"Inicialmente idolatrado como líder da caça às
bruxas, presidente do Supremo perdeu apoio de seus pares, foi criticado
por Ministério Público e OAB, e acabou só até entre a imprensa que o
encorajou", escreve Helena Sthephanowitz, da Rede Brasil Atual; segundo
ela, Joaquim Barbosa estava a caminho de repetir a saga do senador
estadunidense Joseph McCarthy na década de 1950; leia seu artigo
247 - Em sua caça às bruxas, o ministro Joaquim
Barbosa, agora prestes a sair do Supremo Tribunal Federal, "estava a
caminho de repetir a saga do senador estadunidense Joseph McCarthy na
década de 1950", escreve a blogueira Helena Sthephanowitz, da Rede Brasil Atual.
Ela relembra a história do parlamentar americano: McCarthy conseguiu
muita popularidade quando, em investigação do Senado dos EUA, começou a
perseguir pessoas diversas e artistas de Hollywood por suas ideologias,
comportamento e amizades, acusando-os de traição por supostamente
simpatizarem com o comunismo.
Leia seu artigo na íntegra:
Barbosa deixa o STF a caminho de se tornar o McCarthy brasileiro
Enquanto apenas petistas protestavam contra atos considerados
abusivos de Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF) não recuou, encorajado pela mídia tradicional. Pelo contrário,
aumentou a escalada de perseguição aos réus petistas, o que provocava
manchetes e imagens para a imprensa oposicionista, sedenta de "sangue",
principalmente farejando interesses eleitorais.
Uma perseguição só comparável à época da ditadura brasileira, ou ao
macartismo nos Estados Unidos, chamado de período de caça às bruxas.
Nas últimas semanas, o pêndulo virou. A Comissão de Justiça e Paz da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou manifesto
protestando contra retrocessos no já problemático sistema prisional
brasileiro com a decisão de Barbosa de revogar o direito ao trabalho
externo para apenados no sistema semiaberto antes de cumprir um sexto da
pena.
A Ordem dos Advogado do Brasil (OAB) também manifestou apreensão
contra esta e outras decisões que representam retrocesso. O Ministério
Público também ficou preocupado com um colapso no sistema prisional
brasileiro. Até governadores, responsáveis pela administração de
presídios, não comentaram em público, mas ficaram preocupados com o
colapso e risco de rebeliões se retirassem direitos de presos e
aumentasse a superlotação de presídios, a partir da decisão destemperada
de Barbosa.
Barbosa estava a caminho de repetir a saga do senador estadunidense
Joseph McCarthy na década de 1950. McCarthy conseguiu muita popularidade
quando, em investigação do Senado dos EUA, começou a perseguir pessoas
diversas e artistas de Hollywood por suas ideologias, comportamento e
amizades, acusando-os de traição por supostamente simpatizarem com o
comunismo, ou mesmo de espionagem pró-soviética. Criou-se um clima de
histeria semelhante à caça às bruxas no período da inquisição medieval.
Listas negras foram criadas destruindo carreiras, fazendo pessoas perder
empregos, levando alguns à prisão, ao exílio e ao suicídio.
Aos poucos a opinião pública foi enxergando atitudes fascistas de
McCarthy, injustiças e ficando indignada com as flagrantes violações dos
direitos individuais. A atuação destemida do jornalista Edward R.
Murrow na TV CBS desmascarou McCarthy, que ficou desacreditado,
considerado infame e morreu no ostracismo.
Voltando ao Brasil de hoje, a própria imprensa tradicional que antes
apoiava Barbosa passou a abandoná-lo, justamente por perceber que o
clima de macarthismo era contraproducente para os interesses políticos
dos barões da mídia.
Assim Barbosa resolveu pendurar as chuteiras no STF antes de um
desfecho semelhante ao de McCarthy, o que queimaria sua imagem para uma
carreira política.
Ao passar o bastão para o ministro Ricardo Lewandowski, seu futuro
sucessor na presidência do STF, Barbosa dá à mídia tradicional munição
para voltar à carga contra o PT no período eleitoral. Ele ficar com a
imagem de perseguição a petistas estava sendo contraproducente, mas
Lewandowski, simplesmente por seguir a lei e a jurisprudência,
concedendo os direitos ao trabalho externo a petistas, como tem esse
direito qualquer preso, será acusado pela imprensa antipetista de
conceder "privilégios".
Barbosa já teve uma atuação politizada no STF, mas, assim que se
aposentar, poderá oficializar seu ingresso na política partidária.
E já começou a fazer seus primeiros gestos na articulação política.
Barbosa escolheu o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do
Senado, para comunicar à imprensa sua decisão em primeira mão, em vez de
ser ele mesmo a anunciar.
Primeiro o presidente do STF marcou uma audiência na manhã de
quinta-feira (29) com a presidenta Dilma Rousseff para comunicar sua
decisão de aposentar. A presidenta não costuma comentar com a imprensa
conversas que não sejam temas administrativos, e nada disse. Depois
Barbosa visitou o presidente do Senado, Renan Calheiros, para comunicar o
mesmo. Assediado pela imprensa, nada comentou. Coube a Renan Calheiros
relatar a conversa para os repórteres que aguardavam, certamente
autorizado por Barbosa.
Uma decisão estranha. As revistas e jornais que retrataram Barbosa
como um Batman da moralidade, são as mesmas que demonizaram Renan
Calheiros. Isto deve ter desapontado alguns admiradores de Barbosa,
influenciados por este tipo de imprensa. E dá a entender que o
presidente do STF está rendendo-se à realpolitik, já articulando
politicamente com um partido forte e que está na base governista, já que
as relações de Barbosa com a oposição tucana são consolidadas, tanto na
proximidade com o senador Aécio Neves (PSDB), como no alívio de não
levar a julgamento o mensalão tucano.
Em seguida, o périplo político de Barbosa continuou, visitando o
presidente da Câmara dos deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Só de tarde, em sessão do STF transmitida pela TV Justiça, comunicou oficialmente sua decisão a seus pares da Corte.
Barbosa não poderá mais concorrer em 2014, pois precisaria ter
deixado o cargo no início de abril para não perder o prazo. Mas ele pode
candidatar-se em 2018. É incerto seu futuro político e há dúvidas se
seria promissor. Longe do STF estará longe também dos holofotes. Barbosa
não tem um perfil carismático, nem mobilizador para resistir a quatro
anos sem poder, nem muita habilidade política.
Além disso, o processo do chamado "mensalão" deverá ter revisões
criminais, que podem desmontar certas condenações. Se surgirem provas de
que Barbosa errou na relatoria e no desmembramento de processos, e há
fortes evidências de que isso pode ter acontecido, seu futuro político
pode ser semelhante ao de Joseph McCarthy. E, também, já há conversas de
que Barbosa será cabo eleitoral do candidato Aécio Neves, na eleição
próxima. Barbosa e Aécio são próximos, já foram fotografados juntos em
diversas ocasiões.
Aguardemos os desdobramentos.
Brasil 247
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