21 de abril de 2014 | 17:01 Autor: Fernando Brito
Não costumo perder meu tempo lendo o que escreve o filósofo (ai,
jesus!) Luiz Felipe Pondé, elevado pela Folha à condição de pensador
existencial.
Mas hoje, enquanto cuidava aqui por minha mãe, de volta a uma longa
temporada de hospital, tive o descuido de ler sua coluna na Folha,
intitulada Por uma direita festiva.
E deparei-me com abjeções em série.
“Ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher. Este é o desafio maior para jovens que não são de esquerda.”
Pegar mulher, sim, senhores.
Uma coisa que se pega, não é?
Aliás, neste sentido primário, não me parece que, a não ser por
desinteresse, jovens e liberais, do rei dos camarotes ao
funk-ostentação, não têm muita dificuldade em “pegar mulher”…
Mas segui adiante, achando que pudesse ser ironia ou a tentativa de ser um “Macaco Simão” da filosofia.
“Um dos maiores desafios dos jovens que não são de esquerda não é
a falta de acesso a bibliografia que seus professores boicotam (o que é
verdade), nem a falta de empregos quando formados porque as escolas os
boicotam (o que também é verdade), mas sim a falta de mulheres jovens,
estudantes, que simpatizem com a posição liberal (como se fala no
Brasil) ou de direita (quase um xingamento).”
Ah, estamos vivendo sob uma ditadura marxista, onde os livros do
pensamento conservador são censurados e as empresas – verdadeiras
células da ditadura do proletariado – discriminam os “jovens que não são
de esquerda”. Então, os caríssimos mauricinhos estão, além de privados
de livros e empregos, vivem à míngua de companhia feminina…
Para mal dos meus pecados, não era brincadeira ou ironia. Pondé esclarece:
“Vou repetir, porque eu sei que questões altamente filosóficas
são difíceis de se entender: o maior desafio para um jovem estudante
liberal no Brasil é pegar mulher (no meio universitário e afins), sendo
liberal.”
Vejam que primor de explicação ele nos oferece:
“Os cursos em que você encontra jovens liberais (economia,
administração de empresas, engenharia e afins) têm muito poucas mulheres
e as que têm não têm muito interesse em papo cabeça e política. O
celeiro de meninas que curtem papo cabeça e política são cursos como
psicologia, letras, ciências sociais, pedagogia e afins, todos de
esquerda.”
O cidadão está meio atrasado.
Isso vem mudando faz tempo e, embora ainda sejam minoria na área de
Exatas, as mulheres, na maioria destes cursos, estão longe de serem
“muito poucas”, como se pode ver no exemplo da USP, registrado na tabela
aí ao lado.
“Papo-cabeça”, política, ao que parece, na visão de Pondé, seriam
como aqueles “assuntos de mulher” da primeira metade do século 20.
Frivolidades, desperdício de tempo. E, ao “pegador”, aconselha ele,
“pelo amor de Deus, não fale de economia”. As meninas destetam economia…
Será que é por uma inferioridade cerebral, professor Pondé?
Ao contrário, diz ele, “se você é de esquerda, pegar mulher é a coisa mais fácil do mundo”.
Ele imagina até o cenário da “pegada”: Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede.
Claro, porque, “sem álcool e conversa (…) a humanidade teria
desaparecido porque mais da metade das meninas não iam querer transar
–principalmente quando descobriram a dor do parto”.
Com toda a sinceridade, por mais que eu esteja acostumado com a
mediocridade mental da nossa “nova direita”, não deixo de ficar chocado
com estes episódios de selvageria mental explícita.
É algo comum aos Constantinos, Azevedos, ”humoristas”- filhotes do
CQC: alcançar a notoriedade pela grosseria e pela – perdoem, mas a
palavra é inevitável – escrotidão mental.
Tijolaço
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