sab, 19/04/2014 - 10:15
- Atualizado em 19/04/2014 - 10:51
Por Jns
A ofensiva de propaganda política está em andamento na mídia para
negar o envolvimento de fascistas no golpe apoiado pelos EUA na Ucrânia
ou apresentar o seu papel como um detalhe marginal e insignificante.
Em um obsceno encobrimento o New York Times, por exemplo, afirmou que
"a alegação de Putin em torno da ameaça imediata para os ucranianos
russos está vazia", enquanto o britânico The Guardian descarta a
ameaça como uma "fantasia", afirmando que os eventos na Criméia foram
uma tentativa de "impedir ataques por grupos fascistas revolucionários",
acrescentando que "a mídia do mundo ainda não viu ou ouviu falar de
tais forças”.
A realidade é que, pela primeira vez desde 1945, um partido
pró-nazista declaradamente antissemita, controla postos chaves
fundamentais do poder do Estado em uma capital europeia, sob a chancela
dos EUA e o imperialismo o europeu. O não eleito governo ucraniano,
liderado por Arseniy Yatsenyuk, pelo nomeado pelos EUA, inclui nada
menos que seis ministros do partido fascista Svoboda.
Menos de um ano atrás, o Congresso Judaico Mundial pediu que o
Svoboda fosse banido, mas o fundador do partido e líder Oleh Tyahnybok,
que falou repetidamente de sua determinação de esmagar a "máfia
russo-judaico que controla a Ucrânia", foi homenageado por autoridades
dos Estados Unidos e da União Europeia quando preparavam golpe do mês
passado.
A despeito de John Demjanjuk ser o cúmplice no assassinato de cerca
de 30 mil pessoas no campo de concentração nazista de Sobibor, Tyahnybok
o chamou de herói em 2010. Yuriy Mykhalchyshyn, o vice de Tyahnybok,
fundou Centro de Pesquisa Política para produzir e difundir
conhecimentos e estratégias sobre assuntos vitais de ordem política,
econômica ou científica que foi batizado de Joseph Goebbels.
O Svoboda foi a principal força política nos protestos da praça
Maidan que derrubou o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich. Em troca
do fornecimento de tropas de choque para o golpe, o Svoboda ganhou o
controle dos principais ministérios da Ucrânia.
O cofundador do Svoboda Andriy Parubiy atuou como "comandante de
segurança" nos protestos, dirigindo ataques pelo Setor Direito- que é
uma aliança de fascistas e radicais nacionalistas de direita, incluindo
os paramilitares da Ukrainian National Assembly-Ukrainian National Self
Defense (UNA-UNSO). Vestidos com uniformes inspirados na Waffen SS de
Hitler, os seus membros se orgulham de terem combatido na Rússia, na
Chechênia, Geórgia e Afeganistão.
Parubiy é agora o secretário da Segurança Nacional e Conselho de
Defesa, supervisionando o Ministério da Defesa e as Forças Armadas.
Dmytro Yarosh, líder do Setor Direito, é o seu vice.
O vice-primeiro-ministro Oleksandr Sych é outra figura de destaque do
Svoboda, como são Oleh Makhnitsky (Procurador Geral), Serhiy Kvit
(Ministro da Educação), Andriy Makhnyk (Ministro da Ecologia) e Ihor
Shvaiko (Ministro da Agricultura).
Outras autoridades supostamente ligadas a UNA-UNSO são Dmytro Bulatov
(Ministro da Juventude e Desportos) e a ‘jornalista ativista’ Tetyana
Chernovol, que foi nomeada presidente da Comissão Anticorrupção do
Governo.
O grande herói do Svoboda e da UNA-UNSO é o colaborador nazista
Stepan Bandera, o líder do Exército Insurgente Ucraniano (OUN), que
ajudou os nazistas nos horríveis massacres da população judaica na
segunda guerra mundial.
Em 2010, o fórum oficial do Svoboda postou uma declaração: "Para
criar uma Ucrânia verdadeiramente ucraniana nas cidades do Leste e do
Sul, teremos de cancelar o parlamentarismo, proibir todos os partidos
políticos, nacionalizar a indústria como um todo e todos os meios de
comunicação, proibir a importação de qualquer literatura da Rússia para a
Ucrânia ... substituir completamente os líderes do serviço público, da
gestão da educação, militar (especialmente no Leste), liquidar
fisicamente todos os intelectuais e todos os ucranofóbicos de língua
russa (rápido, um tiro sem julgamento - registrando ucranofóbicos de
pode ser apontado aqui por qualquer membro do Svoboda) e executar todos
os membros dos partidos políticos antiucranianos ..."
Um dos primeiros atos do novo governo foi abolir os direitos das
minorias para quem fala a língua russa. Medidas também estão em
andamento para derrubar a lei que proíbe "desculpar os crimes do
fascismo".
Nos últimos dias, representantes do Setor Direito estavam ocupados
atacando judeus, cristãos ortodoxos russos e outras figuras legais. Dois
vídeos do YouTube mostram um dos líderes do Setor Direito, Aleksandr
Muzychko, descrevendo o seu credo e como lutar contra "comunistas,
judeus e russos enquanto o sangue corre em minhas veias", atacando,
fisicamente, um procurador regional em Rovno e e ameaçando os membros
do parlamento regional de Rovno com a exibição de uma arma que ele
brandia - uma Kalashnikov - exigindo: "Quem quer tirar-me a
metralhadora? Quem quer tirar a minha arma? Quem quer tirar as minhas
facas? Atrevam-se vocês!"
Os EUA e a burguesia europeia, juntamente com os seus lacaios da mídia, estão bem ciente desses fatos.
Suas tentativas de retratar a extrema direita como uma minoria
marginalizada que surgiu da noite para o dia são igualmente falsas.
Existem inúmeros documentos acadêmicos que detalham o papel e a
importância da extrema-direita na Ucrânia que remontam décadas. Eles
também ilustram como, após o ressurgimento, na sequência da dissolução
da União Soviética e da restauração do capitalismo, a extrema-direita
ganhou proeminência e a sua ascendência foi preparada ideologicamente ao
longo de muitos anos. A ascensão da extrema direita acelerou
acentuadamente após a "Revolução Laranja", orquestrada pelo Ocidente em
2004.
Per Anders Rudling (Antissemitismo organizado na Ucrânia
contemporânea: Estrutura, Influência e Ideologia , 2006), cita o papel
crítico desempenhado pela Academia Inter-Regional de Recursos Humanos
(MAUP), uma universidade privada fundada em 1989 que "opera uma bem
conectada rede política que atinge o topo da sociedade ucraniana”.
Em 2008, o Departamento de Estado dos EUA listou a MAUP como "uma das
instituições antissemitas mais persistentes na Europa Oriental".
Rudling afirma que a MAUP tem "educado funcionários do governo,
diplomatas e administradores mais do que qualquer outra universidade" na
Ucrânia.
A especialidade da MAUP é produzir propaganda de extrema-direita
disfarçada de pesquisa acadêmica retratando o bolchevismo e a Revolução
de Outubro como as criações do "judaísmo internacional". Nesta base, ela
afirma que os crimes da ditadura stalinista contra os povos da Ucrânia
eram parte da mesma "conspiração judaica".
Em junho de 2005, os participantes na Conferência Ampla do Quarto
Mundo organizado pela MAUP incluiu David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan,
e o embaixador e ex-nacionalista da extrema ucraniana para o Canadá,
Levko Lukianenko.
Lukianenko apresentou um documento argumentando que a fome de
1932-1933, em que milhões de ucranianos morreram, foi obra de um
satânico governo judaico. Os delegados na conferência clamaram pela
deportação de todos os judeus da Ucrânia.
Na época, Lukianenko era aliado de duas principais figuras da
Revolução Laranja, Viktor Yushchenko e Yulia Tymoshenko. Os dois foram
apoiados por Washington e potências europeias, como parte de uma
campanha para conquistar a presidência da Ucrânia contra o pró-russo
Viktor Yanukovych, deposto durante os protestos da praça Maidan.
Em janeiro de 2005, Yushchenko substituiu Yanukovich como presidente
da Ucrânia. Ele ocupava, no momento, o Conselho de Administração da
MAUP. Lukianenko fazia parte do bloco político de Tymoshenko. Apenas
algumas semanas antes da conferência da MAUP, em Junho de 2005,
Yushchenko declarou que Lukianenko é um "Herói da Ucrânia".
No final de 2005, a MAUP realizou uma conferência sob o título "Os
Judeus: Revolução Bolchevique de 1917, a Fonte do Terrorismo Vermelho e a
Fome da Ucrânia." Não é por nada não que nota Per Anders Rudling: "Na
esteira da Revolução Laranja, a Ucrânia tem testemunhado um crescimento
substancial no antissemitismo organizado."
Tão grande era o cheiro da reação fascista que, em julho do mesmo
ano, acadêmicos ucranianos lançaram um apelo para os líderes da
Revolução Laranja se dissociassem da "postura xenófoba" da MAUP.
"Gostaríamos de pedir aos altos funcionários do governo que avaliassem o
custo destas campanhas antissemitas em larga escala que estão sendo
travadas. Temos nós uma ‘quinta coluna’ que deseja trazer conflitos
étnicos e políticas estrangeiras em nosso território?"
O objetivo desta ‘quinta coluna’ era envenenar o clima ideológico
para promover uma reação, sob o patrocínio de oligarcas que aspiram
disputar o controle dos recursos da Ucrânia, pressionados por potências
imperialistas para seguir a frente com os seus planos para dominar a
Ucrânia, a fim de isolar e, finalmente, colonizar a Rússia.
Este é o registro real das forças reacionárias que são cúmplices das
potências imperialistas na tomada Ucrânia, e em nome de quem eles estão
dispostos a mergulhar a Europa e, de fato, o mundo inteiro, em uma,
eventual, Terceira Guerra Mundial.
***
O fascismo é caracterizado por uma reação contra o movimento
democrático que surgiu graças à Revolução Francesa, assim como pela
furiosa oposição às concepções liberais e socialistas.
Apesar de muitas vezes serem vistos como sinônimos, o fascismo e
nazismo têm diferenças. O nazismo é frequentemente contemplado como uma
forma de fascismo, mas o movimento nazista identificou uma raça superior
(raça ariana), e tentou eliminar outras raças, para criar a
prosperidade para o Estado.
A semelhança entre estes dois regimes é que obtiveram grande
popularidade entre os elementos da classe operária, porque criavam
medidas de apoio para eles; medidas que, várias vezes, não se
concretizavam.
Blog do Luis Nassif
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