo escolhido um pouco o símbolo de todo esse ressentimento
[pelo avanço do Brasil e do PT], uma mágoa, uma inveja", disse; segundo
Dirceu, que concedeu entrevista ao economista Marcio Pochmann, na
Fundação Perseu Abramo, o julgamento ainda está longe de acabar, uma vez
que há os recursos nas cortes internacionais; petista declarou seu amor
pelo País e garantiu que não pedirá asilo político: "Fico indignado
quando dizem que vou sair do Brasil"
247 – Às vésperas do que pode ser o último dia
do julgamento da Ação Penal 470 no STF, e que pode definir de uma vez
por todas se os réus terão direito a um novo julgamento ou se serão
condenados à prisão imediatamente, o ex-ministro José Dirceu declarou
que chega ao final desta primeira fase "com a consciência tranquila" e
se sentindo "muito forte" diante da série de críticas contra ele nos
últimos anos, as quais diz receber com "muita serenidade".
As declarações foram feitas na manhã desta terça-feira 10, em
entrevista concedida ao economista e ex-presidente do Ipea Marcio
Pochmann, transmitida ao vivo, pela internet, pelo site da Fundação
Perseu Abramo, ligada ao PT. Ao responder perguntas feitas pelos
internautas sobre essa fase do julgamento do chamado 'mensalão', Dirceu
afirmou que isso não irá acabar agora, pois ainda há uma "luta a ser
travada nas cortes internacionais".
"Eu recebo os ataques com muita serenidade. Dediquei 50 anos da minha
vida ao Brasil, e os últimos 30 anos ao PT. E me sinto realizado pelos
avanços, pelo progresso do Brasil nos últimos 11 anos. Infelizmente eu
fui transformado no principal alvo do ódio, da inveja de setores da
elite do Brasil com a ascensão do ex-presidente Lula, do PT, com a
vitória da presidente Dilma. Eu acabei sendo escolhido um pouco o
símbolo de todo esse ressentimento, uma mágoa, uma inveja. Porque não é
natural", declarou Dirceu.
A cassação de seu mandato, disse o petista, foi feita "sem nenhuma
prova" e mostra hoje ser "um nó" na história da Câmara dos Deputados.
"Sou réu no Supremo Tribunal Federal, aceitaram uma denúncia contra mim
que é inepta e vazia. Eu que tenho que provar minha inocência porque eu
não tive a presunção da inocência", defendeu-se. Agradecendo ao apoio
dos amigos e do PT, o ex-ministro acredita ter chegado "quase no final
desta primeira etapa – já que isso não vai acabar, temos uma luta para
travar ainda, nas cortes internacionais – com a consciência tranquila".
"Fiz o que eu tinha que fazer, continuei fazendo o que eu sempre fiz.
A campanha que fizeram contra mim nesses últimos oito anos, eu não sei
se alguém sofreu uma campanha tão intensa e caluniosa e sem direito de
resposta [como essa]", continuou. Dirceu se disse "muito seguro e
confiante" em relação a seu futuro. "Me sinto muito forte, com
humildade, porque evidentemente cometi muitos erros, sou responsável por
muitos desses erros, mas não dos que me acusam, esses jamais".
José Dirceu concluiu a entrevista declarando o amor que tem pelo
País, numa negação à hipótese de que pedirá asilo político. "Fico
indignado quando dizem que vou sair do Brasil", afirmou, lembrando que
quis voltar para o Brasil (depois de ter ficado exilado) porque acredita
no futuro do País. Condenado a dez anos e dez meses de prisão, o
ex-presidente do PT pode ter seu destino definido na sessão desta
quarta-feira 11 na corte suprema. O plenário decidirá se os embargos
infringentes, que dão aos réus o direito a um novo julgamento, serão ou
não aceitos pelo tribunal.
Outros temas
No primeiro bloco, o ex-presidente do PT falou sobre democracia, os
avanços do Brasil no combate à pobreza e a necessidade de uma reforma
política eleitoral e institucional no Brasil.
"O sistema político
brasileiro é dominado pelo dinheiro, pelo poder econômico. Por causa das
doações das empresas privadas, ausência de investimento público e por
conta do voto nominal – o Brasil é o único país que tem esse sistema,
cada deputado tem sua própria campanha", disse Dirceu.
Além da reforma política, Dirceu defendeu também a reforma tributária
e uma reforma urbana, que traria uma melhora no sistema de trânsito das
grandes cidades, por exemplo. Segundo ele, a cobrança de impostos no
Brasil é injusta, pois eles são regressivos, e não progressivos, uma vez
que os ricos pagam menos e os pobres pagam mais. "Os impostos no Brasil
são socialmente injustos", declarou. Ele disse que, apesar disso, o
País avançou muito nas gestões públicas, ao citar a reforma feita no
sistema judiciário.
Para Dirceu, as manifestações de junho devem ser vistas pelo PT como
um "novo desafio". Ele avalia que a lei sancionada pela presidente Dilma
Rousseff nesta segunda-feira 9, que destina 75% dos recursos do
petróleo para a Educação e 25% para a Saúde, é uma resposta de Dilma às
reivindicações das ruas. "Conseguimos uma fonte de financiamento, foi
uma grande vitória. Ela [Dilma] se comprometeu com a nação brasileira
depois das manifestações".
José Dirceu fez duras críticas à política de privatizações sugerida
pela direita no Brasil. "Quem vai financiar os programas sociais?",
questionou o ex-ministro, lembrando que boa parcela da população ainda
depende do Sistema Único de Saúde (SUS). "O que a direita apresenta para
o País?", perguntou, por fim. Quanto à pauta da esquerda, o político
afirma que "existe, sim, um complexo de vira-latas" e que a esquerda
está "sem discurso neste momento".
O baixo crescimento econômico não é motivado apenas por "causas
externas", na avaliação de Dirceu. "Afirmar isso seria falso", disse
ele. Mas em sua opinião, o País está "repensando a indústria brasileira"
e enfrentando esse problema do crescimento. Um grande desafio do Brasil
e que, segundo ele, "depende do poder do Estado", é como disputar no
mercado tecnológico com o atraso que temos hoje. O País, disse ele,
também "está mantendo a renda e a criação de empregos".
Brasil 247
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