qua, 22/01/2014 - 06:00
- Atualizado em 22/01/2014 - 07:30
Ontem, o hit do Facebook foi uma entrevista da presidente do Magazine Luiza, Luiza Trajano, ao programa Manhattan Connection.
Não se trata de um programa propriamente
jornalístico. Embora tenha alguns jornalistas experientes na bancada,
não se exija dele o aprofundamento de outros programas da Globonews.
***
Dois integrantes do programa, sem
experiência com economia, insistiam em convencer Luiza de que o varejo
estaria ou entraria em crise em breve.
O crédito estaria chegando ao limite, a
inadimplência aumentando e haveria uma bolha de consumo prestes a
explodir. Repetiram o que ouvem de supostos analistas nas páginas dos
jornais e nas transmissões de rádio e TV.
A empresário foi objetiva. Está-se
vivendo a era de ouro do varejo, com a explosão do consumo da classe C
que aconteceu apenas nos últimos anos. Existem dezenas de milhões de
pessoas vivendo com os pais e querendo adquirir suas casas através do
Minha Casa Minha Vida. E todas são futuras consumidoras de
eletroeletrônicos, móveis etc. É mínimo o percentual de lares
brasileiros com TV plana e outros eletrodomésticos. E a inadimplência no
varejo é a menor em muito tempo.
***
A rigor, mostraria apenas uma discussão entre palpiteiros e alguém do ramo.
Mas é significativo como eco dos bordões utilizados por parte da mídia.
Ao apontar falsos problemas, de um lado
criam-se expectativas negativas que afetam a economia como um todo –
especialmente as verbas publicitárias para o própria mídia, em um caso
clássico de tiro no pé. De outro lado, tiram o foco da discussão dos
problemas reais.
Dia desses, o ex-presidente do Banco
Central Chico Lopes relatava conversas com empresários. Estava tudo
ruim, perdido, sem perspectivas. Mas continuavam investindo porque, no
caso deles, a indústria já estava com a capacidade instalada completa.
***
Definitivamente, o problema da economia
não é o varejo. É o desequilíbrio entre o poder de consumo do brasileiro
e a falta de dinamismo da produção.
Quando esse desequilíbrio se amplia, é
impossível manter o mesmo ritmo de crescimento. Aumentam as importações,
os gastos com turismo externo, e o déficit nas contas externas. A
redução na entrada de dólares pressiona as cotações e muitos
investidores externos adiam seus investimentos, esperando a correção do
câmbio.
Mais cedo ou mais tarde, esse desequilíbrio bate no mercado de trabalho.
***
O país carrega quase 20 anos de
políticas cambiais irresponsáveis, que desmontaram parte do parque
industrial brasileiro. Apreciou-se o real e não se deu a contrapartida
de melhoria do ambiente econômico.
Nos últimos dois anos, permitiu-se uma relativa recuperação do câmbio.
Como a economia não é ciência exata,
parte dos analistas julga que a economia ainda não recebeu todos os
influxos dessa desvalorização cambial. E pode melhorar sem novos
ajustes.
Outro grupo aposta para um futuro
qualquer nova rodada de desvalorização, permitindo devolver alguma
competitividade ao parque industrial para enfrentar a invasão chinesa.
São problemas reais, que não necessitam da contribuição de falsos problemas.
Blog do Luis Nassif
Nenhum comentário:
Postar um comentário