De portas fechadas. Assim, o JK Iguatemi, um dos mais luxuosos
shoppings da capital paulista, recebeu os manifestantes convocados pela
UNEafro que, no último sábado, programaram um rolezinho contra o
racismo. Jefferson Lima, Secretário Nacional da Juventude do PT, estava
lá, ao lado de membros dos movimentos Quilombação, Círculo Palmarino,
Movimento Nacional Raça e Classe, Coordenação Nacional de Entidades
Negras e integrantes do Núcleo de Consciência Negra da USP, entre
outros.
Acompanhados de advogados, os manifestantes abriram ocorrência no 96º
DP, por racismo, contra o estabelecimento que os impediu de entrar.
Desta vez, o shopping não tinha liminar para fechar a porta ou multar os
participantes do rolezinho. Alegaram, porém, que o espaço físico e a
operação de um shopping não são planejados para receber qualquer tipo de
manifestação”.
“Nem individualmente, sem bandeiras, as pessoas puderam entrar. Por
quê? Era negros, pobres e da periferia. Está caracterizado o crime de
racismo”, afirmou o advogado Elizeu Soares Lopes. Os advogados dos
movimentos pretendem entrar na Justiça com um mandado de segurança
contra as liminares de shopping centers que impedem a circulação dos
jovens. Jefferson Lima, em entrevista ao blog, conta mais sobre as ações
que estão em curso e analisa a proibição dos rolezinhos. Acompanhem:
Jefferson, o que aconteceu no último sábado?
Nós fomos junto a outras entidades do movimento negro e de juventude,
em caráter de protesto ao shopping JK. A ideia era denunciar o racismo
que anda acontecendo nos shoppings centers da capital paulista,
inclusive com agressão policial. Quando chegamos, por volta das 14h, as
portas estavam fechadas. Alguns advogados fizeram o boletim de
ocorrência. Não houve enfrentamento.
Como a JPT está inserida nesse debate?
A militância do PT está fomentando esse debate para esclarecer que os
rolezinhos são legítimos, não se trata, de forma alguma, de um
movimento que vem bagunçando ou tentando causar transtorno na vida das
pessoas. O rolezinho surgiu porque as pessoas que querem vivenciar
outros espaços da cidade e estão aproveitando o shopping para se
encontrar e debater. Movimentos como esse, organizados por alunos da
classe média já aconteceram em outros anos e nunca sofreram agressão.
Agora, quando se trata de jovens da periferia, filhos da classe
trabalhadora, as agressões acontecem. Essa é nossa denúncia.
Estamos promovendo debates, artigos e apoiando as manifestações.
Rolezinho é um fenômeno que mostra tanto a falta de lazer e acesso à
cultura para a nossa juventude, quanto o perfil preconceituoso da
sociedade que acaba criminalizando esses jovens e reagindo contra a
presença deles em locais onde antes eles não estavam.
Eles alegam saques.
Não houve saques e isso está nos boletins. Quando eles chegam lá não
tem problema. Houve muita correria porque a polícia começou a agredir e
eles correram para se proteger. Mas, foram dadas as sete liminares a
sete shoppings. Temos, agora, várias ações de alguns advogados
militantes do movimento negro para mostrar que se trata de preconceito e
racismo o que está acontecendo nesses shoopings.
Alguns defendem os shoppings, dizendo que eles são espaços privados e
que podem fechar. Mas vejam bem: esses estabelecimentos estão fechando
suas portas de acordo com “um perfil” de quem entra e quem não entra. É
em cima desse perfil que está sendo feita a exclusão e o preconceito vem
se caracterizando. Preconceito contra uma juventude que tem sua forma
de vestir, de se expressar e mais: preconceito contra a juventude negra
da periferia, cuja presença nos rolezinhos é grande.
Os movimentos têm de aproveitar o momento para pressionar por mais
conquistas e, até mesmo, para que possamos ter rolezinhos contra o
preconceito, contra o racismo, contra a violência que atinge exatamente
essa juventude da periferia. Estamos vivendo um movimento de muita
mobilização no Brasil e precisamos colocar essa questão na pauta. O
rolezinho é uma manifestação cultural muito importante de acesso a
espaços da cidade e eles acontecem em todo o país.
Blog do Zé Dirceu
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