Às vezes me pergunto como Dirceu faz para manter o espírito elevado.
Não me lembro de alguém que tenha sido tão continuamente perseguido pelos conservadores depois da ditadura.
Lula, comparativamente, é bem tratado.
Contei já que, no último almoço de final de ano da
Abril com Roberto Civita vivo, um grupo de editores da Veja vibrava, no
restaurante, com a perspectiva de prisão de Dirceu.
Talvez eles empregassem melhor seu tempo vendo como
prolongar a vida da revista na era da internet, mas não. O que
importava era ver Dirceu na cadeia.
A mídia não lhe dá trégua. Mais recentemente, na Era JB, a justiça também o caça sem misericórdia.
Sempre há um motivo, um pretexto. É o chamado vale tudo.
Agora, é um alegado telefonema proibido entre
Dirceu e um secretário do governo da Bahia na Papuda. A Folha denunciou.
Dirceu negou. O secretário negou. A direção do presídio investigou a
negou.
Mesmo assim, Dirceu está pagando pela denúncia. A presunção de inocência não existe para ele.
Foi suspenso seu pedido de trabalho por 30 dias,
porque a justiça desconfiou de todas as negativas, incluída aí a da
direção da cadeia.
A quem apelar?
Joaquim Barbosa colocou na Vara de Execuções Penais de Brasília um juiz que faz o que ele, JB, quer.
E sabemos todos o que JB quer, além de dar rolezinhos na Europa e comprar Prada com um chapéu de parisiense na cabeça.
Que justiça é essa?
Quando JB deixar a presidência do STF, tudo vai
mudar, sem que os fatos mudem – o que significa que a justiça no Brasil
de hoje é uma questão não de evidências, não de lógica, mas de gosto e
capricho pessoais, e de uma subjetividade patética.
No caso específico de Dirceu, alguma coisa está
errada quando até um jurista conservador como Ives Gandra Martins afirma
que ele foi condenado sem provas.
Ainda assim, ele está preso, enquanto seu algoz
passeia pela Europa como um Bonaparte tropical, com diárias pagas pelo
contribuinte – mesmo estando em férias.
Já disse e repito: a única coisa boa desse circo
que foi o julgamento do Mensalão foi a oportunidade de vermos quanto são
ruins e precários o STF e, por extensão, o sistema judiciário
brasileiro.
Era uma ruindade escondida. Agora, ela está
exposta. O Supremo é um ajuntamento de juízes toscos, solenes, com
dificuldade de se expressar em português decente, deslumbrados com os
holofotes – e facilmente manipuláveis pela mídia.
Sem reformar o STF e a justiça brasileira o avanço
social de que o país precisa urgentemente ficará comprometido porque ali
está o atraso do atraso.
Quanto a Dirceu, deveria gritar como Lennon num de
seus clássicos da época em que passou a circular com Yoko: “Do jeito que
as coisas vão, os caras vão me crucificar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário