Diante do 2º Congresso de Diários do Interior,
ex-presidente faz comparação de impacto: "Quando chegamos, publicidade
oficial chegava a 249 rádios e jornais", iniciou Lula; "Em 2009, o
governo federal já estava anunciando em 4.692 rádios e jornais de todo o
país"; para ele, jornalões e máquinas da tevê só procuraram defeitos e
encobriram resultados dos programas federais Fome Zero, Luz Para Todos,
Mais Alimentos, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, ProUni, Reuni,
Fies, o Samu e o BNDES; "Quando o Luz Para Todos chegou a 15 milhões de
pessoas, um grande jornal deu na primeira página: '1 milhão de
brasileiros ainda vivem sem luz', lembrou; "Está publicado, não é
invenção"; Lula quer uma Lei de Mídia no próximo governo; "O Código de
Telecomunicações é de 1962. O Brasil não tinha nem televisores, tinha
televizinhos, como diz o Franklin Martins"
247 – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
avançou na defesa de uma nova legislação para regular o funcionamento
dos meios de comunicação de massa, a chamada Lei de Mídia, ou de Meios.
Até o discurso feito ontem na abertura do 2º Encontro Nacional de
Diários do Interior, em Brasília, o ex-presidente sempre fora um crítico
do noticiário dos veículos da mídia nacional, de perfil tradicional e
familiar, mas não havia deixado tão claro o quanto considera importante
mudar a legislação do setor.
- O Código de Telecomunicações é de 1962, quando não havia nem
televisores no Brasil, mas televizinhos, como diz o Franklin Martins,
divertiu-se o ex-presidente diante da plateia. Além do ex-ministro da
Secretaria de Comunicação, principal incentivador de uma Lei de Mídia
dentro do governo e do PT, Lula também citou o ex-secretário-geral da
Presidência Luiz Dulci, defensor da mesma posição.
- Uma das mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi
democratizar o critério de programação da publicidade oficial, afirmou
Lula. Em seguida, fez uma comparação de causar impacto:
- Quando chegamos ao governo, a publicidade oficial era veiculada em
anunciava em 249 rádios e jornais. Em 2009, o governo federal já estava
anunciando em 4.692 rádios e jornais de todo o país, cotejou.
Lula frisou que considera completamente distorcidas as coberturas
jornalísticas feitas pela "mídia nacional" sobre, sem exceção, todos os
programas de inclusão social de sua gestão e da presidente Dilma
Rousseff. Iniciando pela história da implantação do Fome Zero, Lula
assinalou que viu os jornais de maior circulação e as principais
emissoras de televisão – sem citar o nome de nenhum veículo, empresa ou
família detentora – atacarem, desdenharem, criticarem, encobrirem e não
reconhecerem os resultados das seguintes ações de governo: Luz Para Todos, Mais Alimentos, Mais Médicos, Minha Casa, Minha Vida, ProUni, Reuni, Fies, o Samu e, ainda, o BNDES. Ufa!
Para cada programa, citou lembranças de como vem sendo a cobertura
nos jornalões e resgatou que as maiores agências de publicidade criticam
o governo quando verbas foram redivididas:
- Reclamaram quando o Luiz Dulci incluiu a imprensa regional na programação de publicidade do governo federal.
E reclamaram ainda mais quando o Franklin Martins aprofundou a
política de democratização da publicidade, abrangendo as empresas
estatais, sublinhou.
Lula prosseguiu:
- Diziam (as agências) que para falar com o Brasil bastava anunciar
nos jornais de circulação nacional e nas redes de rádio e TV. Hoje é
fácil ver como estavam errados, pois a imprensa regional está cada vez
mais forte. São 380 diários que circulam 4 milhões de exemplares por
dia, de acordo com os dados da ADI-Brasil.
Antes da íntegra do pronunciamento de Lula, que já reacendeu o debate
sobre uma Lei de Mídia, um dos pontos altos do discurso ao 2º Encontro
dos Diários do Interior:
- Os grandes jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o
programa superou todas as expectativas e alcançou 15 milhões de
brasileiros, um desse jornais deu na primeira página: "1 milhão de
brasileiros ainda vivem sem luz". Está publicado, não é invenção, riu-se
Lula.
Abaixo, a íntegra:
É sempre um prazer dialogar com os jornalistas e empresários da
imprensa regional brasileira. Por isso agradeço o convite da Associação
dos Diários do Interior do Brasil para participar desse Congresso.
Vocês acompanharam as transformações que ocorreram no Brasil nesses
11 anos e que beneficiaram o conjunto do país, não apenas os
privilegiados de sempre ou as grandes capitais.
Sabem exatamente como essa mudança chegou às cidades médias e aos mais distantes municípios.
O Brasil antigo, até 2002, era um país governado para apenas um terço
dos brasileiros, que viviam principalmente nas capitais. A grande
maioria da população estava condenada a ficar com as migalhas; excluída
do processo econômico e dos serviços públicos, sofrendo com o
desemprego, a pobreza e a fome.
Os que governavam antes de nós diziam que era preciso esperar o país
crescer, para só depois distribuir a riqueza. Mas nem o país crescia o
necessário nem se distribuía a riqueza.
Nós invertemos essa lógica perversa, adotando um modelo de
desenvolvimento com inclusão social. Criamos o Fome Zero e o Bolsa
Família, que hoje é um exemplo de combate à pobreza em muito países.
Adotamos uma política de valorização permanente do salário e de
expansão do crédito, que despertaram a força do mercado interno, e ao
mesmo tempo garantimos a estabilidade, controlando a inflação e
reduzindo a dívida pública.
O resultado vocês conhecem: 36 milhões de pessoas saíram da extrema
pobreza, 42 milhões alcançaram a classe média e mais de 20 milhões de
empregos foram criados.
O Brasil não é mais um país acanhado e vulnerável. Não é mais o país
que seguia como um cordeirinho a política externa ditada de fora. Não é
só o país do futebol e do carnaval, embora tenhamos orgulho da alegria e
do talento do nosso povo.
O Brasil tornou-se um competidor global – e isso incomoda muita gente, contraria interesses poderosos.
A imprensa cumpre o importante papel de traduzir essa nova realidade
para a população. E isso não se faz sem uma imprensa regional
fortalecida, voltada para aquela grande parcela do país que não aparece
nas redes de TV.
Todo governo democrático tem a obrigação de prestar contas de seus
atos à sociedade. E tem obrigação de divulgar os serviços públicos à
disposição da população.
A publicidade oficial é o instrumento dessa divulgação, que se faz em
parceria com os veículos de imprensa – desde a maior rede nacional até
os jornais do interior profundo do país.
Uma das mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi democratizar o critério de programação da publicidade oficial.
Quero recordar que esta medida encontrou muito mais resistências do
que poderíamos imaginar, embora ela tenha sido muito importante para
aumentar a eficiência da comunicação de governo.
Essa medida foi também uma questão de justiça, para reconhecer a importância do interior no desenvolvimento do Brasil.
Quando o companheiro Luiz Gushiken, que era o ministro da Secom em
meu primeiro mandato, começou a democratizar a publicidade oficial,
muita gente foi contra.
As agências de publicidade, os programadores de mídia e os
representantes dos grandes veículos achavam que era uma mudança
desnecessária.
Reclamaram quando o Luiz Dulci incluiu a imprensa regional na programação de publicidade do governo federal.
E reclamaram ainda mais quando o Franklin Martins aprofundou a
política de democratização da publicidade, abrangendo as empresas
estatais.
Diziam que para falar com o Brasil bastava anunciar nos jornais de circulação nacional e nas redes de rádio e TV.
Hoje é fácil ver como estavam errados, pois a imprensa regional está
cada vez mais forte. São 380 diários que circulam 4 milhões de
exemplares por dia, de acordo com os dados da ADI-Brasil.
Isso ocorre porque temos políticas que levam progresso e inclusão social ao interior do país.
De cada 3 empregos criados no ano passado, 2 se encontram em cidades do interior e apenas 1 nas regiões metropolitanas.
Nunca antes o governo federal investiu tanto no desenvolvimento
regional, para combater desequilíbrios injustos e injustificáveis.
Nunca antes a relação entre o governo federal, os Estados e as prefeituras foi tão republicana quanto nestes 11 anos.
E são jornais do interior – e não os veículos nacionais – que traduzem essa realidade.
Quando chegamos ao governo, a publicidade oficial era veiculada em
anunciava em 249 rádios e jornais. Em 2009, o governo federal já estava
anunciando em 4.692 rádios e jornais de todo o país.
Meus amigos, minhas amigas
Pediram-me para contar aqui uma experiência com a imprensa regional
no período em que fui presidente da República. Vou contar o que aprendi
comparando a cobertura da imprensa regional com a que fazem os grandes
jornais.
Quando o Luz Pra Todos chega numa localidade rural ou numa periferia
pobre, está melhorando a vida daquelas pessoas e gerando empregos. Isso é
uma notícia importante para os jornais da região.
Os grandes jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o
programa superou todas as expectativas e alcançou 15 milhões de
brasileiros, um desse jornais deu na primeira página: "1 milhão de
brasileiros ainda vivem sem luz". Está publicado, não é invenção.
Onde é que estava esse grande jornal quando 16 milhões de brasileiros não tinham luz?
Quando chega o momento de plantar a próxima safra, são os jornais
regionais que informam sobre as datas, os prazos, os juros e as
condições de financiamento nas agências bancárias locais.
Mas na hora de informar à sociedade que em 11 anos o crédito agrícola
passou de R$ 30 bilhões para R$ 157 bilhões, o que a gente lê num
grande jornal é que a inflação pode aumentar porque o governo está
expandindo o crédito.
Quando uma agência bancária da sua cidade recebe uma linha do BNDES
pra financiar a compra de tratores e veículos pelo Mais Alimentos, vocês
sabem que isso aumenta a produtividade e aquece o comércio local. É uma
boa notícia.
Mas quando o programa bate o recorde de 60 mil tratores e 50 mil
veículos financiados, a notícia em alguns jornais é que o governo "está
pressionando a dívida interna bruta".
Quando nasce um novo bairro na cidade, construído pelo Minha Casa Minha Vida, essa é uma notícia local muito importante.
Mas um programa que contratou 3 milhões de unidades, e já entregou
mais da metade, só aparece na TV e nos grandes jornais se eles encontram
uma casa com goteira ou um caso qualquer de desvio.
Quando o governo federal inaugura um hospital regional, isso é
manchete nos jornais de todas as cidades daquela região. O mesmo
acontece quando chega o SAMU ou um posto do Brasil Sorridente.
Mas lendo os grandes jornais é difícil ficar sabendo das quase 300
UPAs, 3 mil ambulâncias do SAMU e mais de mil consultórios odontológicos
que foram abertos por todo o país nestes 11 anos.
A maior cobertura de políticas públicas que os grandes jornais
fizeram, nesse período, foi para apoiar o fim da CPMF, que tirou R$ 50
bilhões anuais do orçamento da Saúde.
Quando sua cidade recebe profissionais do Mais Médicos, vocês sabem o
que isso representa para os que estavam desatendidos. Vão entrevistar
os médicos, apresentá-los à população.
Mas quando 15 mil profissionais vão atender 50 milhões de pessoas no
interior do país, a imprensa nacional só fala daquela senhora que
abandonou o programa por razões políticas, ou daquele médico que foi
falsamente acusado de errar numa receita.
Quando um novo câmpus universitário é aberto numa cidade, os jornais
da região dão matérias sobre os novos cursos, as vagas abertas, debatem o
currículo, acompanham o vestibular.
Lendo os grandes jornais é difícil ficar sabendo que nestes 11 anos
foram criadas18 novas universidades e abertos 146 novos campi pelo
interior do país.
É nos jornais do interior que se percebe a mudança na vida de milhões
de jovens, porque eles não precisam mais sair de casa, deixar para trás
a família e os valores, para cursar a universidade.
O número de universitários no Brasil dobrou para 7 milhões, graças ao
Prouni, ao Reuni e ao FIES. Os grandes jornais não costumam falar
disso, mas são capazes de fazer um escândalo quando uma prova do ENEM é
roubada de dentro da gráfica – que por sinal era de um dos maiores
jornais do país.
Quando uma escola técnica é aberta numa cidade do interior, essa é
uma notícia muito importante para os jovens e para os seus pais, e vai
sair com destaque em todos os jornais da região.
Quando eu informo que nesses 11 anos já abrimos 365 escolas técnicas,
duas vezes e meia o que foi feito em século neste país, os grandes
jornais dizem apenas que o Lula "exaltou o governo do PT e voltou a
atacar a oposição".
Quando chega na sua cidade um ônibus, um barco ou um lote de
bicicletas para transportar os estudantes da zona rural, essa é uma boa
notícia.
O programa Caminho da Escola já entregou 17 mil ônibus, 200 mil
bicicletas e 700 embarcações, para transportar 2 milhões de alunos em
todo o país. Mas só aparece na TV se faltar combustível ou se o
motorista do ônibus não tiver habilitação.
Eu costumo dizer que os grandes jornais me tratam muito bem. Mas eu
gostaria mesmo é que mostrassem as mudanças que ocorrem todos os dias em
todos os cantos do Brasil.
Meus amigos, minhas amigas,
Quanto mais distante estiver da realidade, mais vai errar um veículo
de comunicação. Basta ver o que anda publicando sobre o Brasil a
imprensa econômica e financeira do Reino Unido.
O país deles tem uma dívida de mais de 90% do PIB, com índice recorde
de desemprego, mas eles escrevem que o Brasil, com uma dívida líquida
de 33%, é uma economia frágil.
Não conheço economia frágil com reservas de US$ 377 bilhões, inflação
controlada, investimento crescente e vivendo no pleno emprego.
Escrevem que os investidores não confiam no Brasil, mas omitem que
somos um dos cinco maiores destinos globais de investimento externo
direto, à frente de qualquer país europeu.
Dizem que perdemos o rumo e devemos seguir o exemplo de países
obedientes à cartilha deles. Mas esquecem que desde 2008, enquanto o
mundo destruiu 62 milhões de postos de trabalho, o Brasil criou mais de
10 milhões de novos empregos.
O que eu lamento é que alguns jornalistas brasileiros fiquem
repetindo notícias erradas que vêm de fora, como bonecos de ventríloquo.
Isso é ruim para a imprensa, porque o público sabe distinguir o que é
realidade do que não é.
Alguns jornalistas dos grandes veículos passaram o ano de 2013
dizendo que a inflação ia estourar, mas ela caiu. Passaram o ano dizendo
que a inadimplência ia explodir, mas ela também caiu.
Diziam que o desemprego ia crescer, e nós terminamos o ano com a
menor taxa da história. Chegaram a dizer que o Brasil entraria em
recessão, mas a economia cresceu 2,3%, numa conjuntura internacional
muito difícil.
Eu gostaria que esses jornalistas viajassem pelo interior do país,
conhecessem melhor a nossa realidade, estudassem um pouco mais de
economia, antes de repetir previsões pessimistas que não se confirmam.
E vou continuar defendendo a liberdade de imprensa e o direito de
opinião, porque sei que, mesmo quando erra, a imprensa livre é
protagonista essencial de uma sociedade democrática.
Meus amigos, minhas amigas,
A democracia é o único sistema que permite transformar um país para melhor. E ela não existe sem que as pessoas participem diretamente da vida política. Por isso digo sempre aos jovens: se querem mudar a política, façam política. E façam de um jeito melhor, diferente. Negar a política é o caminho mais curto para abolir a democracia.
Aprimorar a democracia significa também garantir ao cidadão o direito
à informação correta e ao conhecimento da diversidade de ideias, numa
sociedade plural. Esse tema passa pela construção do marco regulatório
da comunicação eletrônica, conforme previsto na Constituição de 1988.
O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, quando no país
inteiro havia apenas 2 milhões de aparelhos de TV. Como diz o Franklin
Martins, havia mais televizinhos do que televisores.
É de um tempo em que não havia rádio FM, não havia computadores, não
havia internet. De um tempo em que era preciso marcar hora para fazer
interurbano.
No Brasil de hoje é preciso garantir a complementariedade de emissoras privadas, públicas e estatais. Promover a competição e evitar a contaminação do espectro por interesses políticos. Estimular a produção independente e respeitar a diversidade regional do país.
No Brasil de hoje é preciso garantir a complementariedade de emissoras privadas, públicas e estatais. Promover a competição e evitar a contaminação do espectro por interesses políticos. Estimular a produção independente e respeitar a diversidade regional do país.
Uma regulação democrática vai incentivar os meios de comunicação de
caráter comunitário e social, fortalecer a imprensa regional, ampliar o
acesso à internet de banda larga. Por isso foi tão importante aprovar o
Marco Civil da Internet.
Este é o desafio que se apresenta aos meios de comunicação, seus
dirigentes e seus profissionais, nesse novo Brasil: o desafio de ser
relevante num país com uma população cada vez mais educada, com um nível
de renda que favorece a independência de opinião e com acesso cada vez
mais amplo a outras fontes de informação.
Quero cumprimentar a ADI-Brasil, mais uma vez, pela realização desse
Congresso, e dar os parabéns aos seus associados, que levam notícias
para a população do interior desse imenso país.
Muito obrigado.
Brasil 247
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