É com o mais absoluto espanto que leio que ossadas com indícios de
serem de guerrilheiros executados pelas Forças Armadas na guerrilha do
Araguaia, na primeira metade dos anos 70, desapareceram em Brasília.
Sumiu o conjunto de cinco ossadas e um crânio localizados e
desenterrados do cemitério de Xambioá (na época, Pará, hoje Tocantins)
em uma expedição realizada em outubro de 2001.
Dá para acreditar? Os esqueletos, conforme encontrados, tinham
inequívocos sinais de violência: um estava sem as mãos, e outro estava
com os braços para trás. Havia ainda ossos acomodados em lonas e com
indicações de estarem amarrados por cordas. Mas, no lugar das ossadas
encontradas na expedição de outubro de 2001, a Polícia Federal
encontrou, agora, restos mortais de quatro crianças.
Nunca, em nenhuma busca por corpos na região onde ocorreu a guerrilha
do Araguaia, foram recolhidas ossadas de crianças. As ossadas
circularam por vários órgãos federais em Brasília até irem para a
Universidade de Brasília (UnB), em 2009. Três instituições tiveram
acesso a eles: a própria UnB, o Instituto Médico Legal (IML) e a
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Forças Armadas sabem quem desapareceu com as ossadas?
Todos dizem não saber o que houve. “Não estou sabendo de nada”, disse
aos jornalistas Marco Antônio Barbosa, presidente da comissão. A
primeira pergunta – inevitável – que se faz é: como é que ossadas
localizadas em 2001 ficaram até agora sem identificação? E a segunda:
por que estavam paradas desde 2009 e até agora em algum lugar da UnB,
sem que se acelerassem os trabalhos para saber se eram ou não de
integrantes da guerrilha do Araguaia? E a terceira: quem virá a público
prestar os devidos esclarecimentos à sociedade brasileira sobre esse
episódio? Que setor e quem tem interesse em desaparecer com essas
ossadas?
Por mais absurdo que pareça, não é a primeira vez, no entanto, que
somem restos mortais de desaparecidos políticos de opositores do regime
militar assassinados. Os de Márcio Beck Machado e de Maria Augusta
Thomasn encontrados pelo jornalista Antonio Carlos Fon na região de Rio
Verde, em Goiás, foram sequestrados ilegalmente, tudo indica por
militares, e nunca mais localizados.
A realidade é que há forças políticas e grupos que continuam agindo e
atuando para impedir a revelação e a punição dos crimes da ditadura.
Esse desaparecimento que se verifica agora, em Brasília, se não
esclarecido, é mais um ato que comprova a ação permanente desses grupos.
A última pergunta que não quer calar é: os órgãos de inteligência das
FFAAs não os conhecem?
Blog do Zé Dirceu
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