terça-feira, 3 de setembro de 2013

Parece brincadeira! Mas não pode ser - José Dirceu

É com o mais absoluto espanto que leio que ossadas com indícios de serem de guerrilheiros executados pelas Forças Armadas na guerrilha do Araguaia, na primeira metade dos anos 70, desapareceram em Brasília. Sumiu o conjunto de cinco ossadas e um crânio localizados e desenterrados do cemitério de Xambioá (na época, Pará, hoje Tocantins) em uma expedição realizada em outubro de 2001.

Dá para acreditar? Os esqueletos, conforme encontrados, tinham inequívocos sinais de violência: um estava sem as mãos, e outro estava com os braços para trás. Havia ainda ossos acomodados em lonas e com indicações de estarem amarrados por cordas. Mas, no lugar das ossadas encontradas na expedição de outubro de 2001, a Polícia Federal encontrou, agora, restos mortais de quatro crianças.

Nunca, em nenhuma busca por corpos na região onde ocorreu a guerrilha do Araguaia, foram recolhidas ossadas de crianças. As ossadas circularam por vários órgãos federais em Brasília até irem para a Universidade de Brasília (UnB), em 2009. Três instituições tiveram acesso a eles: a própria UnB, o Instituto Médico Legal (IML) e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Forças Armadas sabem quem desapareceu com as ossadas?
Todos dizem não saber o que houve. “Não estou sabendo de nada”, disse aos jornalistas Marco Antônio Barbosa, presidente da comissão. A primeira pergunta – inevitável – que se faz é: como é que ossadas localizadas em 2001 ficaram até agora sem identificação? E a segunda: por que estavam paradas desde 2009 e até agora em algum lugar da UnB, sem que se acelerassem os trabalhos para saber se eram ou não de integrantes da guerrilha do Araguaia? E a terceira: quem virá a público prestar os devidos esclarecimentos à sociedade brasileira sobre esse episódio? Que setor e quem tem interesse em desaparecer com essas ossadas?

Por mais absurdo que pareça, não é a primeira vez, no entanto, que somem restos mortais de desaparecidos políticos de opositores do regime militar assassinados. Os de Márcio Beck Machado e de Maria Augusta Thomasn encontrados pelo jornalista Antonio Carlos Fon na região de Rio Verde, em Goiás, foram sequestrados ilegalmente, tudo indica por militares, e nunca mais localizados.

A realidade é que há forças políticas e grupos que continuam agindo e atuando para impedir a revelação e a punição dos crimes da ditadura. Esse desaparecimento que se verifica agora, em Brasília, se não esclarecido, é mais um ato que comprova a ação permanente desses grupos. A última pergunta que não quer calar é: os órgãos de inteligência das FFAAs não os conhecem?



Blog do Zé Dirceu

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