Empurrados para a radicalização pró-mudanças, eles agradam apenas a quem detesta o lulopetismo
Roberto Stuckert Filho/PR
À medida que o tempo passa, mais
claro fica o quadro: nenhum dos possíveis adversários de Dilma Rousseff
na eleição deste ano demonstra ter fôlego para vencê-la. Não é
impossível que algum venha a encontrá-lo, mas o certo é que, até agora,
ninguém conseguiu.
A afirmação pode soar estranha a quem
presenciou a celebração de nossa “grande imprensa” nos últimos dias, a
propósito da divulgação de pesquisas de institutos como MDA, Datafolha e
Sensus. Em manchetes às vezes garrafais, a mídia corporativa as
apresentou como reveladoras de um quadro novo, desfavorável à presidenta
e propício às oposições.
Foram pesquisas a respeito de intenções de voto e
avaliação do governo federal. E todas mostraram uma queda na
popularidade da presidenta e do governo, acompanhada de uma redução
quase idêntica na proporção daqueles que dizem pretender votar em Dilma.
Até aí, tudo natural.
Se alguém está insatisfeito com o desempenho do governo, se está
convencido de que as coisas não vão bem em Brasília, é lógico não
desejar a continuidade. O passo seguinte é igualmente lógico: não querer
votar em quem a representa.
Eleições são, no entanto, semelhantes àquilo que os
economistas chamam jogo de “soma zero”, o que um jogador perde é igual
ao que o outro ganha. Neles, é impossível todos lucrarem ou terem
prejuízo ao mesmo tempo. Na divisão de um bolo, por
exemplo, se alguém aumenta o tamanho de seu pedaço, a parte restante aos
outros fica menor. Os votos que um candidato não consegue obter (ou
deixa de ter) são repartidos pelos demais.
Desse modo, era de esperar que a
queda de Dilma beneficiasse algum ou vários de seus adversários. Mas não
foi o que as pesquisas mostraram.
Note-se: esses levantamentos foram feitos logo após o
ciclo de propaganda partidária dos oponentes de Dilma. Como sabemos à
luz do ocorrido em eleições anteriores, pesquisas feitas nesses momentos
costumam provocar “picos” nas intenções de voto, que tendem a
desaparecer com o transcurso do tempo.
Primeiro foi a vez de Eduardo Campos,
que, no fim de março, usou as inserções e o programa do PSB para se
promover. Depois, Aécio Neves, em meados de abril, fez o mesmo com o
tempo do PSDB. Até o Pastor Everaldo, na segunda quinzena de abril,
utilizou o estratagema de dizer que fazia propaganda de seu partido, o
PSC, para praticar, de fato, proselitismo a favor de sua candidatura (o
que a legislação proíbe, mas ninguém respeita).
Quando se consideram o contexto em que as pesquisas foram
realizadas e a queda apontada de Dilma, deveríamos ter resultados
favoráveis aos adversários da presidenta. Pelo que vimos no passado, a
expectativa, na verdade, é que fossem muito favoráveis.
Contudo, só o tucano cresceu e em patamar
modesto. O pernambucano e o pastor ficaram fundamentalmente iguais,
movendo-se dentro da margem de erro. As oposições melhoraram pouco,
menos do que deveriam e menos do que precisam para alcançar a candidata
do PT.
A esta altura da eleição, os problemas
que atingem a imagem da presidenta, do governo e do PT afetam a
candidatura, mas pouco benefício trazem às oposições, apesar da
ininterrupta campanha de desconstrução movida pela mídia oposicionista. O
saldo? Dilma cai (apesar de menos do que seus inimigos gostariam) e
ninguém sobe (de maneira significativa).
É sempre bom
lembrar que, com números de popularidade e intenção de voto semelhantes
aos de Dilma hoje, Fernando Henrique Cardoso reelegeu-se no primeiro
turno em 1998. Em junho daquele ano, estava empatado com Lula. Na urna, o
ultrapassou com folga. E era Lula e não algum candidato pouco conhecido
e com imagem problemática.
Vamos fazer neste outubro uma eleição diferente. Não será
de pura continuidade, como aquelas de 1994, 1998, 2006 e 2010. Não será
tampouco de pura mudança, como as de 1989 e 2002. O eleitorado busca
agora uma boa mistura entre as duas possibilidades.
Os adversários de Dilma, empurrados para a
radicalização pró-mudança pela fúria do oposicionismo de uma parte da
sociedade, do empresariado e da mídia, agradam apenas a quem detesta o
lulopetismo. Afastam-se, porém, daqueles que desejam que diversas coisas
mudem no País, mas têm certeza de que há muito que deve continuar. E
permanecem a léguas da ampla parcela que prefere a continuidade.
Talvez por isso não cresçam.
Carta Capital
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