Alegação da detenção é formação de quadrilha
com Nilton Monteiro, denunciante do mensalão mineiro; bloco Minas sem
Censura quer depoimento de jornalista na Assembleia Legislativa
Jonas Pereira/Agência Senado
São Paulo – O jornalista mineiro Marco Aurélio Flores Carone, diretor de redação do site novojornal.com, foi preso na manhã de hoje (20) em Belo Horizonte por autorização da juíza Maria Isabel Fleck, da 1ª Vara Criminal da capital mineira. Carone foi denunciado pelo Ministério Público estadual em novembro por formação de quadrilha, falsificação de documentos públicos e particulares, falsidade ideológica, uso de documento falso, denunciação caluniosa majorada e fraude processual majorada – todas acusações relativas ao contato entre o jornalista e o lobista Nilton Monteiro, que tornou pública a Lista de Furnas após ter colaborado com suposto esquema de desvio de dinheiro da estatal.
A juíza entende que ambos fazem parte de uma
quadrilha cujo objetivo é “difamar, caluniar e intimidar” adversários
políticos, e autorizou a prisão preventiva do jornalista para impedir
novas publicações. Além disso, aponta o fato de que o NovoJornal seria
financiado com dinheiro de origem ilegal, uma vez que o site não
contaria com anunciantes suficientes para manter a página.
Carone, amparado pelo bloco parlamentar Minas Sem
Censura, que reúne deputados estaduais de PT, PMDB e PRB, negam as
acusações e denunciam perseguição política e investida dos aliados do
senador Aécio Neves (PSDB) para calar o NovoJornal. “Ora, se você
estabelece a prisão preventiva para evitar a publicação de material
jornalístico, está oficializada a censura prévia”, lamenta o deputado
Rogério Correia (PT), vice-líder do bloco Minas sem Censura.
“Assim que voltarmos do recesso, vamos
convocá-lo para prestar depoimento na Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia. Nesse caso, ele pode vir mesmo estando preso, para denunciar
a perseguição promovida pelo PSDB de Minas contra seus adversários
políticos”, defende o parlamentar, que afirma já ter sido alvo de
prática similar. “Quando do surgimento da Lista de Furnas, encaminhei o
relatório à Polícia Federal e, por isso, o vice-presidente nacional do
PSDB tentou a cassação do meu mandato. É a mesma situação. A censura tem
agentes no Ministério Público e no Judiciário, mas, quando é com a
imprensa, quem organiza a perseguição é a própria irmã do senador,
Andréa Neves.”
O NovoJornal, em texto publicado no ano
passado, acusa a irmã de Aécio, que é jornalista e integrará a direção
da campanha a presidente do tucano, de ter procurado anunciantes do
portal à época e intimidá-los para que parassem de investir no
“jornaleco da oposição”. O senador Aécio Neves foi procurado pela RBA por meio do diretório nacional do PSDB para comentar o caso, mas não deu resposta à reportagem até o momento da publicação.
A Lista de Furnas é um documento que revela as
quantias pagas a políticos de PSDB, PFL (hoje DEM) e PTB em esquema de
desvio de verbas intermediado pelo publicitário Marcos Valério em 2000,
com o objetivo de abastecer o caixa dois de campanha desses partidos nas
eleições de 2002, caso que ficou conhecido como “mensalão tucano” por
envolver os mesmos personagens e operações envolvendo denúncias contra o
PT em 2005. O PSDB nega a existência do esquema, que pode ter
movimentado mais de R$ 40 milhões, e a autenticidade da Lista de Furnas,
embora a Polícia Federal tenha comprovado, em perícia, que a lista
conta com a caligrafia de Dimas Toledo, então presidente da estatal de
energia. O caso aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal; o
julgamento contra o PT foi realizado entre 2012 e 2013, e condenou 36
pessoas.
Em entrevista realizada em agosto do ano passado e divulgada pelo Youtube,
o ex-advogado de Nilton Monteiro Dino Miraglia afirmou que o caso de
Furnas envolveria até o assassinato da modelo Cristiana Aparecida
Ferreira, em agosto de 2000 – segundo ele, além de trabalhar como garota
de programa para os envolvidos no esquema, ela era ainda responsável
por transportar o dinheiro desviado da estatal em malas. O assassinato,
registrado como suicídio até a revelação de sinais de asfixiamento da
modelo, seria queima de arquivo, uma vez que a modelo queria abandonar a
quadrilha.
Miraglia abandonou a defesa do
lobista Monteiro após ter a casa invadida por dez policiais militares
que tinham mandato para procurar um documento falso, mas que teriam
aproveitado a oportunidade para ameaçar sua vida. O motivo teria sido o
pedido do advogado para enviar a Lista de Furnas ao STF.
Rede Brasil Atual
Nenhum comentário:
Postar um comentário