24 de abril de 2014 | 00:48 Autor: Fernando Brito
O descaramento da promotora Márcia Milhomens dá ideia da prepotência que assumiram certos integrantes do Ministério Público.
Ela justifica o pedido de quebra do sigilo das comunicações do Palácio do Planalto,
feito sorrateiramente apenas com o fornecimento das coordenadas, pelo
fato de ter recebido informações anônimas de que “o sentenciado José
Dirceu teria estabelecido contato telefônico” com alguém – que estaria
naquelas coordenadas.
A promotora acha que a as pessoas são idiotas?
Alguém – anônimo – chegou para ela e disse:
-Olha, o Dirceu falou com alguém que estava lá no Palácio do Planalto…
- Que dia?
- Ah, não sei, foi num dia de janeiro, não sei se dia 1°, 2, 3, 4, 5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15 ou 16…
- E com quem falou?
- Não sei, capaz de ter sido a Dilma…
- É? Vou mandar quebrar o sigilo telefônico daquela mulher…
O que é isso, Doutora?
A senhora ganha R$ 30 mil por mês, quase, para fazer gracinha?
“Ressalte-se que não há pedido de quebra de sigilo telefônico (…). Busca-se apenas a informação sobre os dados telefônicos…”
Dona Márcia, quebra de sigilo telefônico é exatamente isso, recolher
os dados telefônicos de quem ligou para que número, quando e por quanto
tempo.
Gravar os telefonemas é outra coisa: interceptação telefônica, que
tem uma lei específica que não se presta ao caso. Os dados telefônicos
também são sigilosos e a quebra deste sigilo também tem de ser
fundamentada.
Não basta o “alguém me disse” ou o “ah, a gente não quer saber o conteúdo das conversas”…
A senhora está pensando que é o Obama? Que o MP é a NSA do Edward Snowden?
Que tipo de prova a senhora pretende produzir?
Então qualquer pessoa, lá da Papuda, liga de um telefone celular
para o número de outra pessoa que está no Palácio do Planalto – trabalhe
lá ou esteja só passando por lá – e fica o registro.
E o que isso quer dizer? Nada.
Ah, não, serve para fazer uma onda de suspeitas, porque o telefone
teria ligado para outro telefone, que teria sido passado para…
Agora, para seu consolo, Dra. Márcia, a coisa mais vergonhosa neste
caso não é o papel caviloso a que a senhora submete sua autoridade de
promotora, transformada em capa para a invasão indevida na administração
e em ferramenta de manipulação política.
O papel mais vergonhoso é o da Chefia do Ministério Público e do
Poder Judiciário, que não reagiram a este procedimento traiçoeiro,
ardiloso e abusado, que atira – se ainda é possível atira mais – a
Justiça brasileira no tereno da politicagem e do partidarismo.
Tijolaço
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