Qual o problema de a família mais rica do Brasil ser
dona dos principais meios de comunicação do país? Resposta: poder demais
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Roberto Marinho (de bigode) e seus três filhos, todos na lista da Forbes
Por Bruno Marinoni*
No último dia 13, a Revista Forbes divulgou seu ranking de
“ricaços” do Brasil. Os Marinho lideram a competição com uma fortuna
estimada em US$ 28,9 bilhões. Qual o problema de a família mais rica do
Brasil ser dona dos principais meios de comunicação do país? Resposta:
poder demais. Poder econômico e cultural (ideológico, simbólico ou como
se quiser chamar). Isso se falarmos genericamente.
Se pensamos de forma mais concreta, observando a história do setor da
comunicação social no Brasil, responderemos de outra forma. O total
domínio do interesse privado-comercial, o jogo de influências (e
privilégios) políticas, a inexistência de mecanismos democráticos de
participação social na comunicação (o que gera um sério problema para a
garantia da liberdade de expressão), a extrema oligopolização e uma
série de outros problemas nos fazem pensar que a resposta mais correta,
na verdade é: dominação demais.
Uma sociedade que pressupõe que “todo o poder emana do povo”,
que se pretende “livre, justa e solidária” e que afirma que “homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações” deve fazer os ajustes
necessários para que possa garantir liberdade, justiça, solidariedade,
igualdade e poder popular. E isso significa não permitir que o poder se
concentre nas mãos de alguns poucos indivíduos. E dinheiro é poder. E
comunicação é poder.
Opa! Ouvi alguém ali comentando: “mérito!”. Será? Dos 65 bilionários
constantes na lista de ricaços do Brasil, 25 são “herdeiros”. Assim
também acontece coincidentemente com o trio de irmãos Marinho. Ainda que
não fosse isso, porém, quem disse que é legítimo o assassinato da
democracia pela meritocracia? E que mérito se tem em ser mais poderoso
porque se tem mais recursos do que os outros?
Imediatamente atrás dos Marinho, no ranking, estão as famílias
de banqueiros. Safra (da família homônima), Ermírio de Moraes
(Votorantim), Moreira Salles (Unibanco-Itaú). Os governos do Brasil
pós-ditadura não ousaram mexer com os primeiros, magnatas da
comunicação, e nutriram os últimos, senhores do vil metal. Quem se
atreveria a enfrentar tamanho poder, diante de compromissos mais
urgentes como a garantia da governabilidade? Já pensou o que seria de um
governo deslegitimado por todos os meios de comunicação? Melhor não
mexer aí, ganhar confiança, oferecer uma vaga de ministro ao Hélio
Costa, não insistir com esse papo de mané projeto de Agência Nacional do
Audiovisual... Vai que os Marinho se zangam... Já pensou? Nem pensar!
Aliás, os Marinho já constam no ranking da Forbes desde 1987,
primeira vez em que foi publicado, acompanhados pelas famílias Ermírio
de Moraes e Camargo (Camargo Correa). E, assim, se dá prosseguimento à
triste tradição brasileira de mandar quem pode (e tem poder) e obedecer
quem tem juízo. Ou não.
* Bruno Marinoni é repórter do Observatório do Direito à
Comunicação, doutor em Sociologia pela UFPE e integrante do Conselho
Diretor do Intervozes
Carta Capital
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