Em depoimento à Corregedoria do governo Geraldo Alckmin, em outubro, João Zaniboni disse apenas que fez ‘consultorias’
por Fausto Macedo, Fernando Gallo e Mateus Coutinho
A conta Zaniboni não fecha. Em depoimento à Corregedoria-Geral da
Administração (CGA), em 25 de outubro, o engenheiro João Roberto
Zaniboni, ex-diretor de operações e manutenção da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), disse não se recordar das empresas para as
quais prestou consultorias. Por esse trabalho ele recebeu cerca de US$
550 mil em uma conta bancária de sua titularidade na Suíça, entre 2000 e
2002.
Zaniboni é acusado de ser recebedor e intermediário no pagamento de
propinas a políticos e agentes públicos do Estado de São Paulo. Ele foi
indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, lavagem de
dinheiro e crime financeiro no inquérito que investiga o cartel
metroferroviário que teria operado entre 1998 e 2008, período dos
governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
Ele depôs na CGA, braço da Casa Civil, no dia 25 de outubro, perante
os corregedores Alexandra Comar de Agostini, Cristiane Marques do
Nascimento Missiato, Maria Helena Barbieri Maganini e Ricardo Nogueira
Damasceno.
Zaniboni lembrou-se com riqueza de detalhes de diversos e antigos
projetos da CPTM, da década de 1990, contemporâneos aos pagamentos que
recebeu na Suíça. Mas sobre esses pagamentos alegou não se lembrar das
fontes.
Uma investigação da promotoria da Suíça descobriu a conta Milmar, de
Zaniboni, no Credit Suisse de Zurique, na qual o ex-diretor da CPTM
recebeu US$ 826 mil.
Desse total, US$ 250 mil foram repassados pelos consultores Sérgio
Teixeira – já falecido – e Arthur Teixeira, este sob suspeita da PF de
pagar propinas, o que ele nega taxativamente. Sobre os US$ 250 mil,
Zaniboni disse ter recebido por consultoria que prestou a Arthur
Teixeira, ainda quando ocupava cargo na Dersa (Desenvolvimento
Rodoviário S/A), antes mesmo de assumir a diretoria de operações da
CPTM, o que ocorreu em 1999. O pagamento, contudo, ocorreu no ano 2000,
quando Zaniboni já estava na diretoria da CPTM – posto que ocupou entre
1999 e 2003.
Nem Zaniboni, nem Teixeira apresentaram qualquer documento relativo à
consultoria. Ambos dizem que o acordo entre eles para o negócio foi
verbal.
Questionado pela Corregedoria sobre a diferença (cerca de US$ 550
mil), Zaniboni afirmou não se recordar da origem. “Inquirido se essa
conta bancária chegou a ser movimentada com o depósito de mais valores,
respondeu afirmativamente, aduzindo que foi o próprio declarante quem
fez vários depósitos, perfazendo um total de 550 mil dólares, valores
esses advindos também de trabalhos de consultoria realizados pelo ora
declarante”, anotou a CGA.
“Não sabe informar o nome das empresas para as quais prestou
consultoria, pois, como ocorreu com Arthur Teixeira, não tem
documentação comprobatória”, acrescentou a Corregedoria.
Zaniboni disse que, embora entre 2000 e 2002, época dos depósitos,
fosse diretor da CPTM, “procurava desenvolver trabalhos de consultoria
em outras áreas de sua atuação, como por exemplo, transporte de carga”.
O ex-diretor da CPTM afirmou, ainda, que entre 2006 e 2007 fechou a
conta na Suíça e transferiu os valores para uma conta no banco Safra em
Nova York em nome das filhas Milena e Mariana. Segundo ele, em setembro
de 2013, o dinheiro foi transferido para o Brasil, os impostos
recolhidos e as declarações de imposto de renda retificadas.
Até agosto, Zaniboni era sócio da Focco Tecnologia, empresa que
firmou dezenas de contratos com o governo de São Paulo desde 2009 e
recebeu, nos últimos quatro anos, R$ 33 milhões. Hoje, a Focco está em
nome de Ademir Venâncio de Araújo, também ex-diretor da CPTM e, assim
como Zaniboni, indiciado pela Polícia Federal no caso do cartel.
Com a palavra, a defesa:
O criminalista Luiz Fernando Pacheco, que defende João Roberto
Zaniboni, refutou com veemência a suspeita de que o ex-diretor da CPTM
teria recebido propinas do cartel metroferroviário.
ESTADO: Qual a origem dos 550 mil dólares?
LUIZ FERNANDO PACHECO: O senhor Zaniboni declarou
que o valor excedente (diferença do saldo, descontando os US$ 250 mil
identificados como repassados por Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira)
provém de outras consultorias prestadas no mesmo período, antes de
assumir cargo na CPTM, para outras empresas e outras pessoas e também de
economias pessoais.
ESTADO: Para quem Zaniboni prestou tais consultorias?
PACHECO: Ele não entrou em detalhes.
ESTADO: Tem cópias dos contratos dessas consultorias?
PACHECO: As consultorias foram prestadas por meio de
contrato verbal. Os valores por essas consultorias foram recebidos lá
(na Suíça) sem o devido pagamento dos correspondentes impostos à época,
mas agora, após a repatriação do dinheiro, toda a situação tributária
foi resolvida.
ESTADO: Na CGA Zaniboni falou sobre muitos contratos da CPTM,
da época em que era diretor. Mas, não se lembra de quase nada das
consultorias que prestou. Não é uma contradição?
PACHECO: O período em que ele atuou
na CPTM é mais recente. Por terem sido contratos formais e que
envolviam valores muito mais expressivos em sua atividade pública ele
teve o cuidado de preservar esses dados e deles relembrar. No período
anterior ele fez pequenas consultorias, 4 ou 5 consultorias, que geraram
esse valor. Se comparado aos valores dos contratos que firmou no cargo
público, como diretor da CPTM, é uma soma bastante inferior. Então, ele
não se lembra e não teve o cuidado de armazenar esses dados como teve
com relação aos contratos do período em que foi gestor público.
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