quinta-feira, 22 de maio de 2014

Aécio pode fazer os tucanos sentirem saudade de Serra

Postado em 22 mai 2014
 
 
 
 
Thatcherista com 30 anos de atraso
Thatcherista com 30 anos de atraso


A última pesquisa Ibope é uma paulada em Aécio. Compare os 20% dados a ele com os quase 24% que o instituto Sensus lhe atribuíra semanas atrás.


Fica agora claro que o que realmente ergueu Aécio foi a decisão do Sensus de usar a ordem alfabética nas cartelas mostradas aos eleitores.


Seu nome vinha em primeiro e isso o elevou artificialmente.


O patamar real de Aécio é, ao que tudo indica, os 20%, e se ele não sair daí a eleição deve ser decidida no primeiro turno, dada a anemia eleitoral de Eduardo Campos.


Temos, aparentemente, “2 and a half” candidatos: Dilma, Aécio e Campos.


Campos perdeu a chance de mostrar que é um político diferente ao não fazer o que as intenções de voto gritavam que fizesse: deixar Marina ser a candidata da coalizão.


Aécio pode crescer a ponto de forçar o segundo turno?


Numa palavra: não. Não com seu discurso thatcherista, atrasado em mais de trinta anos.


Nem os conservadores ingleses ousam repetir as teses de Thatcher, que ajudaram a levar o mundo a uma brutal concentração de renda. Desregulamentar, privatizar, ceifar direitos trabalhistas etc etc.


É incrível que ele faça do thatcherismo a base de sua campanha em 2014.


Isso vai dar a ele um apoio torrencial dos barões da mídia e do chamado 1%. Mas não vai lhe dar votos.


Imagine a seguinte cena num debate: Candidato Aécio, o senhor poderia descrever as medidas impopulares que prometeu tomar? O senhor concorda que o salário mínimo cresceu muito, como diz seu conselheiro econômico, Armínio Fraga?


Nelson Rodrigues dizia que gostava que os atores fossem burros ao interpretar peças suas. Burros para não melhorar, aspas, o texto original de NR.


Se fosse inteligente, Aécio seria burro. Pegaria a essência do discurso do Papa Francisco e a adaptaria a seu discurso. As pessoas iam querer conversar com ele, como querem conversar com Francisco.


Bastava, de cara, falar em desigualdade como o grande mal brasileiro. E falar, e falar, e falar.
Depois, as oportunidades de brilhar se apresentariam. Aécio poderia posar segurando o livro de Piketty sobre desigualdade que é a sensação do mundo econômico e político em nossos dias.


Num gesto surpreendente e que lhe renderia boa publicidade, poderia convidar Piketty para fazer uma palestra no Brasil.


Ele estaria inovando, surpreendendo. E mostrando que está sintonizado com o mundo.


Mas não.


Em vez de Piketty, ele nos oferece Armínio Fraga. Talvez desça ainda mais na escada e fale na Esquerda Caviar de Constantino.


Aécio poderia tornar interessante a eleição.


Mas optou pelo caminho que conduz a um só destino: o fracasso.  É possível que os tucanos terminem saudosos de Serra: perdia, mas pelo menos chegava ao segundo turno.


Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
 
 
Diário do Centro do Mundo

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