31 de janeiro de 2014 | 08:40 Autor: Fernando Brito
Ser assessor de Comunicação – agora elevado a status de Secretário – de Governo não é fácil em circunstância alguma.
É viver de sobressaltos, a apagar incêndios, a equilibrar ética
profissional com o sigilo e a disciplina que implicam estar no centro de
decisões políticas.
E não deixar que nada disso tire você do foco que a comunicação deve
ter para que seja instrumento de realização do projeto administrativo-
político-social daquele Governo.
Quando um governo é odiado, espancado e sitiado pelos interesses da mídia empresarial, tudo piora em grau exponencial.
Digo isso em razão da notícia de que a Secretária de Comunicação da Presidência, Helena Chagas, será, finalmente, substituída no cargo.
Se Helena Chagas entendia que a Globo, Folha, Estadão e outros
grandes veículos da imprensa mereciam atenção especial, estava correta e
não fazia mais que sua obrigação profissional em fazê-lo.
Da mesma forma estaria certíssima em destinar aos veículos com mais
audiência parcelas maiores do volume de publicidade. A chamada “mídia
técnica” é uma imposição da qual podemos até não gostar, mas devemos
seguir se queremos fazer corretamente comunicação publicitária.
Franklin Martins o fez e ninguém – a não ser a grande mídia, que não
quer a sua parte, quer tudo – o contestou. Mas o contestou,
essencialmente, por propor os mecanismos regulatórios que a atividade
empresarial de comunicação está obrigada numa democracia e que assim é
pelo mundo afora.
Ninguém, a não ser os beleguins jornalísticos dos interesses
patronais que se apressam a dizer que qualquer investimento em
comunicação fora da grande mídia é subvenção a “cumpanheiros”, como se
referem pejorativamente àqueles que não fazem do governo progressista um
saco permanente de pancadas.
Em 1989, eu e meu amigo Ricardo Kotscho, assessores de imprensa dos
então candidatos Brizola e Lula, fomos a um debate no Sindicato dos
Jornalistas aqui do Rio.
E, naqueles tempos ainda ingênuos do jornalismo da democracia, nos
perguntaram porque tratávamos diferente os pedidos de jornalistas da TV
Globo e de pequenos jornais.
Eu disse com todas as letras – está registrado no livro “Jornalistas
pra quê? – Os profissionais diante da ética” – que podíamos e devíamos
tratar os profissionais de imprensa com os mesmos critérios, mas que não
iria ser hipócrita de dizer que os veículos de comunicação podiam ser
tratados de forma igualitária, até porque tínhamos o dever político de
tentar ocupar os melhores espaços de comunicação.
É uma tolice – pior, uma redução à língua falada pelos executivos da
grande mídia – dizer que Helena Chagas caiu por não concordar com a
concessão de publicidade aos blogs de esquerda – que eles chamam de
“sujos”, como faz O Globo, hoje.
Não há nenhum, entre eles, que reivindique nada além de receber, se
for o caso, publicidade pelas mesmas regras que todo o mercado atua, que
é receber em função de seu volume de acessos e da adequação ao público
que se pretende atingir.
Nada além do que faz o Google, que não discrimina, embora pague uma
miséria, porque fica com a parte do leão da receita publicitária. Mas
não recusa publicidade a blogs, como este, que beiram os 3 milhões de
acessos mensais, metade deles únicos.
A conversa é outra.
Helena Chagas caiu por incapacidade de fazer o que este governo
precisa, sob pena de morte, fazer: enfrentar a onda avassaladora de
desinformação e terrorismo político-econômico que a mídia levanta contra
ele.
Isso quer dizer abrir guerra aos jornalões e à Globo?
Não, de forma alguma.
Mas significa contraditar, polemizar, esclarecer e mobilizar a
opinião pública e não achar que simpatia e amizades pessoais com
“repórteres especiais” e editores resolvem o problema de comunicação de
um governo de esquerda.
Ou que abobrinhas de “marquetagem” servem para dissolver problemas
reais, cujo enfrentamento está, em grande parte, na área de comunicação.
Um exemplo, recente e estarrecedor foram suas declarações, há poucos
dias, sobre as manifestações anti- Copa e o fato de terem se tornado
violentas.
Disse Helena Chagas à Agência Estado:
“Questionada pela reportagem em Davos no fim de semana, a
ministra Helena Chagas, chefe da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República, admitiu que “não sabia” dos detalhes sobre
como esse plano será adotado. Mas
indicou que, para promover a paz, uma pomba seria solta em cada jogo
para simbolizar a necessidade da realização da Copa em condições
pacíficas.”
Francamente, mais que uma bobagem, isso indica o mundo da Lua em que vive a titular da Secom.
E é de lá, e por isso, que ela caiu.
Caiu, aliás, faz muito tempo. Todos sabem que ela já não se encaixava nos rumos presidenciais há meses.
A única injunção política da queda de Helena Chagas é ela ter permanecido lá até agora.
Um governo não escolhe – ou não deveria escolher – seus colaboradores
por considerações de ordem pessoal e nem mesmo de ordem profissional,
apenas. Certamente não se quer questionar nenhuma das duas em Helena
Chagas.
O problema é que este governo, para sobreviver e vencer, precisa do
embate político. Civilizado, democrático, republicano e diria até
cortês, porque cortesia e civilidade nunca fazem mal a ninguém.
Talvez seja ela, inclusive, a menos errada neste processo.
Minha finada avó sempre me recriminava quando eu esperava algo que a natureza de alguém não lhe permitia dar.
- Meu filho, se laranjeira não dá limão o problema é seu, não da laranjeira.
Pois é: é na comunicação que este Governo precisa escolher se vai ser
espremido como uma laranja pela mídia ou arder como um limão em suas
feridas.
Tijolaço
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