por Luiz Carlos Azenha
Um candidato ao Palácio do Planalto destratado pelo lobista de um
banqueiro. Avisado de que uma cópia da mensagem mal educada que havia
acabado de receber também seria enviada à Pessoa, ou seja, ao presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Incrível, mas aconteceu no Brasil!
É o que sustenta o repórter Rubens Valente, autor do livro Operação Banqueiro, da Geração Editorial, recém-lançado.
As mensagens, mais de mil, foram apreendidas pela Polícia Federal na casa do lobista Roberto Amaral.
São e-mails, a maioria deles entre Amaral e o banqueiro Daniel Dantas, que jogam luz sobre os subterrâneos do poder.
Há um que chama especialmente a atenção: teria sido mandado por
Amaral a Luiz Paulo Arcanjo, assessor especial do então governador José
Serra, que sairia candidato ao Planalto pelo PSDB.
Amaral leu a resposta mandada por José Serra e não gostou. Escreveu:
“Recebi seu recado lido por amigo comum. Aviso-lhe: não mais
mande-me (sic) recados neste tom: acho que você estava fora de si quando
mandou esta infeliz mensagem. Não sou lambe-cu acabalhado ou
acarneirado. Você sabe disso. Já fiquei seis anos sem falar com você e,
se necessário, fico mais vinte. Não sou Roseana ou Sarney. Você precisa
de mim e eu não preciso de você. Você vá ser acavalado, acerbo, com quem
tem obrigação de aguentá-lo. Quanto à sua bizantina observação sobre D
[Dantas], devo dizer-lhe: você não sabe de nada — nada mesmo. Ponha isto
na sua cabeça. Ele é credor, grande credor. Eu e duas pessoas sabemos
disso. Não seja encegueirado e não se deixe embair pelo pequeno Sérgio
Andrade [...] Cópia deste vai para a Pessoa”.
À época, o objetivo do banqueiro Daniel Dantas era evitar que o
governo Fernando Henrique apoiasse a investigação dos correntistas do
fundo Opportunity nas ilhas Caimã, um refúgio fiscal do Caribe.
Eventuais ilegalidades do fundo — a presença de residentes no Brasil,
por exemplo — poderiam comprometer do ponto-de-vista legal todo o
processo de privatização do qual Dantas havia se beneficiado. O
banqueiro conseguiu o que queria.
O conjunto de e-mails, parte dos quais reproduzidos no livro, foi
enviado ao ex-procurador geral da República, Roberto Gurgel, para
providências. As mensagens levantam várias questões perturbadoras.
Aparentemente, Gurgel sentou sobre o assunto e nada fez. “Prevaricação”,
observou um dos presentes à entrevista coletiva.
Na coletiva de lançamento do livro, na sede do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé,
perguntei ao autor sobre o e-mail reproduzido acima. No vídeo, Rubens
Valente comenta a mensagem do lobista Amaral para José Serra.
Rubens Valente: A dívida do PSDB com Daniel Dantas from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
Blog do Luis Nassif
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