Melhor: sobre a falta de limite.
Na Inglaterra, quando se soube que um tabloide de Murdoch invadira a caixa postal do celular de uma garotinha sequestrada (e morta) a questão dos limites irrompeu fulminantemente.
Jornais podem tudo? Em nome do quê? De vender mais exemplares e enriquecer seus donos, fingindo que existe interesse público em qualquer coisa?
Na mesma semana em que a opinião pública inglesa ergueu sua voz de repulsa e de condenação à invasão do celular, Murdoch se viu obrigado a simplesmente fechar o jornal, que era o mais velho da Inglaterra.
Pediu desculpas, procurou os pais da menina com um cheque milionário – e mesmo assim virou, a partir dali, um pária entre os ingleses, depois de ser por décadas uma espécie de Roberto Marinho.
Voltou às manchetes apenas recentemente, e isso porque sua mulher o traiu com Tony Blair, de quem num diário que vazou elogiou o corpo “lindo”.
A Folha invadiu a privacidade de Dirceu de uma forma abjeta como se isso fosse absolutamente normal.
Ou os Frias e seus editores são péssimos jornalistas, sem qualquer noção, ou há algo de errado no manual de conduta da imprensa brasileira em geral.
A segunda hipótese é a mais real.
A Veja tentou invadir, algum tempo, um quarto de hotel em que Dirceu – sempre ele – se alojava em Brasília. A revista fez seu repórter se passar por gatuno.
Mais recentemente, a mesma Veja invadiu a privacidade de Dirceu na cadeia com fotos tiradas em condições ilegais e informações de escassa credibilidade.
Pode tudo?
Na Inglaterra, o caso da garotinha desencadeou imediatamente um debate sobre os limites da mídia.
Um juiz de ilibada reputação – não alguém como Gilmar, ou Fux, ou Barbosa – comandou um comitê destinado a rever o que a mídia pode e não pode fazer.
Uma das conclusões foi que a autorregulação fracassou. Fiscal (como a mídia alega ser) sem fiscalização acaba como contraventor.
Os britânicos estudam agora modelos de regulação que possam melhorar os padrões éticos da mídia. Como já escrevi aqui, a regulação dinamarquesa – sempre a Escandinávia – é uma referência nas modificações pelas quais seguramente passarão as regras para a imprensa no Reino Unido.
O Brasil vai ter que passar pelo mesmo, cedo ou tarde. As empresas de jornalismo defenderão seus interesses particulares (e muitas vezes escusos) contra os interesses da sociedade, mas em algum momento a opinião pública exigirá mudanças como aconteceu na Inglaterra.
O caso da Folha é particularmente ilustrativo. Tantos anos de ombudsman e não conseguiu ter uma ideia básica de ética que vede publicar um vídeo como o que mostra Dirceu na cadeia?
Há uma discussão adjacente aí.
O suspeito – suspeitíssimo – de ter passado o vídeo à Folha milita no PPS de Roberto Freire. Ele, o suspeito, é casado com uma apresentadora da CBN, Roseann Kennedy.
Não é o primeiro militante do PPS que aparece vinculado, indiretamente, ao jornalismo. Uma jornalista do Estadão que se notabilizou nos últimos tempos por ataques a Dirceu, Andreza Matais, é também casada com um militante do PPS.
Isso quer dizer que o PPS aparelhou a mídia.
Pior: a mídia gostou de ser aparelhada – ela que tanto fala no aparelhamento do PT.
Um dia, e o DCM batalhará para que isso seja quanto antes, a conduta da imprensa nestes nossos dias será vista com uma mistura de repulsa e surpresa, repulsa por razões óbvias, surpresa porque as pessoas se perguntarão como tanta canalhice pôde ser tolerada.
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