ter, 20/05/2014 - 18:08
- Atualizado em 20/05/2014 - 19:04
Jornal GGN –
A quem interessa que a compra da Refinaria de Pasadena tenha sido um
erro e que a Petrobras seja classificada como uma empresa mal gerida e
quebrada? Essa foi uma das perguntas que os senadores membros da CPI da
Petrobras - todos da situação - fizeram ao ex-presidente da estatal,
José Sérgio Gabrielli, na manhã desta terça-feira (20).
“A Petrobras não pode ser considerada uma empresa falida ou mal
gerida. Isso é campanha da oposição e luta política. Essas forças são
contrárias à Petrobras e querem desqualificá-la criando essa falsa
imagem de que ela está em crise”, disparou Gabrielli.
Nenhuma liderança do PSDB ou do DEM - que recorreram, inclusive, ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir uma investigação exclusiva
sobre a Petrobras no Senado - esteve no plenário ou integra a CPI como
membro permanente. Eles declinaram a participação mirando uma CPI mista,
com menos espaço para o governo.
Ao longo de três horas, Gabrielli respondeu a cerca de 200 perguntas,
a maioria sobre a compra de uma refinaria no Texas, Estados Unidos,
pelo total de 1,2 bilhão de dólares, em 2006. Segundo a atual presidente
da Petrobras, Graça Foster, a aquisição, até o ano passado, acumulou
prejuízo de 530 milhões de dólares, mas nos dois primeiros meses de 2014
registrou lucro líquido de 58 milhões de dólares.
"Em 2006, Pasadena era um bom negócio. Em 2008, se torna mau
negócio porque reflete a mudança que houve no mundo em 2008 com a crise
financeira. Reflete a mudança no mercado dos EUA, que conseguiu reverter
a desvantagem que tinha no passado com a venda de petróleo mais leve.
Em 2013 volta a ser bom negócio e em 2014 é lucrativa. Compra petróleo
leve no Texas que pode ser processado com margem de 30 a 40 dólares por
barril, e produz 100 mil barris por dia. São 30 milhões de barris por
ano. Se a margem de rentabilidade for de 10%, são 100 milhões de dólares
de lucro por ano. Os dados são do mercado, são públicos", pontuou.
Na avaliação do ex-dirigente, as denúncias que a oposição ao PT
levantam há meses sobre a estatal têm como pano de fundo o destino da
empresa e a exploração do pré-sal. Ele lembrou que, em 2010, o site
estrangeiro Wikileaks expôs um telegrama em que o ex-presidenciável José
Serra (PSDB) teria sinalizado à petroleira Chevron que mudaria as
regras para exploração e repartição dos lucros do pré-sal caso vencesse a
disputa eleitoral.
“Em 2009, o Congresso Nacional começou a discutir o marco
regulatório do petróleo brasileiro. A primeira mudança com o marco foi
definir que os lucros do pré-sal seriam compartilhados entre Petrobras e
Estado brasileiro. A segunda, que a Petrobras será a operadora única do
pré-sal. Há vazamento no Wikileaks colocando de forma clara
que a prioridade do próximo governo [o da oposição, se vencer a disputa
em outubro próximo] é desmontar essa lei. Apareceram nomes de políticos,
que prefiro declinar, mas são políticos da oposição”, destacou.
Gabrielli apresentou dados do último balanço financeiro da Petrobras
para rebater as acusações de que a empresa está afundada em dívidas.
Segundo ele, os dados mais recentes comprovam que o lucrou do primeiro
trimestre de 2014 foi de 5 bilhões de reais. "Só não chegou a 7 bilhões porque reservou 2 bilhões para o programa de aposentadoria dos funcionários. A
Petrobras só toma empréstimo para crescer, não para resolver problemas
de caixa. Como falar que ela está em crise? A empresa é pujante, está em
crescimento.”
Corrigindo informações
O ex-presidente da Petrobras aproveitou o depoimento no Senado sem
intervenções de oposicionistas para corrigir informações publicadas na
grande mídia. Para ele, um dos erros foi terem apontado que a compra de
Pasadena teria ocorrido “a toque de caixa”. Passou-se pelo menos um ano
desde setembro de 2005, quando a Petrobras fez uma proposta à detentora
de 100% da refinaria, a empresa belga Astra Oil, até que os contratos
fossem assinados, no final de 2006, segundo explicou.
Gabrielli também comentou a entrevista que o jornal O Estado de S.
Paulo publicou sobre o tema. Segundo ele, o veículo deu destaque para a
parte em que o ele diz que Dilma precisa assumir sua responsabilidade
sobre a compra da refinaria. A presidente havia afirmado que se soubesse
das cláusulas Put Option e Marlim, que causaram desentendimentos entre
as sócias, não teria autorizado a compra. “Pinçar aquela frase é deslocar o que foi dito”, avaliou
Gabrielli. Não houve, de acordo com ele, tentativa de imputar a
responsabilidade da compra de Pasadena a Dilma simplesmente porque a
decisão sobre a compra é de um órgão colegiado.
“A
presidente Dilma é uma gerente de extrema competência. Ela tem posições
muito firmes. Porém as decisões Conselho de Administração da Petrobras
são de colegiado. Se ela colocasse uma posição [contrária à compra de
Pasadena após saber das cláusulas], em 2006, não posso dizer qual seria a
conclusão. Haveria debate. A responsabilidade é da diretoria
internacional da Petrobras e do Conselho. A responsabilidade não é
individualizada. O processo de compra é coletivo.”
Gabrielli reforçou que historicamente o Conselho de Administração da
Petrobras desempenha o papel de avalizar decisões estratégicas após as
diretorias abaixo do Conselho na hierarquia debaterem os processos. No
caso da compra de Pasadena, quem capitaneava a negociação desde o início
era a diretoria internacional da Petrobras, chefiada por Nestor Cerveró
- que depõe na CPI na próxima quinta-feira (22).
“O Conselho toma decisões com base em sumários executivos, não
com base no sumário total, porque são processos grandes. Não há
condições de analisar tudo. Tudo precisa passar antes pelo crivo das
diretorias competentes. Logo, os membros do Conselho receberam um
sumário executivo sobre Pasadena", um sumário sem explicações sobre as cláusulas citadas. Apesar disso, elas não eram "determinantes" para o negócio. "O
que estava em jogo não eram as cláusulas, mas saber se iriamos expandir
nossa produção pelo mundo ou se ficaríamos apenas na Argentina e
Bolívia."
SBM Offshore e Paulo Roberto Costa
O ex-presidente da Petrobras evitou se aprofundar nas questões acerca
da relação entra a estatal brasileira e a empresa SBM Offshore. Ele
apenas refutou as acusações feitas na imprensa nos últimos meses,
dizendo que à mídia internacional a holandesa desmentiu que haja
informações contra a Petrobras por pagamento de propina a funcionários
brasileiros. “Não há nenhum indício de propina. Não vou comentar porque
desconheço esse tipo de informação”, resumiu.
Sobre a relação de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras preso
na Operação Lava-Jato da Polícia Federal - mas recentemente solto por
determinação do STF -, Gabrielli também disse pouco. Apenas que no caso
de Pasadena, Paulo Roberto teria participado apenas de uma reunião com a
sócia Astra Oil para denotar que a Petrobras iria recorrer à justiça
para concluir o processo de rescisão da parceria no Texas.
Jornal GGN - Blog do Luis Nassif
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