28/04/2014
Autor: Mauro Santayana
(Hoje em Dia) - Até pouco tempo atrás se acreditava que o xadrez surgiu na
Índia, mas novas evidências indicam que foi inventado possivelmente na China,
no século III antes de Cristo.
Os russos gostam de xadrez, e a ida do ministro das Relações
Exteriores, Serguei Lavrov, a Pequim, onde se encontrou com seu colega chinês,
Wang Yang, e com o próprio Presidente Xi Jinping, em momento decisivo para a
questão ucraniana, equivale a atravessar com um peão o tabuleiro e transformá-lo
em uma segunda rainha.
Na Ucrânia, a OTAN e os EUA cometeram vários erros:
– Derrubaram – ou
ajudaram a derrubar – um governo eleito, que, com todos seus defeitos, mantinha
o país unido e funcionando.
– Subestimaram a reação russa, acreditando que Moscou
permitiria passivamente que Kiev se transformasse em um novo enclave da OTAN em
suas fronteiras, e que se jogasse no lixo os acordos assinados quando da saída
do país da URSS, no final dos anos 1980.
– Não se prepararam para oferecer – até porque não têm
condições para isso – apoio financeiro para manter em pé um país que deve quase
200 bilhões de euros.
– Não conseguiram estabelecer qualquer alternativa viável
para substituir o gás russo do qual os ucranianos dependem como sangue para continuar vivendo.
– Acharam que a população ucraniana era, em sua maioria,
contra a Rússia, quando, na verdade, o país tem milhões de habitantes que falam
russo, descendem de antepassados russos, vivem em cidades “russas”, e não
aceitam ser governados por neonazistas, estes sim, uma minoria virulentamente
anti-russa e anti-comunista, o que não é apenas ridículo, como anacrônico, quando
se considera que o governo Putin não é, nem nunca foi, um governo comunista.
– Subestimaram a posição da Alemanha, achando que ela iria comprar
briga com Moscou, quando depende fortemente do mercado russo para suas
exportações, e do gás russo para manter em funcionamento sua economia.
A soma de todos esses equívocos explica porque, enquanto a OTAN
e os EUA continuam sendo atropelados
pelos acontecimentos, Putin segue avançando, a cada movimento, fortalecendo-se
e estreitando seus laços com outros países, e especialmente com a China.
Ao enviar Lavrov a
Pequim antes das reuniões com a UE, EUA e Ucrânia e advertir que
qualquer ataque ucraniano aos civis pró-russos pode abortar as
negociações, Moscou deixa claro ao Ocidente que está longe de se sentir
isolada
diplomaticamente, e que conta com poderoso aliado, caso a situação se
complique.
Os chineses têm um ditado que não tem nada a ver com xadrez, mas que serve de alerta para gula da OTAN em sua expansão rumo às antigas repúblicas soviéticas e ao espaço euroasiático compartilhado por russos, chineses e indianos: “quando o rato cresce até ficar do tamanho do gato, já está passando da hora de empunhar a vassoura”.
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