Presidente Dilma Rousseff manifesta em carta que
ex-governador 'mostrou aos brasileiros a força de um povo unido em torno
de seus justos ideais' e que escultura ao lado do Piratini faz jus a
quem lutou pela democracia
por Débora Fogliatto, do Sul21
Porto Alegre – O ex-governador do Rio Grande do Sul e líder da campanha da Legalidade, Leonel de Moura Brizola, falecido em janeiro de 2004, completaria 92 anos hoje (22), quando, em homenagem ao líder e fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT), foi descerrada uma estátua sua de bronze patinado em tamanho real, no Largo São Sebastião, entre a Catedral Metropolitana de Porto Alegre e o Palácio Piratini, por iniciativa da Fundação Caminhos da Soberania. A solenidade teve discursos de autoridades do partido, do governador, do prefeito em exercício e do ministro do Trabalho, Manoel Dias. As falas foram intercaladas com diversas músicas que marcaram a vida de Brizola.
Mesmo com o sol e o calor de mais de 30ºC desta quarta-feira, dezenas
de pessoas ligadas ao PDT, a Brizola ou à Legalidade estiverem
presentes no evento, que durou cerca de uma hora e meia. Para iniciar,
Milton Júnior e Chico Saratt interpretaram o hino nacional, fora do
palco, ao lado de onde estavam sendo vendidas camisetas estampadas com
os dizeres “Brizola Vive” e o rosto do ex-governador. Logo Lasier
Martins, pré-candidato ao Senado, começou a apresentação da cerimônia e
encaminhou o descerramento da estátua, criada pelo artista carioca Otto
Domovich, seguida da leitura de um poema de Luiz Coronel em homenagem ao
pedetista.
O deputado Vieira da Cunha (PDT), presidente da Fundação Caminhos da
Soberania, explicou que a instituição foi criada em 2007 para cultuar a
memória dos líderes trabalhistas. “Quando Brizola faleceu, em 2004,
começamos a amadurecer a ideia de homenageá-lo com essa estátua”,
contou. Ele ainda disse que precisava agradecer aos “vizinhos” da
estátua, o governador Tarso Genro e a congregação da Catedral. “Estive
com o governador e falei que queríamos colocar a estátua do Brizola ali.
Disse que gostaria de contar com a permissão dele. O governador
respondeu: ‘já está concedida, Vieira’. E foi a mesma postura do
arcebispo dom Jaime”, descreveu.
Ele destacou que optaram por colocar na placa que acompanha a estátua
a denominação de “líder do movimento da Legalidade”, antes de mencionar
que Brizola foi governador dos estados do Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro. “Porque foi daqui que ele levantou a nossa população em defesa
do Estado de direito. Foi daqui que Brizola disse: ‘eu aqui ficarei até o
fim. Eu não me retirarei, porque é melhor a morte do que a vida sem
honra’”, afirmou, recebendo os aplausos do público presente, alguns dos
quais empunhavam bandeiras do PDT. A campanha da Legalidade, comandada
por Brizola em 1961, foi uma revolta civil que aconteceu após a renúncia
de Jânio Quadros para garantir que o então vice-presidente, João
Goulart, assumisse a presidência do país.
Em breves palavras, o governador Tarso Genro destacou a importância
de Brizola para as “grandes mudanças sociais e políticas do país”.
“Brizola esteve no centro das grandes lutas democráticas do país, não só
a partir do seu vigor político mas também de sua ousadia em políticas
públicas fundamentais, como a educação”, destacou, lembrando que foi
Brizola quem implantou o sistema de educação estadual.
Após as palavras de Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, e
Sebastião Melo (PMDB), prefeito em exercício, a atriz e cantora Ruth
Regina entoou, acompanhada pelo público presente, o hino da Legalidade.
Em pé no palco, os lideres do partido fundado por Brizola se emocionavam
cantando “Que um povo só é bem grande/ Se for livre sua Nação”.
Alceu Collares, que foi governador do estado, deputado federal e
prefeito de Porto Alegre, foi muito aplaudido em sua chegada ao evento
pelo público presente. Em sua fala, comparou sua relação com Brizola com
Sancho Pança e Dom Quixote, mostrando-se emocionado. “Ele foi uma
figura internacionalmente adorada, homem que se apaixonou pela ideia de
igualdade social”, afirmou. O ex-governador e atualmente senador pelo
PMDB Pedro Simon também destacou as bandeiras de Brizola, mencionando
que “na história do país é difícil encontrar momento mais grandioso do
que a Legalidade”.
A música preferida de Brizola, Querência Amada, de Teixeirinha,
Osvaldir e Carlos Magrão, foi tocada por Renato Borghetti e Chico
Saratt, mais uma vez com grande participação do público. Em seguida, o
ministro do Trabalho, Manoel Dias, leu a carta enviada pela presidenta
Dilma Rousseff em homenagem a Brizola. “Foi aqui ao lado, no Palácio
Piratini, que Brizola mostrou aos brasileiros a força de um povo unido
em torno de seus justos ideais”, colocou. “Essa escultura faz jus à
memória de Brizola, um brasileiro que lutou pela democracia, pelo
direito dos trabalhadores, pela educação de qualidade e pela soberania
nacional.”
O último a falar foi o irmão de Brizola, Jesus de Moura,
representando a família do ex-governador. Ele agradeceu pela homenagem e
destacou que Brizola alcançou reconhecimento nacional e só não chegou à
presidência devido “aos militares que traíram o país”. Para encerrar,
foram entoados os hinos da Independência – ainda em homenagem a Brizola,
que costumava terminar assim os eventos – e o hino do Rio Grande do
Sul.
Brasil 247
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