Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil
Edição: Nádia Franco
A expectativa de que a inflação continue
resistente nos próximos meses tem elevado o custo para o governo se
financiar. Segundo especialistas, a probabilidade de que o Banco Central
(BC) continue a elevar a taxa Selic – juros básicos da economia – para
conter os preços é o principal fator que tem impulsionado as taxas dos
títulos públicos.
Nas últimas semanas, os títulos prefixados de dez anos, um dos papéis
ofertados pelo Tesouro com taxas mais altas, vem pagando juros de 13,2%
ao ano, o maior nível desde fevereiro de 2010. A instabilidade levou o
Tesouro Nacional a suspender a venda de títulos no Tesouro Direto e a
fazer leilões de compra, quando o governo readquire os papéis dos
aplicadores para fornecer um referencial para o mercado.
Por meio dos títulos públicos, o governo pega dinheiro emprestado dos
investidores para honrar compromissos. Em troca, o Tesouro
compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode
seguir a taxa Selic, a inflação, o câmbio ou ser definida com
antecedência no caso dos títulos prefixados. O Tesouro vende os papéis
se concordar com as taxas pedidas pelo mercado.
No
caso dos títulos prefixados e corrigidos pela Selic, as taxas têm como
referencial os juros básicos da economia. De acordo com o professor de
estratégias empresariais Ricardo Teixeira, da Fundação Getulio Vargas
(FGV), a preocupação de que a inflação permaneça alta em 2014 pressiona
os juros dos títulos públicos por causa do aumento das chances de que o
Banco Central promova novos aumentos na taxa Selic, atualmente em 10,5%
ao ano.
“Os investidores olham como a inflação e os juros vão se comportar. O
mercado considera o quanto a inflação vai resistir e quanto tempo
deverá durar o ciclo de alta da Selic para formar os juros dos títulos
públicos”, explica Teixeira. As preocupações, ressalta, aumentaram
depois que a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central,
divulgada quinta-feira (23), indicou a possibilidade de a Selic
continuar a subir.
No caso dos títulos prefixados, as taxas também refletem a
desconfiança dos investidores em relação ao governo. Apesar de os juros
desses papéis terem atingido os níveis mais altos em quatro anos, o
professor da FGV não acredita que as taxas reflitam o desempenho das
contas públicas, pressionadas pelo aumento dos gastos federais nos
últimos anos. “Em outras regiões, como na Europa, os juros dos títulos
refletem uma crise de desconfiança em relação aos governos. No Brasil, o
governo, de fato, tem gastado mais, mas isso ainda não afetou a crença
na capacidade de pagamento da dívida pública pelo Tesouro”, diz.
Segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com instituições
financeiras divulgada pelo Banco Central, os investidores acreditam que a
inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) fechará 2014 em 6,01%. Pela segunda semana seguida, a estimativa
aumentou.
O vice-presidente da Associação de Executivos de Finanças (Anefac),
Miguel de Oliveira, também acredita que as perspectivas em torno da
inflação sejam o principal fator de influência sobre as taxas dos
títulos públicos. “O mercado tem a expectativa de que o Banco Central
continue a aumentar os juros por causa da pressão dos preços de
transportes e de combustíveis. Sem contar que o dólar tende a subir
ainda mais e pode contaminar a inflação”.
Embora resultem em aumento de custos para o governo financiar a
dívida pública, Oliveira acredita que o momento é bom para quem deseja
comprar títulos federais. “Esse nível de juros é ruim para o devedor,
que é o governo, mas beneficia o investidor, que vai ganhar mais
aplicando nesses papéis do que há um ano, mesmo com a inflação corroendo
parte dos rendimentos”, acrescenta.
Agência Brasil
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